quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

FILOSOFIA




Vida curta
curta a vida

visão
       dis
            tor
                     cida...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

TEU AMOR PERDEU O LUME


Escultura de Clara Fernandes




Teu amor
perdeu
o lume

e foi derrotado
pelo caos
do ciume...

Teu amor
é torto
e esquisito

já não me fascina
entrar
nesse labirinto.

Você se perdeu
na hora de montar
o quebra-cabeças
dos pensamentos

já vai tarde demais
pra se libertar
dos meus sentimentos. 

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011





O tempo para deixar
a roupa suja de molho
e fazer o acerto de contas
pode ser a conta-gotas
ou pode ser num segundo...

Vamos ser
como a roupa
que seca no varal
suave ao vento
logo logo fica leve
e se livra dos ressentimentos...


Deixemos evaporar
nossos medos
que sejam nuvens
a povoar oceanos
e que levem consigo
toda a ganância...

Vamos inventar o dia
de um jeito alegre
e sempre que possível
com esperança!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

COM QUE ROUPA EU VOU...

Depois de revirar no balaio as experiências 
que juntei durante o ano
constatei que pensei mais 
com o estômago
pensei mais com o bolso
pensei mais com os outros
pensei mais com as manchetes de jornais.

Suo frio a cada campanha na TV,
desde educação para o trânsito
até os "preserve!", "respeite!", "não maltrate!"...

E ao imaginar uma arte
meu superego se inflama
e põe pra trabalhar
meu sentimento de culpa.

Não sei se devo levar a sério
as notícias de catástrofes
ou se devo permanecer indiferente
e me recolher no mundo da literatura...
Enquanto isso a TV 
superdimensiona os fatos
para ter mais IBOPE 
e me entope com propaganda 
de comida industrializada
cerveja e refrigerante...

Tantos ângulos, recortes, 
efeitos especiais e montagens
vestem meu caráter
e dizem qual deve ser
minha visão de mundo
e minha disposição 
pra encarar isso tudo...
Hoje eu não me pergunto:
"Onde estou?", "para onde vou?"
Vestido desse jeito
tenho até vergonha de perguntar:
"Com que roupa eu vou?"

sábado, 25 de dezembro de 2010

ELA CANSOU...

Ela cansou de tanto pensar.

Então, pra descansar a razão
e despertar os sentidos,
dei-lhe uma flor que roubei
de um desses jardins
de classe média.

Agora ela disse
que o amor apagou
a luz da razão
e fez moradia
na flor de sua pele...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que o vento não levou - Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha no dia do próprio vento...

do livro Acordo. Ed. Globo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

EU E AS PORTAS

Aguardo as férias
para me despedir das portas
e procurar algo novo.

busco oxigênio
para recuperar o tempo
e sugar a essência da vida.

Os homens têm pressa e não me ouvem
por isso eu converso com as portas.
Elas compreendem e não fico só.

As portas me deram as chaves
depois que ficamos amigos
num constante vaivém.

Enquanto as portas se abrem
sem medo do novo
as pessoas se prendem à rotina
pra ter mais segurança.

Ser poeta é perigoso
a mim e aos outros
ainda mais se recitar
em alto e bom som.

As portas pegaram gosto
das minhas histórias
- as pessoas, não.

domingo, 19 de dezembro de 2010

CEIA DE NATAL

Tropecei na perna
de uma mesa
ao ver aquela deusa
na ceia de natal

um vestido vermelho
despertou o apetite
do meu olhar

me apaixonei
sem perceber
que ela podera ser
modelo
de caderno de jornal...

Agora eu me pergunto
se fiquei cego
ou translúcido
se vi uma boneca
um anjo
ou se figurante
de carnaval...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

FEIRA

Na feira
ofertas 
amadurecem
pra todo lado
frutas enfeitadas 
pra estação
e compradores 
apressados...

Se uma feirante disser, no final:

"Gente que compra 
tem demais da conta,
o que falta são abraços!"

O que você diria para ela?

"Nada. Apenas lhe daria um abraço!"

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

INÊS - L. F. Verissimo

Ela tinha as unhas do pé
pintadas de dourado
- eu devia ter me flagrado.
Ela tinha uma flor-de-lis tatuada
nas costas apontando para o rego
- pra onde iria meu sossego?
Ela gostava de Camile Paglia
e de esportes radicais
- como eu não vi os sinais?
Agora é tarde, Inês está aí
eu é que morri.

Zero Hora, 16/12/2010. Da série "Poesia numa hora dessas?".

Gita - Raul Seixas










- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou:


Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.


Você pensa em mim toda hora.
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.


Eu sou a luz das estrelas;
Eu sou a cor do luar;
Eu sou as coisas da vida;
Eu sou o medo de amar.


Eu sou o medo do fraco;
A força da imaginação;




O blefe do jogador;
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...


Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!


Eu sou o seu sacrifício;
A placa de contra-mão;
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.


Eu sou a vela que acende;
Eu sou a luz que se apaga;
Eu sou a beira do abismo;
Eu sou o tudo e o nada.


Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!


Você me tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.


Das telhas eu sou o telhado;
A pesca do pescador;
A letra "A" tem meu nome;
Dos sonhos eu sou o amor.


Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco;
Sou raso, largo, profundo.


Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!


Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.


Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô;
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início
O fim e o meio.

Raul Seixas e Paulo Coelho

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...