terça-feira, 28 de outubro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
PESCARIA
Meu pai diz pra todo mundo que fui eu que fisguei, no rio Ijuí, e que ficamos mais de meia hora lutando com ela, até cansá-la e tirá-la da água. Quando meu pai fala da fotografia, minha mãe arruma uma desculpa qualquer pra sair de perto.
Meu pai adora pescar. Desde criança ele se aventura em açudes, córregos, rios. Já minha mãe, quando falamos em pescaria, lembra de árvores, mato, grama, e fica com alergia só de pensar nos borrachudos. Eu gosto de pescar, e acho que tem a ver com meu pai: ele me deu de presente, quando eu era bebê, um aquário, que permaneceu no meu quarto observando eu crescer e fazer as minhas traquinagens.
Lá em casa tem uma maleta com farto material de pesca. Na tampa, um adesivo, que aparece em muitos carros que circulam pela cidade: “Tá nervoso? Vá pescar!”. Na hora dos preparativos, meu pai fica agitado e desfia uma ladainha de recomendações – como se fosse acampar durante vários dias. Mas eu descobri o motivo dessa mania: é que ele foi escoteiro.
Nossa última pescaria foi no pesque-pague. Tinha prometido, para mim mesmo, que aprenderia - com toda a calma do mundo - a colorar a isca no anzol. É que, quando peço ajuda, ele fica contrariado. Se coloca as minhas iscas, sobra pouco tempo para se concentrar no seu anzol. O pior é que os peixes só estão beliscando no anzol dele. Não passa um minuto e peço para trocarmos de caniço. Mas os peixes, nada... Bastou meu pai se distrair, ao colocar a minhoca no seu anzol, e estou pescando no lugar dele...
-Pescador tem que ter paciência – ele diz.
Chegam novos pescadores. Uma família completa - irmãos, primos, tios - carregando toda a parafernália de pesca que se possa imaginar. Me distraio com a menina, loira, cabelos de tranças, e seu cachorro peludinho (que é uma gracinha). Seu irmão mais velho trouxe uma bola, que parece ter as cores do Boca Juniors.
Foi só despregar o olho do anzol, e uma enorme tilápia veterana levou a minhoca.
- pescador tem que ter paciência, prestar atenção nos detalhes e persistir – recomenda meu pai...
- Sabe de uma coisa, pai, perdi a vontade de pescar.
- Mas como? O que vamos jantar hoje, se não pescarmos nada?
Enquanto me aproximo deles, olho para trás e digo: “ah, pai, isso é o de menos. É só fazer como da outra vez”.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
LOTERIA
O jornal é uma lanterna
depois que a chuva
se despede da noite
e se embriaga
de neblina.
Notícias da morte
apontam pra outros
gestos e trazem lamentos
nos corredores de casa
e seus labirintos.
Becos sem saída
aglomeram-se
no semáforo da esquina:
são crianças pedindo esmola
são números da loteria.
Meu tio repassa o jornal
pra nunca mais
ser anônimo...
Seu alvo é
o acumulado
da quina
- ele quer virar
notícia!
Não vou perguntar
se a loteria é fundamental
para mudar os rumos
da história ou
se é um lance
da fortuna
de meu tio!
o jornal prevê as condições
climáticas e o mapa
astral desses
velhos mortais!
Amanhã provará sua serventia:
vai embalar pão e leite na padaria!
O jornal recicla a vida que,
dia após dia,
recicla a vida jornal!
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
JÁ NÃO SEI...
se o que me empurra
adiante
são meus cabelos,
queixo ou ombros
tamancos, pernas
ou ancas.
As pernas fraquejam, é certo,
cambaleiam no refluxo
de querer voltar atrás.
Não estou certa
se o que me arranca à frente
- em espiral –
é o sentimento de perda
deveres,
sussurram
meus tamancos!
terça-feira, 21 de outubro de 2008
TEMPORÃ
domingo, 19 de outubro de 2008
É PROIBIDO FUMAR
De todas as placas de proibido, a que eu não agüento mais ver é a de “é proibido fumar”. É que minha mãe fuma duas carteiras de cigarro por dia. Isso depois que o cardiologista prensou ela contra a parede, dizendo que, se ela continuar fumando desse jeito, vai virar um esqueleto ambulante.
Aquelas fotos horripilantes nas carteiras de cigarros, colocadas pra apavorar os que fumam, não me comovem mais.
Desenhei no caderno, dia desses, um esqueleto com cabeça de caveira, com um cigarro na boca. Mas não dei nome ao meu personagem.
Justamente naquele dia minha mãe me ajudou a fazer o tema de casa. Ela sempre elogia meus desenhos. Não dessa vez.
Todos os dias ela acorda no meio da noite e vai fumar na área de serviço. Basculante entreaberta, mão esticada pra fora, cigarro entre o “fura bolo” e o “pai de todos”, tragadas e mais tragadas.
Não estou mais ligando pra essa história de que o cigarro faz mal pra saúde, embora minha tia não agüente mais levar minha mãe ao pronto-socorro, pra baixar sua pressão, que de vez em quando fica a mil.
Ontem acordei e fui ao banheiro. A cena me marcou: minha mãe fumava, escorada na janela. Deu uma tragada profunda, e um clarão iluminou seu rosto.
Era a caveira que eu tinha desenhado no caderno.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
POMBA SURFISTA
terça-feira, 14 de outubro de 2008
MOSTRA LITERÁRIA E PEDAGÓGICA
Na abertura da mostra, dia 07/10, às oito horas da manhã, o professor e escritor Américo Piovesan proferiu palestra tematizando o tema MOTIVAÇÃO PARA A LEITURA. ...
A seguir, na biblioteca da escola, todas as turmas, de terceira série até a sexta série, participaram de oficina com o escritor Américo e com o músico Guerrinha. Houve a declamação de poemas, contação de histórias e muita música. Foram mais de 450 alunos interagindo e vendo o quanto a leitura e a escrita (poético-literária) fazem parte de seu dia-a-dia. Aproveitamos para agradecer à direção, coordenações e professores pela oportunidade. Ano que vem haverá muito mais!
NÓS
No lance decisivo, na hora de evitar o gol, ou no contra-ataque, ao tentar fazer um gol de letra, o cadarço da chuteira se solta, e passamos batidos. Resta lamentar e, da próxima vez, sem distração, mudar o jeito de fazer o nó.
Os cadarços precisam estar bem amarrados, a cara não. Amarremos casas, instrumentos, ferramentas, e liberemos os sentimentos. Mas quantos fazem confusão, e invertem a ordem!
As obras concretas precisam de liga, de ferro, para não serem levadas pelo vento. As amizades precisam de laços para nos aproximar uns dos outros.
Existem nós que nos prendem aos outros que precisam ser desamarrados. São fraquezas, medos, timidez. Não, não somos uma ilha, pertencemos a uma teia de relações. Cabe refletir sobre a liberdade de ir e vir em meio a essa teia.
O amor não deve amarrar a paixão. Nossas vidas, sem paixão, não têm combustão, não têm arranque, como carro velho com bateria pifada. Amor convencionado é como sapato apertado, e os calos doem cada vez mais. Quando voltamos para casa, a primeira coisa que fazemos é tirar os sapatos e as meias, e colocamos os pés sobre a cadeira.
Pena que o alívio e o prazer ficam entre quatro paredes.
Amor que se satisfaz com as regras tem medo da paixão, é gravata que usamos de vez em quando, e nos sufoca porque não estamos habituados.
Afrodite, deusa do amor, livrai-nos das amarras sociais, que nos fazem desfilar o amor e a paixão numa ordem unida, para um futuro pré-determinado que não escolhemos.
sábado, 11 de outubro de 2008
Sonhe alto
Apressado, entrei num banheiro químico junto à praça e aos bares e levei um susto: quem me encarava, de lá debaixo, era o abismo...
-
Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
-
Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...