segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

VOVÔ FUGIU DE CASA

Sugestão de leitura

Livro VOVÔ FUGIU DE CASA, de Sérgio Caparelli, é muito legal!



Quando eu chegava, vovô já estava sentado no degrau da escada, fumando cachimbo. Sempre quieto, sempre sozinho, sempre olhando as coisas de um jeito esquisito. Nos dias em que estava mais alegre, fazia coisas maravilhosas com a fumaça. Soltava-a devagarinho, formando círculos que aos poucos se perdiam no ar. Ou então cavalinhos, gatos, tartarugas. Não gostava de fazer elefantes porque tinha de entortar a boca.
Nunca falava comigo, o vovô. Nem com ninguém. Principalmente se estava triste. Então de seu cachimbo saíam tristes navios. Desapareciam logo, navegando ao vento. Eu ficava desolado. Pondo as duas mãos no rosto, exclamava: “Ah, vovô, acabou!”. Ele tirava o cachimbo da boca e soprava mais um ou dois, dos grandes. Só para me agradar.
Ficava quieto horas a fio. Uns diziam que estava pensando nas montanhas de sua Itália, onde a uva plantada nas encostas espalha pelos vales um cheiro de vinho e de festa. Outros achavam que estava apenas fumando seu cachimbo e nada mais. Porém concordavam num ponto: estava caduco e esclerosado. Caduco eu sabia o que era. Esclerosado meu pai me explicou. Era uma doença que dá nas pessoas mais velhas, em que o sangue está cansado e não consegue irrigar o cérebro direito. A pessoa torna-se esquecida e cheia de manias.
Acho que as manias do vovô eram contagiosas. Perto dele eu não gostava de fazer barulho, de pular ou de correr...

DANÇA DA COCEIRA


Escrito por Teco, o poeta sonhador

Se você quer coçar
e não coça
é porque a coceira
é nas costas.
Você tenta tenta
e não alcança
e em vez de cocegar
você dança!

Onde será que você gosta
de fazer as tuas cócegas?

Você escolhe chulé
ou cocegar a sola do pé?

Você escolhe lombriga
ou cocegar a tua barriga?

Você escolhe injeção na veia
ou cocegar a tua orelha?

Você escolhe dor de ouvido,
ou cocegar o teu umbigo?

Se você tem cócegas
não pode
espirrar,
caçar tatu
nem arrotar,
mas de tudo tudo
o que você menos gosta
é de coceira nas costas,
você coça coça
e não alcança
e em vez de cocegar
você dança!

(Adivinhem qual a palavra que o Teco inventou?)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O CACHORRO, de Mário Quintana


O CACHORRO

Mário Quintana,



Do quarto próximo, chega a voz irritada da arrumadeira:

- Meu Deus! A gente mal estende a cama e já vem
esse cachorro deitar em cima! Salta daí pra fora!

E Lili, muito formalizada:

- Finoca! O cachorro tem nome!

MELODIAS PRA NÃO DORMIR


Escrito por Teco, o poeta Sonhador

Laura não consegue dormir.
Seu ouvido acompanha
a melodia da goteira
na janela.
Ela quer saber
se o som é de latinha
ou de papelão.

- E se for o sino da capela?
Nem pensar, hoje não é dia
de procissão!

***
Ricardo não tira da cabeça
um bicho que nunca
antes tinha visto.
Tem pernas compridas
e se chama saracura.
Seu pai explicou
que as saracuras
moram nos banhados,
e quando cantam,
no nascer do dia,
é porque estão avisando
que vai chover.

Ricardo não pensa na chuva,
pensa nas pernas
finas e compridas
que desfilam no banhado...

- Mas que bicho engraçado! .

domingo, 3 de fevereiro de 2008

VACA AMARELA



Sérgio caparelli, do livro BOI DA CARA PRETA.


Vaca amarela
fez cocô na panela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem falar primeiro
comeu o cocô dela.

Vaca amarela,
sutiã de flanela,
cabrito coseu, coseu
quem se mexer primeiro
pôs o sutiã dela.

Vaca amarela
fez xixi na gamela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem rir primeiro
bebeu o xixi dela.

Vaca amarela
cuspiu da janela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem piscar primeiro
lambeu o cuspe dela.

ESSA NÃO!



Mário Quintana, do livro Lili inventa o mundo.


Lili teve conhecimento dos antípodas, na escola.
Logo que chegou em casa, começou a deitar sabença pra
cima da cozinheira. Falou, falou, e, como visse que Sia
Hortência não estava manjando nada, ergueu no ar o dedinho explicativo:
- Imagine só que quando aqui é meio-dia lá na
China é meia-noite!
- Credo! Eu é que não morava numa terra assim...
- Mas por que, Sia Hortência?
- Uma terra onde o dia é de noite... Cruzes!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

“Charadas do País das Maravilhas”

Poema de Lewis Carroll


Do livro “RIMAS DO PAÍS DAS MARAVILHAS”


Achei uma vara: dois quilos pesava.
Um dia resolvi serrá-la
em oito pedaços com o mesmo peso.
Quanto pesava cada mesmo?
(“Duzentos e cinqüenta gramas!” Engano!)

Manhã: três irmãs dão de comer ao gato.
Uma: “Quer atum?” – O gato lambe o prato.
Outra: “Quer sardinha?” – Ele come, feliz.
Outra: “Quer robalo?” – Ele torce o nariz.
(explique a conduta do gato.)

Solução das charadas

Perde parte do sangue e diminui o peso
a carne cortada até o osso.
A perda da serragem faz que pese menos
uma vara serrada em oito.

Um gato gostar de atum e de sardinha
é óbvio, não há por que explicá-lo.
Se com a terceira oferta se abespinha
o bichano, é porque, sendo honesto, tinha
de ganhar seu peixe, não roubá-lo.

BOBINHO



Estou no meio da roda
e o suor escorre
pela testa.

O que desconsola
é que os outros
são bons de bola.

Ameaço que vou
mas não vou
e a bola passa
uma vez aqui,
outra vez ali,
bem longe
de onde estou.

Riem de mim
porque sou
“bobinho”
que demora
pra escapulir...

Confio no meu taco
e quando alguém descuida
dou o bote da cruzeira
negaceio as cadeiras
tal qual um capoeirista...

Então roubo a bola...

Não, não, não...
Não sou ladrão,
sou artista!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A BARATA E A FORMIGA





A BARATA

Ricardo Silvestrin

A barata
é barata,
mas ninguém
quer comprar.
Isso é um fato.

Quando aparece
ninguém diz
“que barato!”
Ao contrário
gritam “mata, mata!”.
É um caso raro.
Ser barata
sai caro.


A FORMIGA

Qual
a forma
da formiga?
Pense
comigo:
se seguem
sempre juntas,
deve ser
forma
de amiga.

CANTIGA PARA NÃO MORRER

CANTIGA PARA NÃO MORRER
Ferreira Gullar

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

CAMPEONATO


Manoel de Barros

do livro "Fazedores do amanhecer".


Nos jardins da Praça da Matriz, os meninos
urinavam socialmente.
A gente fazia campeonato pra ver quem
mandava urina mais longe.
O menino que mandasse mais longe era
campeão.
Mas não havia taça nem medalha.
Umas gurias iam ver por trás dos muros
a competição.
Acho que elas tinham alguma curiosidade
ou inveja porque não podiam participar
do campeonato.
Os meninos ficavam sérios como se estivessem
defendendo a pátria naquele momento.
As meninas cochichavam entre elas e
corriam de lá pra cá, rindo.
O campeonato só era diferente da Fórmula Um
porque a gente não tinha patrocinadores.

Poetinhas, contenham-se!

  Não caminhava sozinho, estava rodeado de uma legião de capetas, rindo, zombando. Vestiam branco e jogavam pro alto seus cantos vindo...