terça-feira, 24 de junho de 2025

Um tubarão no cinema


O mundo é um grande bufê de sushi,
todos se oferecendo em fatias finas
com molho de soja,
pose de coach
e uma bio dizendo "alma livre".
Olhos famintos, bíceps malhados
e dentes tão brancos que ofuscam a verdade.
Um cardume de tubarões vorazes,
mas com ansiedade generalizada
e medo de ligação por áudio.
Cansei dessa passarela de sorrisos plastificados.
Cansei do baile de filtros,
do feed com citações erradas de Clarice Lispector.
Se eu me deparar com mais uma foto tua com a legenda “gratidão”,
juro que viro monge ou motorista de aplicativo.
Um dia sonhei contigo
na cadeira do dentista,
boca escancarada, olhos revirando
e dizendo “eu te amo, baby, não me abandona!”,
enquanto um monstrinho perfurava teu canal
com sadismo clínico.
Acordei sorrindo. Fui à praia.
O mar me mostrou um tubarão de verdade,
e por um segundo pensei:
“Melhor ser devorado por ele
do que responder teu último áudio
com 3 minutos de drama e um ‘kkk’ no final”.
Então, garota, escuta só:
teus segredos são teu único patrimônio.
Não os jogue no Instagram como quem dá milho aos pombos.
Não transforme teus traumas em stories com música do Coldplay.
Não duvide:
até o Bukowski bloquearia tua vibe se visse
tua última dancinha no TikTok.

(B. B. Palermo)

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