Estava na segunda ceva
e não me vinha qualquer epifania.
Cenas comuns desfilavam diante dos olhos,
ninguém caminhando pelado entre os carros,
no sinal fechado.
Tudo bem, a noite apenas estava chegando.
Nos carros limpos, brilhosos,
havia muita gente com olhar sem graça
de quem já viu o suficiente,
de que sabe e acredita
mais do que o suficiente.
Os loucos estão sumidos,
me esforço mas não consigo enlouquecer,
talvez fingisse, mas não tenho culhões
para tanto.
O ideal seria voltar ao tempo dos 20 e poucos
e duplicar as cagadas com absoluta convicção.
O ideal seria andar pelado na avenida
em pleno meio dia,
e não às 3 da manhã,
como fiz nos tempos de garoto.
Observo o jovem vendendo abacaxis na esquina
e me convenço de que ele não teve tanta sorte,
se comparada à minha.
Seus dias talvez não sejam inspirados,
já que a luta pelo ganha-pão
suga o tempo da poesia.
mas isso é muito relativo,
e eu fico mais morto do que louco
se não tenho a presença
de uma simples
epifania.
(B. B. Palermo)
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