Já não me causa estranheza
ouvir algumas pessoas dizerem
que todo dia pensam em se matar.
Quanto mais livros dos grandes elas leem,
quanto mais ampliam sua consciência das coisas da vida,
menos sentido encontram na porra toda.
O poeta quer fugir desses chatos que tudo questionam
e quer encontrar a energia inspiradora
em meio às pessoas comuns,
aos cães e gatos sarnentos,
aos subnutridos e desdentados
que farejam comida e sexo nos porões.
Vai, Cadelão, afasta-te desses intelectuais tristes
que têm enorme prazer em ser deprimidos.
Não é uma questão de ter um comportamento burguês
ou viver apertado.
Não é uma questão de ter ou não ter casas,
carros, apartamentos em praias.
É algo mais profundo que, de tão
profundo,
chega a ser raso, e rende muita grana
a psicólogos e psiquiatras.
A coisa é divertida,
e tudo desemboca nuns porres
e comprimidos para dormir.
No outro dia a mente volta a martelar
como betoneira potente alimentando
alicerces
e paredes do edifício que sobe.
A mente envia sinais e essas pobres
criaturas
assumem de vez o caos, dizendo que todo dia
pensam em partir dessa, mas eu sei
que são covardes demais para tal.
Há um outro suicídio, mais lento,
das criaturas que mergulham nas águas
turvas
de sua rasa consciência,
que funcionam como barreiras para
evitar
se preocupar com o sentido de suas
pobres vidinhas.
Há, sim, um suicídio mais lento,
uma mistura de prazer e sofrimento,
um sentir-se bem dentro da prisão.
Ele se resume em diariamente injetar Etanol
nas veias.
Um brinde aos que desafiam a vida com
fartas doses,
que correm atrás de Dona Morte com sua
sede,
manifestando ao mesmo tempo
um puta medo de morrer!
(B. B. Palermo)
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