quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Maradona morreu e aqui em casa faltou água

 

A vida é injusta,

a vida é ingrata,

provoca e desafia,

vem abaixo o que estava em alta,

basta estar vivo para morrer

- e ressuscitar num clichê -

a formiga sempre sonhou ser cigarra.

Inseto ou sapiens,

eu não quero morrer

antes de chegar aos 100 anos.

Tudo desmoronou,

aqui em casa faltou água

e Diego ficou sem o pó.

Foi-se a luz, foi-se a vida,

enquanto as drogas que movem o mundo

circulam por aí.

Preciso de um banho,

preciso fazer a barba,

preciso dar um brilho

nos meus dentes encardidos,

preciso de um grande amor.

Pra aliviar o peso sobre os ombros,

Diego pedia outra dose,

imagino como isso funcionava.

Nos lugares de gente rica,

as drogas ilícitas

e a prostituição são a regra,

sujeitinhos escrotos lambem as bolas

de gente famosa,

a putaria desfila em caminhões de dólares.

O que importa é que desejamos continuar vivos,

saudáveis e famintos por mais um teco.

Eu sofro não porque chamam Diego

de mito ou Deus

agora que está morto,

sofro porque faltou água

bem quando desejei

outro banho

pra me libertar dessa urucubaca,

mandando pro ralo a verdade melancólica

de que um dia

 

também vou morrer.

 

(B. B. Palermo & Cassio Kinn)

 


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