- Por que tu está assim encolhido e
paralisado, e bebendo todas, Cadelão?
- Meu, tô apavorado com o circo de
horrores da política nacional. Diz aí, o que podemos fazer, além de assistirmos
a essa novela podre pela TV em horário nobre?
- Esquece a política, meu brother. Faça
literatura. Aí tu vai relaxar e vai se sentir bem.
- Bah, lembrei do que disse o filósofo
Wittgenstein: "Ao filosofar devemos mergulhar no caos arcaico e lá nos
sentirmos bem".
- Hum... Que eu saiba, Wittgenstein se
refere à filosofia. Tu faz literatura... Talvez um pouco de poesia.
- Sim. É isso. Mas tô fazendo um
sobrevoo (rasante ou raso?) da filosofia pra poesia. Até porque toda a
filosofia do cara girou em torno da análise de como a linguagem funciona.
Filosofar e poetar lidam com as palavras.
- Tá. Mas e a vida como ela é, por
exemplo as merdas surreais que rolam em Brasília? Me destrincha essa linguagem,
nobre pensador.
- Hum... Isso vai passar. A maneira
como funciona o discurso do poder político, aí são outros horrores. Eu prefiro
escutar o poeta Quintana, que disse, mesmo em outros contextos: "Todos esses
que aí estão, / atravancando meu caminho, / eles passarão... / Eu passarinho!".
Isso tudo vai passar... Hoje é um frankenstein fake bamboleando no poder feito
um boneco biruta, com seu discurso louco, amanhã poderá ser um populista
sanguinário. É o que parte desse povo fodido quer. Dá uma olhada pra nossa
história.
- Hum...
- Há muita vida acontecendo, para além
dos conflitos políticos. E, no mais, há milhões de "PENSADORES",
gritando e tentando ser ouvidos em meio a um caos, num fogo cruzado apavorante.
Eu prefiro ser um SENTIDOR... É nesse caos que me sinto bem.
- Que tal... Aqui está, nobre plateia, o Cadelão se masturbando com as palavras...
poetando.
- Hehe... Um brinde, Beiço... Um brinde a
essa tua incrível fase monogâmica!
- Vai tomar no cu, cretino!
(B. B. Palermo)
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