Desejo a selfie perfeita, a imagem divina que vai agitar
o seu mundo.
Não sei em que lugar gatas exibem seus aparelhos, se
estão na balada ou no jardim da praça.
Quero ser capturado por aqueles dedos e sentimentos
ágeis.
Quero ter para mim seu tempo sagrado.
Quero amansar sua obsessão pelas fofocas das redes
sociais.
Minha performance nesse palco precisa abrir as
cortinas de suas varandas.
Mas, confortavelmente sentadas, elas passeiam por
outras nuvens virtuais.
Perco meu tempo. Desperdiço minha energia com a
imagem que quero mostrar para os outros. Outros fazem o mesmo. Todos fazem o
mesmo cálculo, todos decoram a mesma canção.
Admitamos. Vivemos um desfile de egos. E ninguém
liga para ninguém. Pelo menos até aqueles dias de insônia que amanhecem sombrios.
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