Todo
mundo vive de pão e de circo.
Todos
têm razão com seus belos motivos.
Pobre
de mim, perdi dois amigos
num dia épico de overdose.
Era
falta de pão e muita cirrose.
Menos
eu, todos são príncipes - dizia o poeta.
Devoro
Pessoa, com se fosse profeta.
Pensava perguntar, do
alto do prédio, como faz o suicida:
Por
que insistir em viver?
Suicidar-se
significa enganar a morte, que dizem ter dia e hora marcada para nos visitar?
Hoje em dia, perguntas
assim não emocionam ninguém.
Muita gente só quer ser
curtida no facebook. Virar celebridade. Abrir as janelas da privacidade,
escancarar-se para o mundo. Fazer sua dança, apresentar seu número. Mostrar a
mais nova tatuagem, as fotos do casamento, as alianças do noivado, a aquisição
do carro.
Inclusive o suicida, a
maioria implora pra ser notada.
Saídas de emergência.
Gritos desesperados: Olhem, estou aqui!
Apenas o eco, solidário,
responde. Nossos gritos são garrafas jogadas em alto mar.
Quanto mais esperneamos
para chamar a atenção, os outros dão a mínima para isso. Boiamos no mar confuso
da solidão. Subimos e descemos ao sabor da maré do desamparo.
Privacidade jogada aos
leões.
Cada um por si,
maquiando as tatuagens ao redor do umbigo. Se preciso for, com muita dor. Mas dói
muito mais se ninguém liga pra isso. Compartilhamos (virtualmente, claro) o
bolo da mamãe. Os primeiros passos do filho. Os sentimentos e a inteligência de
nosso cão. O início e o fim da festa. O aniversário. A viagem. A formatura.
Tem prazer maior do que
as curtidas que visualizamos depois, em nossa página?
Tem sofrimento maior do
que a indiferença para com nosso post, inteligente, original, criativo?
Somos e não somos o
centro do mundo. Depende do tamanho de nossa ilusão. Somos e não somos o início
e o fim de tudo. Depende da imaginação. O problema são os outros. Boa parte de
mim resulta do que me fizeram. Nasci livre, mas me deixaram prisioneiro. Mas eu
o permiti. Agora, ao reclamar, não passo de eco.
Teses e teses. Meras pretensões
de verdade. E a verdade lá fora, disfarçada de qualquer coisa, ri da nossa
cara, e se afasta quando estendemos a mão.
Aqui estou, com estes
fragmentos, cheio de pretensão para que se torne um texto, lido por muitos.
Também quero ser curtido, escutado, comentado. Igual todo mundo.
Rabisco estas linhas
nos guardanapos do bar, enquanto aguardo o início do jogo. O jogo vai terminar
empatado, vitória de um time ou de outro. O texto talvez não passe de vaga
mensagem, presa numa garrafa, boiando solitária em alto mar.
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