domingo, 18 de março de 2012

Mapa do céu


Aos doze anos, a maturidade do meu Guri remove a máscara da ingenuidade, que se formou em mim.
Foi-se o tempo de crença na evolução linear. Agora vivemos os sustos da pressa que nos transporta de um lado para o outro, sonhando pra frente, andando pra trás.
Ele encontra no meio dos livros algumas agendas que usei, nos anos passados. Balança a cabeça e não me diz nada.
Então eu acordo: vivo a recolher o que já passou e não vai voltar.
Ainda acredito ser possível reciclar o passado, como sementes que, a qualquer momento, irão germinar.
A inocência é tanta, que olho pro céu e espero que os deuses decidam, em ruidosos congressos, um destino glorioso pra mim.
Agora o céu se abriu, como um mapa misterioso, sobre a minha cabeça.
Cada estrela me observa, no seu silêncio e distância infinita.
Tento puxar conversa, mas só ouço o eco de meu medo do desconhecido.
Meu Guri trouxe um mapa dos grandes, que ele encontrou numa enciclopédia.
Agora temos a geografia das estrelas no céu, seu nome e origem.
Mostrou-me o que guarda o céu. Divertiu-se com minhas lembranças ruidosas. Comentou curiosidades e jogou os meus medos ao léu.
Desperto e liberto o sorriso. Mesmo distantes, as estrelas têm nome e endereço, e eu estou vivo!

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