domingo, 28 de fevereiro de 2021
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
CONSTATAÇÃO
Assim que comecei a rabiscar
estes "ensaios espirituosos",
notei que minha escrita
parecia mais agarrada
ao papel,
parecia mais bem-comportada.
Deve ser porque eu não sei direito
pra onde ir.
E quando é que a gente
sabe?
(Crônicas e poemas espirituosos)
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Até parece que você é o cara
Você ouve as conversas
dos amigos no bar,
suas ideias ziguezagueantes,
muitas vezes com pouca lógica nos seus raciocínios,
e você vai dando corda, ouve e se sente bem,
e os amigos se sentem bem
em botar tanta coisa pra fora.
Algumas bebidas soltam as amarras da censura
e você estufa o peito e se enche de orgulho,
sim, você é um sujeito mais evoluído
do que a
maioria.
Não, você não é O CARA,
você está apenas exercitando a empatia,
um gesto que deveria ser rotineiro,
você sabe como é importante
ter amigos por perto.
Amanhã quem sabe você vai precisar deles,
dos seus ouvidos, conselhos e companhia.
Sim, todos precisamos de umas almas
cheias de paciência por perto,
que ajudem a colocarmos nossas angústias pra fora,
porque isso vai nos fazer bem.
(Crônicas e poemas espirituosos)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
Conhece-te a ti próprio
Hoje pergunto tanto,
que até o meu guia espiritual
encheu o saco.
Mas foi Ele quem veio com esse papo
de
"conhece-te a ti próprio".
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Escreva logo teu epitáfio
Tantos sinais despertam em você o medo da morte,
como luzinhas piscantes na traseira das bicicletas,
em rodovias movimentadas e com neblina.
Há algo novo no ar, além e por causa de tantos vírus.
Velhinhos com máscaras escondendo o queixo,
com a boca e o nariz implorando ar e bebida,
esgueirando-se nos botecos, às 10 da manhã.
Isso e tantas coisas mais te deixam ansioso,
com medo do desemprego, das contas,
da fome e do futuro imprevisível.
Não vou insinuar medos e culpas na conta dos outros,
mas necessito compartilhar as sensações que tenho,
são serpentes invisíveis brotando do chão e do ar,
e invadindo as narinas,
paralisando meu dia.
Toneladas de informações...
Faça isso! Não faça isso!
Tome vacina! Não tome vacina!
Põe máscara! Tira máscara!
Você está rifando a tua vida e a dos outros,
você é um otário, você se caga de medo
de uma gripezinha.
Te cuide, ou você vai ter os pulmões apodrecidos
e vai rastejar à procura de cilindros de oxigênio
em avenidas cercadas de cemitérios
superpovoados.
É tanto bombardeio,
que você se sente leão sarnento
obediente aos domadores de circo.
Você assiste a todos os noticiários,
lê todas as mensagens
e vê e revê vídeos que recebe
pelo whats.
Você não faz ideia do que é fato ou fake.
Você é simpático com o governo, você odeia o governo
e diz que ele é o responsável por todas as misérias
e tragédias que acontecem por aí.
Sem mais você se pega a pensar no teu funeral,
quem vai comparecer,
quais serão os discursos,
quem vai chorar.
Você pensa no depois,
haverá simplesmente o NADA,
ou teu espírito desencarnará
e terá novas chances
de voltar à terra
pra fazer mais merda?
E você sofre por não saber se será lembrado,
mesmo que por pouco tempo
e apenas por alguns parentes e amigos
mais próximos.
Você vê uma enxurrada de vídeos reconfortantes no Youtube,
você pendura bilhetinhos pelos cantos da casa
com a mensagem do Chico Xavier:
TUDO PASSA.
Você toma vitamina D, toma sol,
toma Extrato de Própolis e teu sovaco exala pelo mundo
um cheiro bem macho de devorador de alho.
E, assim no mais, você se habitua à dieta perfeita
que vai dar aquele UP na tua imunidade.
E então você recebe a notícia aterradora:
o vírus vem sofrendo mutações,
agora está mais agressivo,
ele se espalha mais rápido.
Retornam as imagens que desorientam os mestres
do pensamento positivo:
você só pensa nos pulmões podres,
você só pensa nos tubos de oxigênio,
você só pensa em como será teu funeral!
Hora de ser criativo,
bolar um poema bonitinho
que servirá de epitáfio.
Bukowski escreveu um que eu acho bem legal:
"quando minhas mãos pálidas
deixarem cair a última caneta
em um quarto barato
eles vão me achar lá
e nunca saberão
meu nome
minha intenção
nem o valor
de minha fuga".
(B. B. Palermo)
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
Eu sei de tudo
Garotas do prédio ao lado tomam
sol
e botam pra secar no varal seus
problemas diários.
Não me dão bola, então emito
uns sinais,
nuvens de fumaça subindo pelas
florestas. Digo-lhes:
"Que belo dia de sol... Parece
que a chuva prometida se foi...".
Como eu queria saber o que pensam
desse cavalo cansado
cujo único consolo é contemplar
o copo pela metade!
Sinto-me mal ao tentar uns
contatos tímidos,
como se estivesse chegando
noutro planeta
e uns pequenos centauros coloridos me
observassem, rindo,
"um cara muito estranho
deu o ar da graça".
Janelas se abrem e se fecham, cortinas
sobem, cortinas descem,
meus olhos ficam embaciados
diante dos seus horizontes.
Observo os cabelos, o movimento
dos olhos,
as bocas e o olhar provocador e, ao mesmo tempo, indiferente.
Não sei se deprimo ou se curto
sua juventude,
estou cara a cara com um oceano
de potências
que seus lindos corpos desencadeiam.
Ah, como eu queria ter a senha
de acesso e tudo decifrar.
Interagir, tomar porres de orgias ao meu redor.
Não consigo ser como Bukowski,
ele se fortalecia na solidão,
era a sua comida e sua água.
As garotinhas se enganam se
pensam que estou a fim
de descansar em belas e suaves
tardes no jardim dos mortos.
Ainda sei contar boas
histórias. Lá vai a última:
o sujeito amava tanto sua filha
que, quando ela arranjou um namorado,
ele a matou golpeando sua
cabeça com uma marreta.
O sujeito tinha muito dinheiro.
Deu parte de sua fortuna a um
bom advogado e ficou pouco tempo na cadeia.
Muitos anos depois ele estava
pescando num rio que margeia seu sítio,
quando foi atacado por abelhas
e morreu como besta indefesa e só.
Acredito em fortes emoções,
meus brothers, aguardo
outras proezas, não desejo que
tudo vire cinzas.
O certo é que elas ficariam
radiantes ou decepcionadas
se descobrissem os pensamentos
que tenho a respeito
de seus corpos desenhados por
minúsculos shorts e camisetas.
Eu sou o prendedor de roupas e também o varal
que vai receber as carícias da
brisa e do sol
secando suas calcinhas,
shortinhos e sutiãs.
Sou sensível mas, garanto, não sou tudo
aquilo,
e prometo poemas sujos que as inspiram
a incríveis experiências sensuais.
Eu sei de tudo, enquanto
aguardo o milagre:
um dia essa beleza juvenil vai
desaparecer.
Um namorado hoje, outro amanhã
e depois outro e mais outro...
Eu sei de tudo, e é por isso
que espio por detrás dessas cortinas
sequestradas pelo pó.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
Maradona morreu e aqui em casa faltou água
A vida é injusta,
a vida é ingrata,
provoca e desafia,
vem abaixo o que estava em alta,
basta estar vivo para morrer
- e ressuscitar num clichê -
a formiga sempre sonhou ser
cigarra.
Inseto ou sapiens,
eu não quero morrer
antes de chegar aos 100 anos.
Tudo desmoronou,
aqui em casa faltou água
e Diego ficou sem o pó.
Foi-se a luz, foi-se a vida,
enquanto as drogas que movem o mundo
circulam por aí.
Preciso de um banho,
preciso fazer a barba,
preciso dar um brilho
nos meus dentes encardidos,
preciso de um grande amor.
Pra aliviar o peso sobre os
ombros,
Diego pedia outra dose,
imagino como isso funcionava.
Nos lugares de gente rica,
as drogas ilícitas
e a prostituição são a regra,
sujeitinhos escrotos lambem as bolas
de gente famosa,
a putaria desfila em caminhões
de dólares.
O que importa é que desejamos
continuar vivos,
saudáveis e famintos por mais
um teco.
Eu sofro não porque chamam Diego
de mito ou Deus
agora que está morto,
sofro porque faltou água
bem quando desejei
outro banho
pra me libertar dessa urucubaca,
mandando pro ralo a verdade
melancólica
de que um dia
também vou morrer.
(B. B. Palermo & Cassio Kinn)
sexta-feira, 6 de novembro de 2020
Naquele tempo eu era a voz do povo
Início dos anos 80,
mamãe queria que eu frequentasse
o grupo de jovens da Igreja Católica.
Lá seria inevitável conhecer uma garotinha cheia de qualidades,
virgem,
lá eu potencializaria minhas virtudes
e botaria as manguinhas de fora,
dúzias de talentos florescendo.
Mamãe estava preocupada,
eu era um adolescente solitário.
bah, cara, pensa só o que ela devia imaginar
quando eu demorava horas no banheiro ou no quarto.
Eu e meus amigos corajosos e aventureiros
queríamos andar pelados às 3 da manhã no centro da Fredy City,
e encher de ira o Santo Antônio, padroeiro da paróquia,
que nos observava do alto de uma torre da igreja matriz.
Não tinha maturidade pra saber que traquinagens de madrugada
não me dariam um bom emprego, e havia outros riscos,
eu publicava poemas ingênuos e sujos nas edições de domingo
de um jornal de quinta, chamado "A voz do povo".
Cara, na minha cabeça eu escrevia coisas legais,
e se a patota da City dava a mínima pras minhas colunas dominicais
era porque eles ainda não tinham chegado lá,
tu sabe, não tinham alcançado o nível mais elevado
da percepção estética.
Para agradar mamãe e para chamar a atenção da população,
eu viajava nos poemas, não passava a ideia de que era
um (quase) seminarista punheteiro cheio de espinhas no rosto,
e sempre me confessando e me arrependendo
às vésperas da Semana Santa.
Meu, eu tinha certeza de que escrevia coisas irônicas,
ou de duplo sentido,
uma poesia inovadora,
banhando de luz, humor e liberdade
as manhãs de domingo de minha modesta cidade.
Acho que escrevia uma espécie de autoajuda,
bem antes dessa coisa virar moda pelo mundo:
"Procuro uma alma gêmea,
eu quero casar,
eu quero filhos brilhantes,
eu quero transbordar de orgulho
vivendo em perfeita harmonia
com esses seres de luz.
Mãos nos bolsos
acariciando
o dinheiro
fruto de meu suor,
as canções que vou assobiar
serão as minhas canções
mais originais".
Sim, cara, eu sonhava.
Fazia muito barulho, competia com o sino da catedral,
com o apito de trem no frigorífico,
que liberava milhares de trabalhadores ao meio dia,
de segunda a sábado.
Eu competia também com a hora da Ave Maria,
às 18 horas, na rádio local.
Eu era corajoso, cara, conseguia fazer poemas sem rimar
falando dos buracos das ruas da cidade,
das suas escapadas, bebedeiras e dos sustos que davam
nos motoristas distraídos.
Ah, velho, eu também falava de um mundo em mudança
enquanto bois iam para o abate,
falava, com sinceridade, que botava fé nas pessoas,
enquanto cães e gatos conversavam com Deus
dando piruetas nas esquinas.
(B. B. Palermo)
O psiquiatra conhece!
No Instagram, me deparo com uma entrevista de um psiquiatra falando a respeito de uma droga ministrada a pacientes terminais, desenganad...

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