sábado, 7 de março de 2009

CONFLITOS




O dia ainda nem chegou
e o canto do galo
parece pedido
de socorro.

Sussurra ao meu tribunal interior
que sou relapso
e preguiçoso.

Concordo.
Me recolhi
tarde da noite.

Mas não pedi
opinião de galo
muito menos
seu desaforo!

NAMORO



Um casal de pombos
brindava de galho em galho
e pôs o porteiro do amor à prova.

Beijinhos e abraços
causaram alvoroço
no pátio da escola.

A aula acabara
e as câmeras
degustavam café
com a boca nas orelhas.

O pátio só pros dois
mais um par de olhos
ali a contemplar...

era pagar pra ver
a inocência
se digladiar
com sua irmã
mais velha.

quinta-feira, 5 de março de 2009

VERDADE


Ela sabe que é bonita.
Não precisa fingir
nem forçar nascimentos.

Ela sabe que é linda.
Sem suor e mistério
irradia-me seu brilho
que vem de dentro.

terça-feira, 3 de março de 2009

BARCO COLORIDO



Um barco
colorido
aportou
no horizonte
de meu sonho

breve
passageiro
nele embarquei
sem ver o amanhecer

as estrelas
trouxeram
o roteiro

mas o barco
aventureiro
encalhou
no farol
da retina

meu sonho
virou
sombra
luz
sol
neblina
pesadelo!

segunda-feira, 2 de março de 2009

ROOOONNNKKK!!





Quando a noite
avança
o ronco
circula
desenvolto
na minha casa...

Tratores
patrolas
caminhões
carregados de areia
passam vergonha
e desistem de competir
com o seu roooooooonnkkkk!!!!

Apavorado
o silêncio guarda
os brinquedos
na mochila
e foge
pela janela!

Aos poucos
um ruído
assustador
se espalha
pelos quartos...
- Roooooooonnnnk!!!

Pé-ante-pé
o ronco
procura
um lugar
para deitar...

Invade
meus ouvidos...

E grita
como se fosse
um filme
de terror!

Mamãe
cutuca,
papai
se assusta…

-Quem me acordou???

Mansamente
o ronco pula a janela
e vai tomar um ar...

todos sabem
já faz algum tempo
que logo logo
ele vai voltar!

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CARNAVAL




Esfrego os olhos
bocejo
abro a geladeira
refresco a cara
até descobrir
que não sei
o que fazer...

E nesse instante
os camarotes
se iluminam
pelos flaches
dos olhares
curiosos
da arquibancada
lotada...

Iogurtes
maionese
katchups
e mostardas
ovos, maçãs e tomates
limão cortado e chocolate
e muitos outros brothers
que todos querem
agarrar e imitar...

Garrafas
gigantes
de guaraná
são carros
alegóricos
que dividem o palco
com legumes e maçãs...

Todos esbanjam saúde
com seu gingado
até dar olé!

A geladeira
é um sambódromo
colorido
que me leva
de arrasto
com muita
gula
no pé!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

MAMÃE




Mamãe alistou-se pra guerra
vai saciar a fome das trincheiras

na linha de frente vai o estômago
orações e ladainhas vão atrás.

Nem bem chega o sol
e a casa está arrumada

no rastro
do esquecimento

o vidro de café
sem tampa

o pão na travessa
ao relento.

Quando ultrapassa o quintal
o olhar de mamãe se liberta

o ladrão invadiu
o pátio do visinho

a tia excêntrica
prepara seu funeral

a prima esquisita
não pára de fungar...

Mamãe faz academia
quer estar preparada
pra quando o mundo acabar!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

INVENTÁRIO




Papai me espreita
pela fresta da lápide.

É a foto de um jovem
no obituário do jornal.

Sobre o guarda-roupa
malas antigas
guardam fotos
amareladas.

Papai vela
minhas lembranças...

Em silêncio
junto forças
para não claudicar.

O ronco do fusquinha
mais parece frigideira
e faz do alto dos barrancos
agitar-se a capoeira

(há fotos e documentos
no porta-luvas)

como sempre,
retorna ao lar!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CONJECTURAS


Desenho - Fernando Pessoa

Em frente de casa, desde a manhã, um senhor de meia idade, que não mora na casa, lança olhares morteiros em seus desafios.

O olho decola por cima da rua e do movimento dos carros. Olha desenvolto, para todos os lados, não acusa timidez.

Roupas simples, à primeira vista parece da roça. Usa bigode, fiel a modas passadas. Está rude e inquieto, como aqueles seres que chegaram há pouco num lugar estranho.
Noutro ambiente, nervos excitados. Está na casa dos outros.

À tarde, domesticou-se. Após o almoço lava a louça, espia o armário com familiaridade, coloca o detergente na esponja, abre a torneira e dirige a palavra aos da casa, critica o governo com seus impostos sem fazer rodeios. Declina décadas de experiências para decifrar a estação que ora vivemos.

Já é da família. Alisa o pêlo do gato, acaricia o cachorro, encara os vizinhos como reles mortais. Decerto a digestão foi fácil, após o almoço, sem chás e sais de frutas.

Desajeitado na área, em frente à casa, com a mão no queixo, sem saber que o observo do outro lado da rua, causa-me desconforto. Nem vejo que há um cão, sentado, no pátio. De nada serve perguntar-me de onde vem, o que faz, por que está ali, se pirou ou não.

Meu filho volta do colégio. Está feliz com a escola. Como faz duas vezes por dia, mostra-me seu álbum de figurinhas. Deseja compartilhar seu prazer de colecionar. Quando abre o álbum, seus olhos, alegres e curiosos, irradiam cores e formas.
O álbum é parte de um ritual, como o regresso de Ulisses a Ítaca, sem teorias, paradigmas, conjunturas. Apenas seu pai se enreda em hipóteses.

Seu corpo sorri. Minha consciência se inquieta. Se aliena?

algo estranho acontece. Nada sei, senão conjecturas, a respeito do meu visinho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CONFLITOS




ÊTA VIDA
APRESSADA!

A cigarra
apressada
quer antecipar
a primavera
e chia igual
torneira
aberta
e vazia
sem água.

Parece
chaleira
roxa
de raiva
abandonada
que foi
no fogão...

A primavera
medrosa
treme o frio
da manhã.

Quer ser
formiga
esforçada
em trilhas
sinuosas
e fica
vermelha
de raiva
com a cigarra
que chia
de tão
preguiçosa
que é...


Ela nem sabe
que logo vai andar
estressada
com o atraso do verão
e aí todos vão vê-la
explosiva igual
torneira fechada
pingando!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

POR QUE FUJO






Não me pergunte por que fujo. Não suplique respostas. Faço-o, simplesmente. Tornou-se acontecimento oficial, que resguardo de qualquer autocrítica.

Afastar-se dos laços costumeiros e inquestionáveis, como tomar banhos frios por alguns dias. Fugir para dizer que não quero depender de amarras e de currais.

Não me pergunte Desde quando você age assim?

Só sei que sofro e me sinto bem. Nem adianta você dizer Você é doido, sabia?

Fugir é um estilo de vida. rejuvenesce alegria e tristeza.

Estou viciado em fugir. Vício que se apossou de mim. Tem seus ápices, delírios, e depois a melancolia baixa e cobre tudo.

Como passou a fazer parte de minha vida, não sei.

Devo estar exausto de tua voz. Das curvas de teu corpo. Perderam-se os labirintos, foi-se o mistério. Restou Deve-me obrigação e respeito!

Entendo as convenções sociais, mas fugir dá um prazer bucólico, que não quero compartilhar. É meu segredo. Minha caixa preta.Tua simplicidade cotidiana não preenche as lacunas da solidão.

Aí você diz Eu me esforço, sabia? Entendo, embora seja um engodo perseguir a paixão, deixada por teu vácuo, nas noites acesas de encontros embriagados, lá onde teu lamento estonteou-se na contramão.

Investiga-se a caixa preta e descobre-se que não me vês da maneira como te vejo.

Traduzo-te numa linguagem sensual. A língua e a cama, com símbolos infinitos, numa linha pontilhada de sinais extraviados pela asneira do dia-a-dia. Frases decoradas, gramática inútil, no fundo de tua boca.

Você me vê O homem da minha vida, O único que amei... Mas essas etiquetas usuais não me convencem. Não são alavancas suficientes para me fazer rastejar montanha acima.

Sabes que não te vejo assim. E é por que te vejo diferente que necessito fugir. Sei entortar as grades, pular o muro. Sou expert nos detalhes, que planejo no horário de visita, quando a truculenta insônia vem dar Oi.

Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...