segunda-feira, 26 de junho de 2023

sábado, 17 de junho de 2023

Babacas

 


A boçalidade 

humana

não tem limites. 

O noticiário alardeia uma carta 

em que o compositor 

Mozart

se queixa de sua sogra. 

O Leilão da carta vale milhões. 

É ridículo constatar 

que a maioria 

dos babacas

que passam o dia vendo 

noticiários na TV

jamais ouviu 

as composições 

do Mozart.


(B.B. Palermo)

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Vai com calma, meu brother

 

Vai com calma, meu brother,


um dia rola beijo e promessas de

"eu te amo!" e "te quero pra vida toda!",

no outro dia a tempestade faz estragos

e tua psiquiatra te olha com o jeitinho

de quem conhece os capetas 

que fazem orgias 

nas profundezas do teu ser.

Ela diz que você se embriaga

porque está deprimido,

ou se deprime cada vez que enche a cara.

Vai por mim, não levamos uma vida normal,

nos querem com o rabo entre as pernas,

curvados e cambaleantes pelas ruas

carregando toneladas de sentimento 

de culpa.

Filhos da puta!

Você, eu, o maluco 

do apartamento ao lado,

a diarista, o caixa do supermercado,

todos, todos, estamos fodidos,

não temos pra onde correr.

Médicos,

psiquiatras,

padres,

pastores,

vizinhas desocupadas

e amores 

e paqueras 

e ficantes 

decadentes,

essas criaturas 

que brotam às centenas

das sombras,


elas sempre têm 

razão.


(B. B. Palermo)

sábado, 3 de junho de 2023

Eu passarinho



Baby tem a mais louca 

profissão,

passa as tardes 

ouvindo histéricos,

psicóticos e neuróticos, 

quase todos 

doces e confusos

como eu.

É normal, baby fica 

estressada.

Camarada, opinei:


- Fica fria, meu amor,

é só mais uma sexta,

TUDO PASSA!


Baby riu e, com seu jeito doce 

de anjinho levado, murmurou:


- Até uva passa...


Ladrãozinho,

dos versos de Quintana

desta vez,

eu gritei:


- Uva passa...

EU PASSARINHO!


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 26 de maio de 2023

De outro planeta

 

A gente não é bobo, não.
A gente circula
num outro
planeta.
Pra vocês,
monstrinhos,
nós somos do capeta.
Eis uma luz
pra te inspirar
e botar pra foder
a tua
loucura!
(B. B. Palermo)


quinta-feira, 25 de maio de 2023

Loucuras e loucuras

 


Quando os caras atravessam 

as fronteiras do sensato 

e embarcam no ridículo, 

navegam numa certa  loucura.

Mas nesse tipo de paraíso 

vislumbro a morada 

dos medíocres. 

Acho que a loucura sensata

é a que abre as portas 

para sonhos e utopias.

Sensatos,

medíocres 

ou ridículos,

o aconselhável é o esforço 

para não sermos 

sujeitos 

comuns. 


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Cresça rápido, Palermão!

 


Rapaz, percebo que no Texas

barba, cabelo, unhas e pentelhos

crescem bem rápido!

Só as pimentas e salsinhas,

couve, alface, rúcula e as ervas

andam com o pé no freio,

como se meus dedos

as oprimissem.

Quando minhas conversas à noitinha

na esquina do bar

são INÚTEIS,

apaga-se a lâmpada 

no poste da calçada,

como se meus raciocínios 

produzissem 

curtos-circuitos.

Eu sei que ela manda 

o seguinte recado:


- CRESÇA RÁPIDO, PALERMÃO!


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Chamam-me

 


O padre

o pai

a mãe

chamam-me

para que os ajude a encontrar

seus filhotes perdidos.

Andarilho rebelde,

jamais contemplarei

como um profeta

estrelas ou nuvens 

à beira dos lagos.

Sou prático, 

um estressado com as 4 cadeiras

em torno da mesa da sala 

com jaqueta, camisas e meias repousando,

umas senhoras vermelhas de plástico, 

disfarçadas de cabides.

Pensamentos distraem-se com o joão-de-barro

catando coisas 

na grama.

Bem que eu poderia construir meu ninho

no alto das torres

como fazem as caturritas.

No domingo, o padre Alfredo 

chamou o rebanho 

pra caridade,

Vamos levar arroz, feijão, papel higiênico, 

leite e café aos necessitados!

Fugi da igreja e fui vender meus poemas,

reivindicava a alegria

de algumas cervejas.

Como sempre

não existo

portanto

não fui notado

pela alta voltagem

da sensibilidade

comunitária.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Licor de pitanga



- Pô, Cadelão, nem bem sarou o dedo

estraçalhado pelo anzol 

e já tá subindo numa pitangueira?

- Beiço, tu já provou licor de pitanga?

- Hum... Já bebi de tudo,

inclusive gasolina.

- Véio, imagina o sabor dessas pitangas amadurecidas pela maresia. 

Degusta uma aí, sente o sabor...

- Tu vai adoçar?

- Claro, mas não com açúcar. 

Vai ser mel, do Zé do Mel. Conhece?

- Ouvi falar. 

- Cara, as abelhas do Zé só beijam flores de eucaliptos e maracujás. 

- Legal. Mas vê se não usa canha marca diabo.

Aliás, tu acha que consegue deixar curtindo por pelo menos uns 30 dias?

- Bah, cara, vai ser o meu maior desafio 

pra 2023.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Quando eu era louquinho

 


Você-é-tudo-e-nada

ao-mesmo-tempo.

Num dia, revolucionário,

faz picadinho da tábua de valores,

mas logo se vê juntando os cacos de vidro

de mais um prato que quebrou.

Durante semanas brotam

cacos-espalhados-pelo-chão.


Hoje foi viagem total.

Um livro meu tem a possibilidade 

de ser adaptado para o teatro,

e nessa le-va-da fui até o quarto borrifar perfume,

queria chegar logo ao bar pra beber umas

e brindar com os amigos 

os-momentos-quem-sabe-possíveis-de-se-eternizarem.

Tanto delírio me levou a derrubar e espatifar

o frasco no chão.


Comentário de uma amiga psicanalista:

Diz muito o fato de você deixar as coisas caírem

e virarem fragmentos-de-histórias.

Em poucos anos de terapia

você compreenderá. 


Quando eu era louquinho

cortava a realidade feito meteoro.

Hoje as coisas que toco

quebram com mais e mais facilidade.

O perfume não era importado.

Era apenas imitação.

Mas no final das contas

ficou um pouco do perfume

em-cada-poema-e-nas-minhas-mãos.


(B. B. Palermo)

domingo, 16 de abril de 2023

Rebelião dos bichos

 


O Zé lia seus poemas para mim

enquanto a bicharada se empoleirava 

nas mesas próximas do bar,

declamando suas qualidades culinárias. 

Gritavam todos ao mesmo tempo,

ninguém dava ouvidos a ninguém 

- como desenvolviam suas panquecas, 

seus camarões ao molho e etcétera e tals.

Zé pegava carona

numas sinfonias de Beethoven e Bach,

senti que desejava alcançar os olhos 

de Deus.

No meio do bombardeio, 

eu tentava entender onde o poeta iniciava, 

desenvolvia e fechava suas narrativas.

Ele carregava uma pasta 

com uns 1.100 poemas.

Não suportou emprestá-los 

para que eu os degustasse com calma, em casa,

longe da rebelião dos bichos.


Será que um dia a galera vai ter alguma sensibilidade 

e vai conseguir sentir o sabor 

de uma obra de arte?

Imagino como foi com o pobre do Van Gogh, 

pintando seus quadros 

em meio a uns bárbaros 

totalmente insensíveis 

ao desabrochar 

da criação. 


(B. B. Palermo)

Pílulas diárias de fofoca

  – Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...