O Zé lia seus poemas para mim
enquanto a bicharada se empoleirava
nas mesas próximas do bar,
declamando suas qualidades culinárias.
Gritavam todos ao mesmo tempo,
ninguém dava ouvidos a ninguém
- como desenvolviam suas panquecas,
seus camarões ao molho e etcétera e tals.
Zé pegava carona
numas sinfonias de Beethoven e Bach,
senti que desejava alcançar os olhos
de Deus.
No meio do bombardeio,
eu tentava entender onde o poeta iniciava,
desenvolvia e fechava suas narrativas.
Ele carregava uma pasta
com uns 1.100 poemas.
Não suportou emprestá-los
para que eu os degustasse com calma, em casa,
longe da rebelião dos bichos.
Será que um dia a galera vai ter alguma sensibilidade
e vai conseguir sentir o sabor
de uma obra de arte?
Imagino como foi com o pobre do Van Gogh,
pintando seus quadros
em meio a uns bárbaros
totalmente insensíveis
ao desabrochar
da criação.
(B. B. Palermo)
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