terça-feira, 19 de dezembro de 2017
domingo, 26 de novembro de 2017
De que lado você está?
Descasco um ovo
Giro como quem gira o globo
E o ovo e o globo e todos perguntam:
- De que lado você está?
É duro descascar esse ovo cotidiano
Fazer escolhas sem causar danos
Aos dedos ao ovo ao globo a todos.
- De que lado você está?
Não sei. Embarco e vou até do outro lado e me encontro no
início de novo. Sem casca. Sem verdades. Apenas a memória da viagem.
- de que lado você está?
Descasco um ovo giro como quem gira o globo e o ovo
e o globo e eu e todos perguntam...
(B. B. Palermo)
domingo, 12 de novembro de 2017
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
filhote de passarinho
Essa coisa que nos anima, habita e se apossa, faz
acreditar, ter fé e esperança, torna fracos, reféns de ratos, moscas e baratas,
românticos e mansos, bárbaros viciados em tecnologia e bomba nuclear.
O ego te convence de que és joia preciosa, mas teu
passeio público e virtual é bijuteria, coisa de menos importância, se comparado
ao vômito depois da festa, naquele banheiro de dar dó.
Vives da sobra, e o dizes a todo mundo, numa voz
amplificada pelas redes virtuais.
Redes que sintetizam a prisão de cada um,
múmia diante do espelho, pose, câmera e selfie, injetando o doce remédio da solidão.
Não desista. És cultuado, carregado nos braços e
tornado oráculo. Apresento-vos novos deuses: psiquiatras. Antes do jogo começar
diagnosticam teus males, como o gato que se diverte torturando o filhote de pássaro
que caiu do ninho.
O doutor não tem tempo nem saco pra te ouvir. Ele só
tem remédios.
Sim, meus caros. A boa notícia é que não precisamos
aguardar a bomba da Coreia, ou a chegada daquele meteoro. Hoje. Aqui. Agora.
Estamos mortos.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Frases de John Fante
“Meu conselho para todos os jovens escritores é bastante simples. Eu lhes recomendaria que nunca evitassem uma nova experiência. Eu os instaria a viver a vida em estado bruto, a atracar-se com ela bravamente, a golpeá-la com os punhos nus.”
“Os livros dizem não, a noite grita sim. Tenho vinte anos, cheguei à idade da razão, vou caminhar pelas ruas lá embaixo, procurando uma mulher.”
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
sábado, 26 de agosto de 2017
Breve apanhado dos últimos dias - Claudia Tajes
A maioria das pessoas - as que eu conheço, pelo menos - critica os concursos de beleza. Coisa antiga, perda de tempo, exposição da figura da mulher e etc-etc-etc. O engraçado é que quase todo mundo vê. E todo mundo julga. A miss tal é feia. A miss fulana é gorda. O canino da miss beltrana é torto. Eu, se tivesse o culote da miss sicrana, jamais desfilaria de maiô.
Só sei que tomei um susto ao abrir o computador após um mísero dia sem internet e sem contato com a civilização, embora “civilização” não seja bem a palavra para as reações diante da escolha da piauiense Monalysa para Miss Brasil 2017. Diferentes pessoas do mesmo tipo – eu chamaria de cretinas – ofendiam a guria simplesmente por ela ser negra. Na semana em que se viu a aberração de Charlottesville a favor da “supremacia branca”, idiotas nativos envergonham a gente ofendendo uma menina de 18 anos por causa da pele dela. Mas vão carpir um lote, como se diz nessas horas.
Teve também o caso do músico denunciado por gravar uma canção feminista três anos depois de um relacionamento de traições, violências e abusos, segundo o relato da ex-namorada inteligente, bonita, dona do próprio nariz e do próprio corpo e que, para azar dele, escreve muito bem. Como resultado, lincharam o rapaz. O clamor foi tanto que a banda suspendeu as atividades – como fã, lamento muito. Logo se criou uma página para denunciar músicos por atitudes machistas com suas namoradas e sobrou geral, como já havia sobrado para o Chico Buarque pouco antes. Crime do Chico? Parte de uma letra: “quando teu coração suplicar/ou quando teu capricho exigir/largo mulher e filhos e de joelhos vou te seguir”.
Alguém ainda precisa analisar o poder destruidor do textão no Facebook. É pior que napalm, não há o que resista a ele. O rapaz recebeu uma dose de ódio digna do goleiro Bruno. Que tempos esses em que o tribunal se forma em minutos e as condenações à fogueira são sumárias. Pensando bem, já rolou algo parecido em outra época. O nome era Inquisição.
Sempre que a intimidade de alguém ganha o mundo, brilha uma das tantas grandes frases de Nelson Rodrigues: se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava.
A semana ainda nos brindou com mais uma pérola do cara-de-pau mor do país, e olha que não é fácil escolher um entre tantos, o excelentíssimo Gilmar Mendes. Nosso juiz, padrinho de casamento da filha de um preso que há décadas faz o que quer com o transporte público do Rio de Janeiro, assinou o habeas corpus do empresário e mandou dizer que não se sentia impedido de julgar porque “o casamento não durou nem seis meses”. Se eu já não tivesse usado a expressão “vai carpir um lote” no parágrafo lá de cima, usaria agora.
Depois de tudo isso, ainda chega a notícia da professora espancada por um aluno de 15 anos em Santa Catarina. A frase dela sobre tamanho absurdo é quase uma legenda para tudo o que se vê a cada semana, a cada dia, a cada instante nesse mundo: “Estou dilacerada, mas me recupero”. E se não for assim, como é que a gente continua?
Fonte http://revistadonna.clicrbs.com.br/coluna/claudia-tajes-breve-apanhado-dos-ultimos-dias/
Literatura para jornalistas
Literatura para jornalistas: Américo Piovesan fala sobre seu processo criativo
A turma de Oficina de Leitura e Produção de Texto recebeu a visita do escritor Américo Piovesan. Em conversa com os alunos do curso de Jornalismo, Américo trouxe exemplos de sua produção, comentou seu processo de criação e falou sobre o lugar da literatura na contemporaneidade. “A literatura permite dizer o que está oculto”, resume o escritor.
A palestra teve por objetivo aproximar a tradição do jornalismo e a da literatura, a fim de inspirar os acadêmicos da disciplina, voltada para a produção de texto e o incremento do repertório cultural dos futuros jornalistas.
O professor Marcio Granez, responsável pela disciplina, avalia a atividade: “Tivemos a oportunidade de trocar experiências com um escritor que se destaca no cenário atual da produção literária em nosso município. Sem dúvida, foi um grande diferencial para aprofundar a formação dos nossos alunos. Afinal, as narrativas jornalísticas são antes de tudo histórias e como tais devem ser bem contadas para cativar o público”.
Fonte: https://usinacomunica.wordpress.com/2017/06/21/literatura-para-jornalistas-americo-piovesan-fala-sobre-seu-processo-criativo/
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
Os espíritos - Mário Cezar Goularte Duarte
Estavam ali os dois conversando sobre assuntos diversos, quando de repente - pum! - o Espírito de Conciliação acertou o estômago do Espírito Esportivo. Afogueado e tremendo, este levantou-se com uma pedra na mão e...
Eu vi. Por todos os espíritos, eu vi. Mas não sabia, então, que eram eles. Eu andava por toda a parte à procura desses entes abstratos - os dois aí citados e mais a porção que, dizem, habitam nosso universo interior. Eu os via nos jornais e revistas, falavam seus nomes no rádio, até na televisão apareciam. Mas espírito mesmo, em carne e osso, eu não encontrava. Ah sim, encontrei muitos, mas só aquelas ovelhas negras de que ninguém fala e que, sim senhor, são tantas e tanto fazem que me admirava não serem notícia.
Assim que ao invés do Espírito de Camaradagem eu via o Espírito de porco, esperto e cínico, caçoando das pessoas, agindo nas repartições públicas. E o Espírito de Luta, tão famoso por sua coragem e persistência, decerto tinha se acovardado, cedendo o lugar para o Espírito de Briga, mal-humorado e agressivo. Via ainda o Espírito Derrotista, cabisbaixo pelas ruas, quando falavam tanto no Espírito Combativo.
E tanto vi desses espíritos que nós - eu e meu Espírito de Complacência - quase desistimos daquela busca inútil. Mas continuei, cheio de fé, achando-me eu mesmo um sujeito bastante espirituoso.
Aí chegou o Natal. É agora, pensei, esse não me escapa - o Espírito Natalino. Sempre ouvira dizer de sua presença nessa época, tão puro e comunicativo, contagiando as pessoas, os velhos e moços, os honestos e os ladrões e, dizem, até os que por força da profissão não têm espírito nenhum: os censores.
Pus-me nas ruas. Olhava, ávido, o rosto das pessoas. Buscava neles um sinal, um sinalzinho, um espiritozinho qualquer. Mas eles só olhavam as vitrinas. E enquanto nestas distinguia claramente o Espírito de Venda (que frases! que ofertas!), nas pessoas notava apenas um medíocre Espírito de Compra.
Onde, afinal, o Espírito Natalino? Tão falado em anúncios comerciais, cantado e decantado em jingles - seria uma invenção da Propaganda e de seu Espírito Criador?
Foi um amigo que o apontou um dia para mim. Mas, Santo Deus, como foi difícil reconhecê-lo atrás de todos aqueles pacotes! desavisadamente eu o tomaria, sem dúvida, pelo desprezível Espírito de Consumo, que aliás estava por toda a parte. Jamais desvendaria naqueles embrulhos ambulantes um mínimo de espírito sequer, muito menos o inteligente Espírito Natalino.
Então percebi que os espíritos que eu buscava continuavam por aí, levando a mesma vida de sempre, apenas um pouco diferentes - ou para encontrá-los me faltava o necessário estado de espírito.
Por isso, de certo hoje só tenho a dúvida de Machado de Assis: mudei eu ou os espíritos é que andam irreconhecíveis?
Eu vi. Por todos os espíritos, eu vi. Mas não sabia, então, que eram eles. Eu andava por toda a parte à procura desses entes abstratos - os dois aí citados e mais a porção que, dizem, habitam nosso universo interior. Eu os via nos jornais e revistas, falavam seus nomes no rádio, até na televisão apareciam. Mas espírito mesmo, em carne e osso, eu não encontrava. Ah sim, encontrei muitos, mas só aquelas ovelhas negras de que ninguém fala e que, sim senhor, são tantas e tanto fazem que me admirava não serem notícia.
Assim que ao invés do Espírito de Camaradagem eu via o Espírito de porco, esperto e cínico, caçoando das pessoas, agindo nas repartições públicas. E o Espírito de Luta, tão famoso por sua coragem e persistência, decerto tinha se acovardado, cedendo o lugar para o Espírito de Briga, mal-humorado e agressivo. Via ainda o Espírito Derrotista, cabisbaixo pelas ruas, quando falavam tanto no Espírito Combativo.
E tanto vi desses espíritos que nós - eu e meu Espírito de Complacência - quase desistimos daquela busca inútil. Mas continuei, cheio de fé, achando-me eu mesmo um sujeito bastante espirituoso.
Aí chegou o Natal. É agora, pensei, esse não me escapa - o Espírito Natalino. Sempre ouvira dizer de sua presença nessa época, tão puro e comunicativo, contagiando as pessoas, os velhos e moços, os honestos e os ladrões e, dizem, até os que por força da profissão não têm espírito nenhum: os censores.
Pus-me nas ruas. Olhava, ávido, o rosto das pessoas. Buscava neles um sinal, um sinalzinho, um espiritozinho qualquer. Mas eles só olhavam as vitrinas. E enquanto nestas distinguia claramente o Espírito de Venda (que frases! que ofertas!), nas pessoas notava apenas um medíocre Espírito de Compra.
Onde, afinal, o Espírito Natalino? Tão falado em anúncios comerciais, cantado e decantado em jingles - seria uma invenção da Propaganda e de seu Espírito Criador?
Foi um amigo que o apontou um dia para mim. Mas, Santo Deus, como foi difícil reconhecê-lo atrás de todos aqueles pacotes! desavisadamente eu o tomaria, sem dúvida, pelo desprezível Espírito de Consumo, que aliás estava por toda a parte. Jamais desvendaria naqueles embrulhos ambulantes um mínimo de espírito sequer, muito menos o inteligente Espírito Natalino.
Então percebi que os espíritos que eu buscava continuavam por aí, levando a mesma vida de sempre, apenas um pouco diferentes - ou para encontrá-los me faltava o necessário estado de espírito.
Por isso, de certo hoje só tenho a dúvida de Machado de Assis: mudei eu ou os espíritos é que andam irreconhecíveis?
(Crônica publicada em 1978)
Às vezes com quem amo - Walt Whitman
Às vezes com quem amo fico cheio de raiva,
por medo de estar dando amor não retribuído;
agora penso porém que não há amor sem retribuição,
a paga é certa de uma forma ou outra.
(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi retribuído,
mas desse alguém eu tirei com que escrever
estes cantos.)
(tradução de Geir Campos)
Assinar:
Postagens (Atom)
Pílulas diárias de fofoca
– Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...
-
Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
-
Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...