terça-feira, 10 de maio de 2011

Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo - Nelson Rodrigues


Myrna, pseudônimo de Nelson Rodrigues, tinha uma coluna no jornal Diário da noite (1949) que servia de consultório sentimental para mulheres. Recebia cartas das leitoras e lhes dava conselhos, que variavam de ‘conquiste seu marido todos os dias’, ‘fuja de homem bonito’ a ‘a mulher perdoa sempre’. No texto brilhante do autor da ‘vida como ela é’, as mulheres liam algo diferente do que se via publicado por aí. Uma realidade que até hoje não se está acostumado a lidar.


No amor, Myrna acha que devemos ser "escravos espontâneos", a ponto de, se necessário, perder a personalidade, pois "a personalidade serve para várias coisas, até para se anular" (do site deniseescreve.wordpress.com).

"No princípio do mundo, o homem e a mulher eram um só. Portanto, cada criatura bastava-se a si mesma, cada criatura significava um casal. Depois, houve uma catástrofe qualquer. E se separaram e perderam a metade masculina e a metade feminina. E o destino de cada homem ou de cada mulher passou a ser o de procurar sua outra metade, para completar-se". É dessa forma, usando o mito da "unidade primitiva do homem", uma parte deliciosamente cômica do Banquete de Platão, que Nelson responde a carta de uma leitora (Patrícia Melo, comentário no livro Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo).




Infelizmente todo mundo busca uma solução pronta e produzida em série, que se pode comprar no mercado da esquina. Porcarias reproduzidas por comédias românticas, personagens de novelas e reforçada pelas revistas femininas. Falta um tanto de Myrna nas publicações hoje em dia. Um olhar masculino, menos fantasioso, mais ‘pé no chão’ e realista possível. Um bom relacionamento não se faz da noite pro dia e construir leva tempo e paciência. Ah, quanta paciência. E do feminino, o que devia se destacar, na minha opinião, devia ser a intuição. Só ela, tão sincera e tão pessoal, que pode nos ajudar nas questões do amor e da vida a dois.
ps: O título do livro é fantástico, embora eu acredite, de verdade, que dá pra amar e ser feliz ao mesmo tempo. hehe". (deniseescreve.wordpress.com).


O homem brilha pela ausência
 
 
Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: 'Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na sua ausência.' Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem-amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais: - a maioria das mulheres acha mais encanto no ausência que na presença do seu namorado, noivo ou esposo. Absurdo? Paradoxo? Não nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós sabemos que todos os homens amam, inclusive os esquimáus. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda - quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima, irrisória. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que tenhamos, no Brasil, vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo fosse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por um motivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultracotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem mesmo direito de desejar que o chamado homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso; ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um indivíduo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu o vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito, sem inteligência e, às vezes, feiísssimo. Já na ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a minha livre criadora imaginação. Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem a ver com o meu amado; ou por outra, é o meu amado, mas exaltado, transfigurado, superaperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a ausência. É a única solução para o caso."

 
Do livro Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo. São Paulo, Companhia das letras, 2002.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

ONDE VOCÊ PAROU?


Onde você parou?
Foste pego de surpresa
tua linha de defesa cochilou
e agora você não sabe
se está sonhando ou acordado.

Não sabias, ou esquecestes,
que o amor que buscamos
não coincide com o encontrado.
O amor que vem a nós
tem seus sonhos misteriosos,
vontades impacientes se chocam
de cá e de lá, e não é estranho
que o circo, às vezes, pega fogo.

Fugimos de nossa sombra, o passado,
e chegamos a acreditar
que o desamparo da infância
foi ultrapassado.

Foges da felicidade?
Tens medo de amar?

Ouvistes tantas e tantas vezes a sentença
e te sentes culpado
achando-te diferente de todos
ser estranho, complicado...

Tanto pensei falar
mas o vazio instalou-se
(um vazio meio mortal)...
O que me vem nesse momento
é um ridículo ponto final.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Minhas férias - Luis Fernando Veríssimo


Eu, minha mãe, meu pai, minha irmã (Su) e meu cachorro (Dogman) fomos fazer camping. Meu pai decidiu fazer camping este ano porque disse que estava na hora de a gente conhecer a natureza de perto, já que eu, a minha irmã (Su) e o meu cachorro (Dogman) nascemos em apartamento, e, até os 5 anos de idade, sempre que via um passarinho numa árvore, eu gritava "aquele fugiu!" e corria para avisar um guarda; mas eu acho que meu pai decidiu fazer camping depois que viu o preço dos hotéis, apesar de a minha mãe avisar que, na primeira vez que aparecesse uma cobra, ela voltaria para casa correndo, e a minha irmã (Su) insistir em levar o toca- discos e toda a coleção de discos dela, mesmo o meu pai dizendo que aonde nós íamos não teria corrente elétrica, o que deixou minha irmã (Su) muito irritada, porque, se não tinha corrente elétrica, como ela ia usar o secador de cabelo? Mas eu e o meu cachorro (Dogman) gostamos porque o meu pai disse que nós íamos pescar, e cozinhar nós mesmos o peixe pescado no fogo, e comer o peixe com as mãos, e se há uma coisa que eu gosto é confusão. Foi muito engraçado o dia em que minha mãe abriu a porta do carro bem devagar, espiando embaixo do banco com cuidado e perguntando "será que não tem cobra?", e o meu pai perdeu a paciência e disse "entra no carro e vamos embora", porque nós ainda nem tínhamos saído da garagem do edifício. Na estrada tinha tanto buraco que o carro quase quebrou, e nós atrasamos, e quando chegamos ao local do camping já era noite, e o meu pai disse "este parece ser um bom lugar, com bastante grama e perto da água", e decidimos deixar para armar a barraca no dia seguinte e dormir dentro do carro mesmo; só que não conseguimos dormir porque o meu cachorro (Dogman) passou a noite inteira querendo sair do carro, mas a minha mãe não deixava abrirem a porta, com medo de cobra; e no dia seguinte tinha a cara feia de um homem nos espiando pela janela, porque nós tínhamos estacionado o carro no quintal da casa dele, e a água que o meu pai viu era a piscina dele e tivemos que sair correndo. No fim conseguimos um bom lugar para armar a barraca, perto de um rio. Levamos dois dias para armar a barraca, porque a minha mãe tinha usado o manual de instruções para limpar umas porcarias que o meu cachorro (Dogman) fez dentro do carro, mas ficou bem legal, mesmo que o zíper da porta não funcionasse e para entrar ou sair da barraca a gente tivesse que desmanchar tudo e depois armar de novo. O rio tinha um cheiro ruim, e o primeiro peixe que nós pescamos já saiu da água cozinhado, mas não deu para comer, e o melhor de tudo é que choveu muito, e a água do rio subiu, e nós voltamos pra casa flutuando, o que foi muito melhor que voltar pela estrada esburacada; quer dizer que no fim tudo deu certo.

sábado, 30 de abril de 2011

Mês do livro - Instituto Federal Farroupilha





Mês do livro recheado de atividades



 
O Mês de abril é considerado o mês do livro porque neste mês no dia 02 é comemorado o dia Internacional do Livro Infantil, em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, no dia 18 é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil, em homenagem ao escritor Monteiro Lobato, e no dia 23 é comemorado o Dia Mundial do Livro, data criada em 1926 na Espanha em homenagem ao dramaturgo inglês William Shakespeare e o romancista espanhol Miguel de Cervantes.
Em função de todas essa datas alusivas ao Livro, o Instituto Federal Farroupilha - Campus Santo Augusto, por iniciativa da Bibliotecária Daniela Paulo D'acampora, está promovendo algumas atividades. Dentre elas, está o Projeto chamado a "Leitura do Outro", o qual consiste numa estante instalada no corredor em frente a Biblioteca onde alunos e servidores podem depositar revistas, livros e gibis para serem lidos por outras pessoas, sendo que a pessoa que depositar alguma publicação poderá levar outra para casa.
Os alunos também estão sendo convidados a fazerem uma atividade diferente, que consiste na montagem de um livro da história dos que passaram pelo Campus em 2011. A garotada poderá contribuir com poemas, contos, histórias, relatos, desenhos, fotos, enfim o que quiserem. O material será reunido e transformado em um livro. A idéia é de que todos os anos no mês de abril, se a idéia for bem aceita, seja lançada uma nova edição.
O resultado ficará no acervo da Biblioteca, para que daqui a alguns anos, os alunos retornem e relembrem dos acontecimentos, ou quando os filhos destes alunos vierem estudar na escola, vejam o que seus pais deixaram registrado. Todos estão convidados a deixar suas marca, com a manifestação que lhe for conveniente.
Culminando as atividades do mês, nesta sexta-feira, dia 29, está sendo realizada uma programação especial alusiva ao Dia do Livro. Trata-se de sessões de contação de histórias, com o professor Américo Piovesan. Ao longo de todo o dia, os alunos de todos os cursos, divididos em grupos, poderão participar das sessões de 30 minutos cada, realizadas no auditório.
Segunda a bibliotecária Daniela, tanto os livros para o troca-troca quanto as páginas para montar o livro podem ser entregues na biblioteca em qualquer turno. Também todos os servidores do campus estão convidados a participar das Sessões de contação de histórias a serem realizadas até às 21h de hoje.


Carla Maron
Jornalista do IF Farroupilha - Campus Santo Augusto/R.S



A aventura do cotidiano - Fernando Sabino




Todo dia ele ia para o botequim encher a cara e, quando chegava em casa, por qualquer coisinha descompunha a mulher, baixava o braço nos filhos mais velhos. Até que um dia avançou também para o menorzinho, mas a mulher o conteve, interpondo-se com decisão:
- Neste você não bate, que esse não é seu.

Do livro A falta que ela me faz. Rio de janeiro, Record, 1980.

domingo, 24 de abril de 2011

ANALOGIA






Estou comprimido
entre o bem e o mar
loucura e ilusão do sol.
Alegria e beleza
criação e tristeza.
Estou descuidado
como senhor e escravo
passaporte e juízo final.
Iludido como águia
que pousou no meu quintal
aturdido, como vôo inaugural.
Estou esquecido
como bom profissional
nos trilhos, como trem
             ao "Deus dará".
Estou endividado
como santo aposentado
ressabiado, como quem acorda
e não é manhã de sábado
como quem passeia e lava o cão
num domingo ensolarado.
Estou indignado
como futuro com alzeimer
como passado esquizofrênico
como fanático abstêmio.
Estou encurralado
como quem ficou sozinho
e percebeu, neste triste dia,
    que não passa de analogia
                                      analogia
                                           analogia...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A barata e o rato - Millôr Fernandes



Era uma dessas baratinhas brancas e nojentas, acostumadas só a imundície e ao monturo, comendo calmamente sua refeição composta de um pedaço de batata podre e um pedaço de tomate podre (1). Chegou junto dela um Rato transmissor de peste bubônica e lhe disse: "Comadre, ontem tive uma aventura extraordinária. Estive num lugar realmente impressionante, como você, comadre, certo jamais encontrará em toda sua vida." Barata comendo. "O lugar era uma coisa que realmente me deixou de boca aberta", - prosseguiu o Rato - "tão espantoso tão diferente é de tudo que tenho visto em minha vida roedora" (2). Barata comendo. "Imagina você" - prosseguiu o Rato - "que descobri o lugar por acaso. Vou indo numa das cavidades subterrâneas por onde passeio sempre, entrando aqui e ali numa casa e noutra, quando, de repente, percebo uma galeria que não conheço. Meto-me nela, um pouco amedrontado por não saber onde vai dar e de repente saio numa cozinha inacreditável. O chão, limpo, que nem espelho! Os espelhos, de um brilho de cegar! As panelas, polidas como você não pode imaginar! O fogão, que nem um brinco! As paredes sem uma mancha. O teto claro e branco como se tivesse sido acabado de pintar! Os armários, tão arrumados e cuidados que estavam até perfumados! Poeira em nenhuma parte, umidade inexistente, no chão, nem um palito de fósforo...


E foi aí que a Barata não se conteve. Levou a mão à boca num espasmo e protestou: "Que mania! Que horror! Sempre vem contar essas histórias exatamente no momento em que a gente está comendo!"



Moral: Para o vírus a penicilina é uma doença.
Submoral: A ecologia é muito relativa.


(1) Causando inveja a muita gente.
(2) O rato rói. É a sua sina.



domingo, 17 de abril de 2011

COTIDIANO



Concentrados no cotidiano
os homens avançam.

Amanhã
o mundo vai acabar.

Muito pode ser feito:
trabalhar, comer, dormir, acordar...
Como fazem os pássaros:
arrumar o ninho, por ovos, chocar...

A vida parece ordenar:
Depressa, depressa, vamos
transformar o entardecer!

Observo a rotina
protegido pela janela
e sua cortina.

Choca-me o incondicional:
sou racional,
mas não tenho asas para voar!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Jeito de correr - Sérgio Capparelli


Inventei um jeito
de correr veloz,
de correr voraz,
tão rápido, tão rápido
que às vezes me ultrapasso
e me deixo para trás.

111 poemas para crianças. Porto Alegre, L@PM, 2007.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A estranha passageira - Stanislaw Ponte Preta


- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de vôo - e riu nervosinha, coitada.


Depois me pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano respondendo que estava às suas ordens.


Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente.


Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.


Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:


- Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.


- É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho.


Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:


- Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?


Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (1) (embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.


O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:


- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?


Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.


Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show".


Mesmo os que mais de divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.


Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou:


- Puxa vida!!!


Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:


- Olha lá embaixo.


Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.


Suspirei e lasquei:


- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.




terça-feira, 12 de abril de 2011

ECO - José de Nicola



Com certeza
não foi o marreco
quem descobriu o ECO.

Foi o Macaco
que, ao passar pela caverna,
chamou o amigo:
- Ô Marreco!
E, para surpresa geral,
a caverna respondeu:
- ECO, ECO.

O Macaco gostou
e ficava horas
conversando com a caverna:
- O homem diz que ama a Natureza,
                                      antigamente...
- MENTE... MENTE... - respondia a caverna.

Até que num dia sem sol
(depois de uma noite sem estrelas)
apareceu um homem
de fundos olhos cor de cinza
                  e queimou a mata
                     matou o macaco
                   comeu o marreco
              e quebrou a caverna
       (e calou o ECO,
                                  lógico!)


Do livro Entre ecos e outros trecos. São Paulo, Moderna, 1995.

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...