quinta-feira, 28 de outubro de 2010

DESCOBERTA

Tudo corria bem
obrigado
até notar a flor 
amarela
na cabeça dela
claro que fiquei 
grilado
uma flor desse tamanho
a enfeitar sua cabeça
castanha
até pensei dizer a ela
meu deslumbramento
com a descoberta
porém desisti
é claro
não queria passar
por sujeito estranho
que ainda não aprendeu
a ser poeta.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pontos de vista - Marina Colasanti




Quando Nero queria ver
o mundo melhor
olhava-o através de
uma esmeralda.

Quando quero ver melhor
o mundo
eu o olho através
das palavras.

sábado, 23 de outubro de 2010

Anjo da guarda




Escapulário
fez ZÁS!
e escapuliu
do pescoço...

o tempo passou
e ninguém
dele se lembrou.

Esquálido
desnutrido
lamentou
ser um anjo esquecido...

Zangou-se
com você
comigo
todo mundo!

Nem pensou dez segundos
foi logo reverberando:

Anjo da guarda
nunca mais
nunca mais
serei!

Quando desaparecer
que todos se arrependam...

Ninguém nunca mais
vai me encontrar
nos postos de venda!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cecília Meireles



Há pessoas que nos falam
e nem as escutamos;
há pessoas que nos ferem
e nem cicatrizes deixam.
Mas há pessoas que,
simplesmente,
aparecem em nossa vida...
... e que marcam
para sempre.

POMBO - Leo Cunha


O pombo correio
não gosta de sê-lo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Rose e Mary

Rose
e Mary
não são daquelas
que desaceleram
pra um dia sair
de cena.


Alguém olhou
e isso bastou
pra desfilarem
decididas.


Têm de sobra
calor sedução
e sete-vidas...


Sussurros
e segredos
de meia luz
meia noite
e penumbra

miram a todos
sem medo
de coisa qualquer
e coisa nenhuma...

digam, por favor,
que segredos têm
escondidos

na bolsa
no olhar
nas suas vozes
de espuma...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CONVERSANDO COM DEUS - o filme




Quem assistiu o filme "O segredo", ao ver o filme "Conversando com Deus" vai se deparar com um argumento parecido entre os dois: todo o universo conspira a nosso favor, desde que... façamos alguma coisa...
Várias cenas do último ilustram isso. Coisas, fatos, pessoas, que cruzam nosso caminho, não estão nesse lugar por acaso. A princípio podem parecer absurdas, mas depois ganham um sentido.
Temas voltados à questão da espiritualidade, permeadas pela nossa emoção, são um prato delicioso para a indústria de livros e filmes. Isso não ocorre por acaso. Tem a ver com a nossa condição existencial: viver em nome do consumo e do imediatismo.
O filme questiona o valor que damos às coisas. Onde investimos nosso dinheiro e energia: em ganhar a vida. Será que é isso o que mais importa?

É controversa a questão sobre como "conversamos com Deus". Confesso que para mim, no filme, não ficou claro: ocorre na fantasia? Numa dimensão sobrenatural? No imaginário do personagem?
De qualquer modo, tanto se disse, pregou, sobre a revelação divina para nós, mortais - portanto, falíveis. Que eu não saberia o que dizer agora, mas não abro mão da dúvida, já que sou "humano-falível"...

Neste sentido, busquei no Google escritos sobre o filme que trouxessem alguma luz neste momento. Vai a seguir um texto (vitrine2009.blogspot.com) que visa ser uma crítica ao filme. Considero seus argumentos questionáveis - porém eles embrenham na discussão religiosa, e isso não me encorajo fazer. Vai também um comentário, que considero um tanto esclarecedor na discussão.
Confesso desde já que simpatizo com a visão panteísta sobre a o que é Deus e sua relação com o homem. E no filme pude ver algo, mesmo introdutório, que se aproxima dessa visão.




O filme “Conversando com Deus” é uma criação mística, que envolve conceitos de uma filosofia ocultista e espírita, sendo, claro, camuflado por uma aparência de cristã.




Atualmente, mais do que antes, as novas filosofias místicas encabeçadas pelo Movimento Nova Era vem assumindo um perfil com ares científicos e Cristão. Jesus Cristo vem sendo uma figura que ao ser exposta como “bandeira” de paz, amor, caridade e humildade, serve para conquistar e enganar a muitos que não conhecem a verdadeira mensagem de Jesus Cristo.




O filme Conversando com Deus sintetiza tudo o que falamos no texto “Quem somos nós. Uma crítica cristã”, acerca da compreensão mística de que todos nós, seres humanos, somos deuses. Com um enredo envolvente, o filme explora constantemente o lado emocional humano, buscando através disso, desviar o senso crítico em substituição por uma imagem piedosa e sentida com a história do personagem.




O cristão cauteloso segue o exemplo dos crentes de Beréia, que segundo o livro de Atos faziam questão de conferir tudo o que ouviam com as Escrituras Bíblicas. Se assim fizéssemos saberíamos discernir rapidamente as mensagens ocultas existentes em muitas dessas produções, a exemplo do filme “Conversando com Deus”.




Nesse filme o personagem principal não é do Deus da bíblia, muito menos Jesus Cristo, mas sim o homem-deus, ou deus-homem que, segundo tal filosofia “existe dentro de você”. Conversar com Deus, na mensagem subliminar do filme significa conversar com você mesmo. Ou seja, com o deus que “existe em você”, mas que para isso é necessário “despertar” para essa “verdade” e desenvolver em si mesmo a capacidade de “ouvir” a esse deus interior.




O sucesso ou o fracasso do ser humano depende único e exclusivamente dele aprender ouvir seu íntimo, como diz o personagem: “Concentre-se no que você, pensa sobre você”. E é nessa perspectiva que desenvolve-se todo o filme, baseado na história do personagem em, através de suas experiências sofríveis, “descobrir” que existe uma fonte de sucesso e luz dentro dele mesmo, pronta para “guiá-lo”, desde que ele esteja pronto para ouvir e confiar, afinal: “Não há mais segredos” (risos). Fazendo assim alusão ao documentário “O segredo”.




A filosofia expressa implicitamente no filme reflete a compreensão espírita, hinduísta, teosófica, budista e mormonista de que o grande segredo supostamente revelado por Jesus Cristo é de que somos deuses. Para refutar isso meus queridos, com base bíblica, não quero me dar o trabalho nesse momento, uma vez que já escrevi um texto a esse respeito que explica muito bem através de uma experiência pessoal em minha faculdade. Para quem não leu leia - Quem somos nós. Uma crítica cristã.


Um abraço e até a próxima... (vitrine2009.blogspot.com)

Anônimo disse...

A verdade é uma terra sem caminhos que não pode ser mostrada por seitas, livros sagrados, dogmas etc. A verdade é viva e essa é a beleza dela pois só algo morto pode estar confinada em um só lugar. Partindo do princípio que somos "imagem e semelhança" de Deus, acredito que a melhor forma em estarmos em conformidade e ao mesmo tempo conhecendo a Deus é pela auto-observação e auto-conhecimento. Nascemos e somos criados em um código de condulta estabecidos pela sociedade e tradição e somos moldados conforme esse código. Nunca nos prestamos ao cuidado de olhar as entrelinhas que nos propõe esse código. Sempre nos conformamos o que sempre nos foi imposto. Será esse o verdadeiro caminho ao conhecimento da realidade? Quando julgamos ou condenamos algo ficamos impossibilitados de ver o fato como realmente é, pois nossa mente está sempre a tagarelar com as referências dadas pela nossa tradição. Muitas vezes não nos damos contas que de fato fazemos parte desse TODO que é o universo. Como o livro Conversando com Deus menciona, a humanidade atribuiu a Deus um papel de pai condenador, justiceiro que lhe pune ou recompensa de acordo com os seus atos (onde está o livre arbítrio nesse sentido?), temos medo de ir pra o inferno e com base nisso amamos a Deus para que ele não nos puna com o sofrimento eterno. Onde está o interesse de Deus nos punir com o sofrimento eterno? Ganharia o que com isso? No texto de Deteuronomio 28:15 podemos fazer uma reflexão sobre essa questão de punição. Leiam e reflitam...mas depois só não venham com essa história de que Deus é amor mas é justiça também pois essa afirmação é paralela àquela de que a bíblia foi escrita por homens mas inspirada pelo Espírito Santo. A humanidade precisa acreditar nessa tese para que os fundamentos bíblicos tenham efeito. Contudo, a fé é individual...embora quando ela se organiza ela se mortifica consequentemente se tornando uma religião, seita ou dogma a ser impostos por aqueles que buscam uma respostas para o sofrimento que assolam a humanidade (assim como individual). Particulamente eu acredito que as leis de Deus se manisfestam na natureza e não em livros sagrados (não desfazendo da beleza em suas literaturas). Acontece que só queremos aceitar a "verdade" como nós a compreendemos, rejeitando por sua vez a verdade como nos é apresentada através das nossas experiências.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

VELHA HISTÓRIA - Mario Quintana

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então, ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelo café. Como era tocante vê-los no "17"! o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial... 
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho: 
"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!..." 
Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado...

sábado, 9 de outubro de 2010

PROGRAMADOS





Gepeto acordou
o espírito de Pinóquio.
- O resto da história todos sabemos...

Ai de nós terráqueos
que fomos acesos
pela mão
de um espírito
que habita planetas
desconhecidos...

E se for verdade
que esse espírito
nos programou
para sermos
trágicos e cômicos
só pra sua diversão?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A VELHINHA CONTRABANDISTA - Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)






Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.


Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:


- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?


A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:


- É areia!


Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.


Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.


Diz que foi aí que o fiscal se chateou:


- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.


- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:


- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?


- O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.


- Juro – respondeu o fiscal.


- É lambreta.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Maria-vai-com-as-outras - Sylvia Orthof





Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo, Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também.


Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras.


Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.


- Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação também. Uf! Uf! Puf!


Maria ia sempre com as outras.


Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló.


Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror!


Foi quando de repente, Maria pensou:


“Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?”


Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.


Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.


Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé!

 
E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé!

Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante e comeu uma feijoada.


Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.

Pílulas diárias de fofoca

  – Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...