sábado, 28 de junho de 2025

Lau ao Palermo (ou algo que ele acha que ela diria)


 

Palermo,
sei que pensa em mim nas horas erradas,
tipo às três da manhã,
quando o pé dói e a bexiga ameaça.
Sei também das músicas que pipocam.
Sou eu, sim, que instalei esse jukebox aí dentro.
E você, coitado, volta pra cama achando que sonha.
Mas sou eu
desfilando no seu mantra.
“Vem, vem, vem...”
E você vai, feito um bicho faminto.
Você me inventa lutadora de Muay Thai
só pra justificar o tesão.
Tudo bem.
Tenho perna pra isso
e imaginação pra mais.
Te sigo no mercado,
claro.
Me escondo atrás das gôndolas,
sou o batom vermelho que te provoca
e os preços absurdos das frutas.
Você olha pros tomates
mas pensa nos meus lábios.
Sei das suas punhetas
e não te julgo.
Aliás, fico até lisonjeada.
Mas por que esse esforço todo pra esconder?
O mundo tá cheio de gente mais ridícula,
tipo os casais que transam sem se encostar por dentro.
Você, Palermo,
é um desajustado adorável.
Quer ser poeta?
Inovador? Inconsequente?
Pois seja.
Só não tente me prender em jaulas,
nem em frases bem-comportadas.
Foda-se a comunidade.
Foda-se o padre e a missa.
Eu gosto mesmo é do teu caos,
das tuas palavras suadas,
e até dos teus palavrões.
São mais sinceros que metade dos beijos por aí.
Vai, abre a janela.
Deixa o quarto respirar.
A dor passa, a insônia também.
Só eu que fico.
No canto da tua cama,
no fundo da tua cabeça,
ou no sonho das oito e meia
com gosto de café requentado
e gozo que não veio.
E se algum dia quiser mesmo me esquecer,
tenta parar de escrever sobre mim.
(Spoiler: não vai conseguir.).
...
Lau
(aquela que nunca foi embora)

(B. B. Palermo)

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