terça-feira, 6 de maio de 2025

Teste vocacional para os meus poemas tristes

 

O cara na praça manda ver nuns exercícios físicos

naqueles aparelhos de merda que as crianças 

fazem de conta que são brinquedos.

Aparelhos estranhos, sujeito estranho.

Fita-me desconfiado,

deve estar sabendo das cagadas que fiz,

nada tão significativo como detonar bombas nucleares

num mundo em que rola um babaca sentido.

Logo adiante avisto uma barraca do Senac

e uma garota me observa e sorri  

e intui que eu preciso fazer um teste vocacional.

Os cabelos e os lábios e os dentes e as sobrancelhas 

sintetizam anos de leituras de horóscopos, 

décadas de tentativas e erros em busca

da melhor resposta sobre o futuro do meu destino.

Tudo é insignificante,

o planeta dá voltas –

seria o eterno retorno?

Dobra a esquina e a reconheço:

é uma senhora que comi anos atrás.

Vacilo, tento virar o rosto mas já é tarde

e ela não me vê ou percebe.

Seus pés enormes parecem duas bocas de serpente

e ameaçam tudo ao redor e não sei pra onde vão

e a quais deuses irão assombrar.

Os ponteiros do relógio digital fazem sua parte e

tudo volta ao normal mas aí passa um vendedor

com aquele carrinho tapado de cobertores

e casacos de lã

e suas rodinhas entoam

poemas tristes.

 

(B. B. Palermo)


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