O cachorro passa mancando...
não me percebe.
Compreendo: a vida é busca, é movimento.
Quem prova isso é o motoboy e sua descarga
barulhenta
e as dezenas de vezes que passou pela rua,
hoje,
como um trator levantando vôo.
O cretino não sabe ou não quer saber
da tal da “poluição sonora”.
Alguém aí se importa?
Vou à praia no entardecer.
A natureza
NATUREZA
me chama.
Eis que me deparo com um trator
puxando vaga/metódica/mente uma rede
e – sei lá... – fiquei triste, como a personagem
da Clarice
em “Paixão segundo GH”, que devorou uma barata.
Eis uma tristeza que ninguém sabe explicar.
Assim que a rede saiu do mar em direção à
praia,
fui encarado por um peixe-espada,
e seus olhos me fuzilaram:
– EU NÃO DESEJAVA MORRER!
Eis que surgem lembranças de porres e fiascos
nas noites boêmias,
num tempo em que meus olhos estavam
em melhor estado de conservação
do que o pobre diabo do peixe enroscado
naquela rede.
Mais cedo ou mais tarde,
e que isso sirva de consolo,
estaremos todos enredados – alegres ou faceiros –
a uma rede que chamam de viagem
ao fim da noite.
(B. B. Palermo)
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