sábado, 11 de junho de 2022

Piloto automático


A fumaça subiu na Vila Pedreira,

e com ela Deus, o diabo, céu e inferno

ficaram impregnados de simpáticas criaturas.

Eram cavalos alados, monstros da Odisseia do Homero,

um verdadeiro Apocalipse,

e não era nem 8 e meia da noite.

O rádio do bar do Manetta

transmitia a Voz do Brasil.

A bebida descia rebolando como leoas no cio

e minha cabeça sonhava libertação

de antigos demônios,

como se tivesse bebido um Santo Daime porreta.

Não vomitei nem rezei,

apenas me vi em tristes recordações.

Sexo era esporádico

e as masturbações, muitas,

diretas no piloto automático.

 

Tudo tranquilo.

Me sinto pior quando vejo mortos-vivos

destilando suas verdades absurdas

nas redes sociais.

Cada vez mais eles se superam:

colocam escapamentos superbarulhentos

nas suas motocicletas,

ou desfilam num carro rebaixado

com o som explodindo.

Hora de lembrar o que disse o velho Schopenhauer:              

"A soma do barulho que uma pessoa pode suportar

está na razão inversa de sua capacidade mental".

 

(B. B. Palermo)

 

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