terça-feira, 26 de abril de 2022

Há quanto tempo não te vejo!



"Se queres ser universal, comece por pintar a tua aldeia" (Tolstoi).

 

No Reencontro com tantos conterrâneos da Vila Faguense,

ouvimos inúmeras vezes a frase " Há quanto tempo não te vejo...".

Olhares admirados feito lâmpadas acendendo memórias,

semblantes, causos, histórias...

No decorrer do dia, emocionado e zonzo, muitos de nós

fizemos em silêncio algumas perguntas:

onde estão os troféus que o Juventus conquistou ao longo de décadas?

Onde estão as ferramentas que nossos antepassados usaram,

domando a terra do norte gaúcho e dela tirando o sustento de suas famílias?

E seus costumes e culinária, ainda praticamos?

 

Museus e livros de história, por exemplo, são indispensáveis,

eles puxam nossas orelhas diante dos vacilos e indiferenças

ao lugar de onde viemos, e dos laços de afeto,

gratidão e compromisso para com nossos antepassados.

 

Creio que a busca por respostas a estas perguntas distensiona nossa sensibilidade,

e acordamos cidadãos do mundo, orgulhosos da aldeia que nos deu suporte.

Os valores que herdamos do lugar de onde viemos

não deveriam se tornar jardins abandonados, ao contrário.

 

A pressa e o imediatismo cotidiano nos afastam de quem realmente somos.

Talvez esteja aí um dos gatilhos ou portas de entrada para a depressão e a ansiedade,

patologias que andam de mãos dadas com o estresse, o individualismo, a rasa empatia...

 

É incrível o amanhecer desses encontros, frutos do desejo;

e, junto, vem o desejo de revisitar nosso passado,

desenterrar e compartilhar histórias com pessoas que cresceram próximas,

e que depois tomaram posse de suas asas e seguiram rumos diversos.

 

Relato a seguir lembranças compartilhadas no dia do Encontro.

Tudo isso nos chama a fazer pesquisas, trabalhos demorados e suados,

mas prazerosos por prestarem algumas contas à nossa história.

 

Um avô, hoje talvez bisavô ou até tataravô, cedeu parte de seu galpão,

que servia de estrebaria para os animais, para que houvesse uma singela escola,

possibilitando a alfabetização das crianças da Vila.

Eis sua preocupação: "As crianças precisam frequentar a escola para se tornarem gente".

Outro filho, pai, avô, bisavô doou a área que atualmente é de proteção ambiental,

lugar onde se situa a cascata e a gruta Nossa Senhora de Lurdes.

Ao ser aberta a picada que leva à cascata e à gruta, ele pediu:

"Abram a picada, mas evitem derrubar muitas árvores ".

 

Vai aqui um desafio para que se faça um trabalho de resgate

dos acontecimentos e pessoas que fizeram a diferença

na educação/formação dos descendentes da Vila Faguense.                            

Um celular possibilita muita coisa:

gravar depoimentos das pessoas mais antigas, fotografar e filmar, enfim...    

Ferramentas técnicas são um importante meio para resgatar o sentido de nossa existência

na direção do que disse o filósofo Walter Benjamin:

"Quem não pode lembrar o passado,

não pode julgar o presente

nem sonhar o futuro".


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