Ouço as conversas dos jovens casais
e sinto que o clima está mudando,
o frio penetra até os ossos,
mas eu não ligo,
nada de culpas e medos.
Nascido em noite de geada,
não reclamo do frio metálico,
embora ele invada portas e janelas
dos guetos tristes.
Ouço a voz antes de me deter
no rostinho angelical, olhos, expressão
e os gestos da garotinha.
Aos poucos ela parece se interessar
por minha ficção - tô sabendo, bobinhos,
eu sou uma figura, uma quase ficção
em forma de gente.
Agarro a palavra e invento histórias
de encontros furtivos com entidades
que vêm de mundos pra lá de psicodélicos.
Passeio por entre os jardins do budismo,
as paisagens prosaicas da filosofia exotérica
e as leis de causa e efeito do espiritismo.
Estamos no meio de uma guerra - digo -
e você não sabe quem é quem.
Não confie em ninguém, baby.
Ainda estou aceso, ainda articulo meus raciocínios,
primeiro a premissa maior, em seguida a premissa menor,
amarro direitinho justificativas com conclusões.
Me acodem alguns acordes da Quinta Sinfonia de Beethoven
misturados a cenas do filme Laranja Mecânica.
Tchan, tchan, tchan, tchan...
Senti que a musa balançou, ficou encantada,
e me vi no lugar do Alex, personagem
principal do filme.
Nada de barreiras, nada de convenções,
eu sou o centro do mundo,
eu sou o Eu penso logo existo
do planeta.
O namorido deu sinais de tédio.
Afastou a garota dali.
Não pode ser...
Rolou um ciuminho?
Ah, como eu sofro!
Ah, como eu me divirto!
Ah, como eu queria mergulhar fundo
numas aventuras poliamorosas!
O velho Bukowski precisa saber disso:
seu discípulo escroto também rasteja por aí,
contando histórias divertidas e encantando ninfas,
rodeado e admirado ou odiado pelos garotos ingênuos
e sedentos de aventuras.
Os boysinhos não perdem por esperar.
Estou cansado de passar séculos implorando,
me arrastando feito lesma atrás de afeto,
mas tudo o que consigo é a incompreensão.
Danem-se.
Amanhã eu tento de novo.
Tô ligado, garotinhos,
eu sou um voluntário do amor.
(B. B. Palermo)
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