quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O meu país - Zé Ramalho


 

 http://letras.mus.br/ze-ramalho/400344/

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo


Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram-se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país 


Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país 


Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país 


Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio-x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país 


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo 


Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país 


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

De uma música do Belchior


 
Aquela gatinha
vai ser o meu céu
mesmo se eu virar estrela
e despencar
can
     di
         da
             men
                    te...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Namoro de gato


 
Primavera 
úmida
sol queima
e derrete 
meu quarto

e eu ainda 
aguentando
namoro de gato!

Oficina de contação de histórias e declamação de poemas


 
No dia 10 de outubro o escritor, professor e contador de histórias Américo Piovesan esteve na escola Estadual de Ensino Fundamental São Pio X, Vila Salto, município de Bozano, participando da abertura da feira do livro da escola.
Os patronos da feira desse ano foram os Irmãos Grimm, sendo que todo o cenário do salão da escola foi criado a partir de sua obra.
O objetivo principal da feira do livro da escola é o de continuar despertando o gosto dos seus alunos pela leitura. Nesse sentido, a Livraria Nova Geração expôs centenas de livros na escola para que os alunos pudessem conhecê-los e adquirí-los.
Na abertura da feira do livro da escola, Américo Piovesan apresentou seus livros aos alunos, falando sobre como surgiu a temática de cada um. Falou também da escrita como atividade criativa, e que cada aluno pode escrever de maneira divertida e também critica. Ressaltou a importância de se observar e imaginar cenas e personagens, e também comportamentos e outras características das pessoas que cruzamos no cotidiano.
Em um segundo momento, o escritor contou algumas histórias e declamou poemas. Seu objetivo foi o de exercitar a sensibilização, para despertar nas crianças o gosto pelos livros e a leitura.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

LERO-LERO - Cacaso


Sou brasileiro de estatura mediana 
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Porque no amor quem perde quase sempre ganha
Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder
Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero
Não tolerolero lero devo nada pra ninguém
Sou descasado, minha vida eu levo a muque
Do batente pro batuque faço como me convém
Eu sou poeta e não nego a minha raça
Faço versos por pirraça e também por precisão
De pé quebrado, verso branco, rima rica
Negaceio, dou a dica, tenho a minha solução
Sou brasileiro, tatu-peba taturana
Bom de bola, ruim de grana, tabuada sei de cor
Quatro vez sete vinte e oito nove fora
Ou a onça me devora ou no fim vou rir melhor
Não entro em rifa, não adoço, não tempero
Não remarco, marco zero, se falei não volto atrás
Por onde passo deixo rastro, deixo fama
Desarrumo toda a trama, desacato Satanás
Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Diz um ditado natural da minha terra
Bom cabrito é o que mais berra onde canta o sabiá
Desacredito no azar da minha sina
Tico-tico de rapina, ninguém leva o meu fubá

Gravado por Edu Lobo

Saldo - José Paulo Paes


a torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)

a luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)

a porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

um bom poema leva anos - Paulo Leminski

Um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cão farejador



Novo naquela rua
era cão
farejador
de frases
nas sarjetas e muros.
Faminto de novidades
fugiu do hospício
para não ser culpado
dos males do mundo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Prova falsa - Stanislaw Ponte Preta





Quem teve a ideia foi o padrinho da caçula - ele me conta. Trouxe o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mínimo de educação.

— Mas o cachorro era um chato — desabafou.

Desses cachorrinhos de raça, cheio de nhém-nhém-nhém, que comem comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.

— Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinha logo com aquele latido fininho e antipático de cachorro de francesa.

Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.

— Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que implicava com o "pobrezinho".

Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis. A vida lá em sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.

— Você é um desalmado — disse ela, uma vez.

Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.

— Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei.

— Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.

— Ué... mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?

— Problema da consciência — explicou: — O pipi não era dele.

E suspirou cheio de remorso.

Gatinha




Seu olhar me interroga
até abrir minha porta
meu coração acelera
e segue sua rota.

sábado, 6 de outubro de 2012

Dança


As bailarinas
do box do banheiro
dançam toda vez
que passo por lá.
Na dança de amores,
no toma-lá-dá-cá,
eu danço até ca(n)sar!

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...