quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma incrível batalha entre Dom Quixote de la Mancha e uma traça faminta



Dom Quixote ressonava dentro de um livro esquecido,
quando acordou assustado por um estranho ruído!
Uma traça devorava uma página amarela,
seu destino era “traçado” e triturado por ela!


Nessa página impassível, que a traça roia aos poucos,
Cervantes lhe condenava à condição de ser louco...
E a velha biblioteca, tomada pela aflição,
pode ver a realidade digerindo a ficção!


O velho herói deu um salto, procurando a sua lança;
chamou, do fundo da história, o seu fiel Sancho Pança...
Pensou em sair à busca, nos livros da mesma estante,
por outro guerreiro nobre, qualquer cavaleiro andante...


Arrepiou o bigode, bradou cruéis impropérios
culpando os tempos modernos e seus nocivos mistérios;
que toda a Literatura se encontra sob ameaça
e toda essa gritaria deu mais apetite à traça!


Nunca assim, tinha lutado contra revés tão daninho,
só contra ovelha e pastores e mais de trinta moinhos...
Pensou, temente, se a traça lhe roesse toda a idéia
ia esquecer das promessas que fez para Dulcinéia...


Tentou fugir a cavalo, mas não chegou ir distante,
a traça tinha roído um naco do Rocinante!
Quando já vinha cansado, judiado em cima do arreio,
ela vinha degustando dois capítulos e meio!


Nem mesmo um inseticida, um “flite” ou um semelhante
o nosso herói encontrava para o derradeiro instante...
Sozinho se debatia... Que, pra aumentar a desgraça,
a Dulcinéia e o Sancho vinham na “pança” da traça!


Quem diria Dom Quixote, enfim, de fato lutando
pra defender sua terra, que a traça vinha ocupando!
“Alto lá, traça bandida! Pois este papel tem dono!”
parafraseou Tiaraju, sem poupar garbo ou entono!


A traça olhou para o velho, com sua fome tamanha,
e atropelou o coitado que despediu-se da Espanha...
Comeu arreio e cavalo, traçou bigode e armadura
e, do Quixote espantado, não sobrou nem a loucura!


E a traça? Nunca mais vi... E nem quero saber da bruxa...
Só espero que se conserve longe da estante gaúcha!
Foi vista por Dom Casmurro, entrando no livro a trote,
ia palitando os dentes com a lança de Dom Quixote!

Rodrigo Bauer e Gujo Teixeira

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O pequinês da cunhada - Kledir Ramil

Zé Luís é um carioca bonachão, desses que se divertem com tudo e têm uma paciência de Jó. Dona Néia, a patroa, resolveu trazer sua irmã Marilia para morar com eles, pois andava deprimida desde a morte do marido. Veio a cunhada, as malas, as tralhas e Pingo, um pequinês com cara de poucos amigos.
Apesar de apenas um palmo de altura, Pingo foi tomando conta da casa. Rosnava o dia inteiro e enchia o saco de todo mundo, principalmente do Zé Luís. Não podia enxergar o pobre homem e atacava os calcanhares. Zé Luís começou a usar botas. Pleno verão, 40 graus no Rio de Janeiro e o coitado com bota de cano alto. Parecia um caubói do subúrbio. Como se não bastassem os ataques, o animal fazia cocô pela casa toda. E a cunhada não gostava de limpar sujeira de cachorro. Sobrava pra quem?
Depois de Pingo matar o angorá da vizinha e arrebentar a boca do filho da faxineira, Zé Luís decidiu dar um basta. Inventou uma história de um casal de amigos, sem filhos, que tinham um sitio em Xerém e andavam loucos por um bichinho de estimação. Propôs levar o pequinês. Seria tratado como um rei, teria ar puro, espaço para correr. Desconsolada, Marilia concordou com a proposta, convicta de que Pingo estaria melhor junto à natureza.
Zé Luís pegou a fera pela coleira, colocou na camionete, se mandou e sumiu com o bicho.
O tempo foi passando, Marilia sempre querendo saber notícias e Zé Luís desconversava, sem estender muito o papo. Mas todo dia ela insistia e perguntava pelo seu cãozinho. Aquela ladainha também começou a encher a paciência. Um dia, pra tentar encerrar o assunto...
- Cunhada querida! Falei com meus amigos do sítio. O Pinguinho está ótimo. Está se alimentando bem, crescendo que é uma maravilha. Já está deste tamanho - mostrando com a mão uma altura de 1 metro e meio do chão.
- Mas Zé - emendou Marília, desconfiada - pequinês não cresce tanto...
- Olha Marília... – continuou ele, abraçando a cunhada e oferecendo um gole de cerveja – com esse negócio de engenharia genética... os japoneses inventaram agora uma super ração que é impressionante. Diz que o Pingo é outro cachorro, tá até namorando uma Rotweiller...
E Marilia quieta, só observando de canto de olho. Resolveu tomar uma cerveja, vai fazer o quê?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Nestas ruazinhas de Ijuí

Nestas ruazinhas de Ijuí
há muitos cães e cavalos.
"Minha casa, minha vida"
                         acampou
os gramados de futebol.
A gurizada recuou,
foi brincar no computador.


Poucos sobem nas árvores
andam de bicicleta
têm carrinho de rolimã...


A rua é exclusividade
de carros e motos
os piás estão atrás das grades
distantes do  murmúrio do riacho
distantes do mundo real.


A gurizada se exilou,
foi para o mundo virtual.


Minha cidade tem dinossauros
disfarçados
de quebra-molas
tem pilotos turbinados
disfarçados
de motoristas.


Eles correm
se locupletam
para fugir da vida.


Tem internet na praça
tem skatistas e boêmios
tem faixas de segurança
tem pedestres distraidos.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Era silencioso o amor - Bartolomeu Campos Queirós




Era silencioso o amor. Podia-se adivinhá-lo no cuidado da mãe enxaguando as roupas na água de anil. Era silencioso, mas via-se o amor entre os seus dedos cortando a couve, desfolhando repolhos, cristalizando figos, bordando flores de canela sobre o arroz-doce nas tigelas.
Lia-se o amor no corpo forte do pai, no seu prazer pelo trabalho, em sua mansidão para com os longos domingos. Era silencioso, mas escutava-se o amor murmurando - noite adentro - no quarto do casal. A casa, sem forro, deixava vazar esse murmúrio com aroma de fumo e canela, que invadia lençóis e dúvidas, para depois filtrar-se por entre telhas.
Experimentava-se o amor quando, assentados no calor da cozinha - pai e mãe - falavam de distâncias, dos avós, das origens, dos namoros, dos casamentos.
E, quando o sono chegava, para cada menino em cada tempo, era o amor que carregava cada filho nos braços para a cama, ajeitando o cobertor por sob o queixo.

do livro Indez, editora Miguilim,1989.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

SOLDADOS


Os brinquedos esquecidos
na penumbra do quarto
dizem que têm a minha cara.


Não sei se foi brincadeira
mas bastou ouvir aquilo
pra eu olhar mil espelhos.


Quando estou no quarto
olho nos olhos deles...
Quero de volta a saudade
dos meus brinquedos.


De tanto olhar e imaginar
eles envelheceram.
Então aconselharam
depositá-los num asilo.


Emburrado, guardei-os com cuidado:
eram caixas de soldados desarmados.


Libertei velhos aliados! –gritei.
- De hoje em diante quero amigos,
não quero subordinados!


Mamãe ficou chocada
quando percebeu
legiões de soldados
marcharem triunfantes
em cima da estante!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TELÓ, O GALO DA DISCÓRDIA


O jornal Zero Hora dos dias 24 e 25 de janeiro me despertou a atenção com as reportagens sobre o galo que “semeia a discórdia” no município de Capão Novo, no litoral gaúcho. O galo acorda veranistas, cantando de madrugada. É adorado por uns, detestado por outros.
A gauchada diverge, ao opinar sobre o destino do galo: degola, exílio, ou mantê-lo no seu posto, como o “rei do galinheiro”?
O episódio do galo de Capão Novo me leva a pensar nos argumentos pró e contra o “fenômeno” Michel Teló. Há tempos, por causa de outros fenômenos midiáticos, os argumentos se repetem: uns dizem que gosto não se discute. Outros dizem o contrário. Aqui eu lembro de uma frase, mais ou menos assim: “Gosto é gosto, dizia uma velhinha comendo sabão”. Os que a usam (ironicamente) pretendem mostrar que também para o gosto em arte há critérios que nos ajudam a identificar o que é ou não mais interessante para alimentar nossa alma - alimentar a alma porque não creem que curtir música, cinema, literatura, etc. seja apenas diversão ou passatempo.
Mas como a velha pode saber que existem outros pratos, sabores, temperos, etc? Como vai ter ampliada sua capacidade de escolher, se os seus sentidos (ouvidos, olhos, olfato, tato...) nunca experimentaram gostos diferentes?
Para mim, é fundamental termos a possibilidade de exercitar o “método” de comparação. Isso provoca nossos pensamentos. A coitada da velhinha nunca provou outros vinhos, queijos, temperos, iguarias. Esse é o dilema: se dependermos da mídia (generalizando), talvez não consigamos aperfeiçoar nosso gosto, já que ela nos pega, em muito, pela repetição. Tum tum tum o dia todo, nosso ouvido vai ter mais dificuldade de reconhecer (e de ter prazer) com o ruído da cascata, o burburinho do riacho, o canto do sabiá, do galo... Todos sabemos que, se ficarmos ouvindo uma betoneira numa construção, com o tempo aquele ruído vai se agarrar a nossos pensamentos, vai ser a trilha sonora da nossa mente por algum tempo.
Mas podemos “desligar” esses cantos de galo que consideramos indesejáveis. No caso do que ouvimos em música, basta usar o controle remoto da TV, trocar de estação de rádio, trocar o CD, DVD, etc. E, se quisermos tornar nosso ouvido mais eclético, basta ter curiosidade, pesquisar, conversar com as pessoas...
Por falar em galo, eu não me emancipei do canto dos galos na minha infância simples, no interior. Cresci e descobri outros sentidos para esse canto. Um deles foi na poesia de João Cabral de Melo Neto. Comecei então a tomar contato com a poesia e suas metáforas. O professor de filosofia Paulo Schneider me apresentou, quando fui seu aluno na UNIJUÍ, o poema “Tecendo a manhã”. Vou reproduzir aqui um parte dele:

Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanhã, desde uma teia tênue,
Se vá tecendo, entre todos os galos (...).

Nas aulas de filosofia, o professor questionava a nós, seus alunos que ainda acreditavam em mudar o mundo: o canto de um galo desperta outros galos para quê? Para a emancipação humana. A tomada de consciência de nossa vida coletiva. O canto do galo pretende fazer eco na cabeça de outros galos, despertá-los para aqueles interesses que são coletivos. Neste sentido, gostaria que nosso canto de galo não se contentasse apenas com diversão, curtição, entretenimento, mas que também carregasse consigo o desejo de uma sociedade melhor.

Nostalgia. O galo de nossa infância cantava quando clareava o dia. O galo de Capão Novo canta às duas da madrugada, às quatro e às seis, diz a reportagem de Zero Hora. Ele se comporta assim porque está estressado, vive a competição de outros galos, já não é dono do galinheiro, precisa demarcar território... Quanto tempo vai demorar para esse galo ter empresário, site, marca registrada, enfim, uma máquina trabalhando para sua marca? Na indústria cultural é assim: hoje temos Teló, daqui a alguns meses será outro. É assim há décadas. Por isso se chama “indústria”. Ninguém é inocente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os poemas - Mario Quintana


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti ...





 do livro Narizes de vidro. Editora Moderna.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Encantando através da escrita




Como surgiu a idéia de escrever?


É uma escolha entre outras escolhas que fiz. Mas é também um desejo que vem desde a infância, e tem a ver com a experiência de ler e de ouvir as histórias contadas pelos adultos. A literatura não nega a realidade que nos cerca, mas a enriquece, traz outras possibilidades para o olhar. Nosso ganho é insubstituível: amplia nossa imaginação, criatividade, nossas possibilidades de compreender e mudar a realidade, de encontrarmos saídas nas horas difíceis. Ler e escrever vem comigo desde a infância, e me ajudou a enriquecer o mundo em que vivia e que vivo atualmente.


Por que a escolha pelo público infanto-juvenil?


Mesmo que alguns aspectos de nosso texto, a linguagem, a estética, sejam voltados às crianças e jovens, pretendemos alcançar todo o público leitor. Como nos últimos anos convivo muito com crianças e jovens, nas escolas, como professor e contador de histórias, então me identifico mais e mais com eles. As crianças de hoje serão os pais de amanhã, então, tendo eles passado pela experiência da leitura, influenciarão as futuras gerações, e isso vai ser fundamental para termos uma sociedade mais instruída e eticamente melhor.


Como surgem as idéias para as histórias?


Por um lado, tendo atenção redobrada com o que acontece ao redor: naqueles acontecimentos surpreendentes, que criam lacunas em meio ao que é monótono, repetitivo. Isso vale para fatos e para pessoas, possíveis personagens de histórias que virão a ser escritas. Por outro lado, encontro idéias para histórias através de muita leitura. Quem escreve precisa estar atento para as novidades, seja no que vê, ouve e lê.


Qual a importância do estímulo à literatura desde a infância?


O mundo da fantasia, mitos, lendas, fábulas, contos de fadas, etc., aguçam e ampliam o imaginário das crianças. Auxiliam na estruturação do seu ego. É importante que a criança tenha acesso, através das histórias, aos modelos e heróis de nossa tradição cultural. Constatamos hoje uma certa crise de reflexão e, junto, uma crise de valores ético-morais. E isso, certamente, tem a ver com a falta de leitura, porque a literatura faz-nos vivenciar e alcançar esses valores universais, imprescindíveis para o convívio social. A literatura também ajuda a fazer um contraponto ao mundo virtual de hoje. Este não pode ocupar o lugar da cultura popular, que herdamos dos antepassados.


Fale um pouco sobre o último livro lançado (história, ilustração...)


Meu terceiro livro faz parte da série “Teco, o poeta sonhador”, e foi lançado em novembro de 2011, na Feira do Livro Municipal de Ijui. Chama-se “Canções pra não dormir”, e tem como um dos objetivos ser interativo, isto é, pode ser colorido pelas crianças. Contém poemas e pequenas histórias, e é ilustrado por Guilherme Barrozo, o qual está ilustrando o quarto livro, a ser lançado em março deste ano, com a mesma proposta e título: “Teco, o poeta sonhador, em: canções pra não dormir II”. A novidade neste quarto livro é de que o leitor vai se deparar com alguns poemas românticos do personagem Teco. Ele vai também se aventurar pelo mundo das paqueras e paixões, que ocorre no universo adolescente, ou juvenil. Serão poemas que exploram, entre outras coisas, o ritmo, as rimas e a musicalidade, com temas que têm a ver com a realidade de crianças e jovens.


Qual o escritor é sua principal fonte de inspiração?


Me inspiro em variadas leituras, sejam crônicas, poemas, contos, romances, histórias em quadrinhos, charges, etc. São muitos autores, vou citar apenas alguns: Luis Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar, Rubem Braga, Carlos D. De andrade, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Millôr Fernades, Fernando Sabino, Ruth Rocha, Sylvia Orthof, Sérgio Porto,etc. Muitos destes autores eu aprofundei sua leitura quando iniciei o projeto de contação de histórias na Rede Municipal de Ensino, no IMEAB, desde o ano de 2009. Gosto muito de poemas e histórias que exploram o humor, a ironia e o inesperado. Considero fundamentais para provocarem nossos pensamentos e propiciarem a reflexão.


Hoje, qual o principal desafio de ser escritor?


O desafio é fazer chegar nossa mensagem ao leitor, num universo cada vez mais amplo das mídias. Os leitores estão diante de um bombardeio de informações. A preocupação é em como e o que escrever para esse leitor, para que o mesmo possa ter mais luz no seu dia-a-dia. De minha parte, aposto no conteúdo, nas idéias. Para que o texto sobreviva a essa cultura do instante, do descartável, ele necessita ter conteúdo e ser criativo. Isso vale também para a publicidade, a música, o cinema, o teatro, etc.


Na sua trajetória como escritor, quais as principais conquistas?


Entre o realizado e o que pretendo realizar, considero que estou iniciando meu trabalho. Nesses anos em que escrevo e conto histórias, uma das conquistas foi a descoberta de como é bom estar rodeado pelas crianças, ouvindo, contando, interagindo, através da curiosidade e de questionamentos. Considero uma conquista existencial viver a literatura como uma necessidade, tal como a água ou a comida. Sendo uma necessidade pessoal, tem também implicações na sociedade que nos rodeia.
Uma grande conquista é ver que esse projeto de escrever e contar histórias tem receptividade. Muitos pais, professores e alunos estão empenhados nessa tarefa de formar leitores, conscientes da sua importância.


Como escritor, quais os sonhos que ainda gostarias de realizar?


Poder escrever e contar muitas histórias. Isso significa estar cada vez mais próximo dos leitores, que para mim, em boa medida, estão nas escolas. Sonho poder viajar cada vez mais para outras regiões, e poder ajudar, de alguma forma, a despertar o amor pelos livros e a leitura.


Além de escritor, desenvolves oficinas de contação de história. Essa atividade é importante para a sua carreira como escritor?


Para mim, são inseparáveis, no sentido de que uma atividade complementa e provoca a outra. O público que ouve e lê as histórias é muito exigente. Isso nos obriga a ler e pesquisar muito, para encontrar histórias que surpreendam e encantem. Essa exigência faz com que tentemos ser criteriosos e cuidadosos com o que contamos e escrevemos.

Entrevista concedida ao Jornal da Manhã, de Ijuí/RS. Caderno Dois de 14 e 15 de janeiro/2012 e Panorama Regional, do dia 19 de janeiro/2012.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Leitores do Teco, o poeta sonhador


DICA DO LEITOR, TURNO DA TARDE - Escola EMEF Bom Pastor - Panambi/RS.



Leitor do dia: Bruno Luis Hilgemann



Título do livro: Teco, o poeta sonhador em: os mistérios do porão


Autor: Américo Piovesan


Editora: GD


Ano: 2007


Edição: 1ª






O livro: Teco abre os porões misteriosos dos sonhos - e sonha acordado... Os sonhos tiram o sono do menino, ao transportá-lo à alma da história de seus antepassados e de sua comunidade. O trabalho coletivo, as colheitas, as festas, o milagre do vinho e do pão confundem a infância passada e presente em paisagens de diferentes tempos e ventos, sóis e geadas. Os porões dos sonhos e da imaginação se abrem... e o menino acorda poeta - aquele ser de arte e poesia que vive em cada criança. Viaje com ele!





Tema / Vale a pena ler:


"O livro é legal e fala sobre uma criança que descobre um porão de sua casa, mas ele nunca tinha ido para o porão". - Bruno






segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Passarinhadas


Vizinho (em)prega sua casa, e põe no vento as melodias do martelo.

O prego não pediu para atravessar o coração da árvore.

Dizem que passarinho não tem nome, identidade, CPF e destino... E se tem e eu não sei?

Nada sei de asa de passarinho. Só sei de asa de avião. Avião aprendeu a voar com passarinho...

Avião aprendeu com passarinho. Helicóptero com beija-flor.

Quando o sonho é bom, eu vôo. Quando é pesadelo, eu arrebento no chão.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O humor nos explica - Affonso Romano de Sant'Anna


As piadas que um país faz sobre si mesmo deveriam merecer profundas análises. Talvez fossem mais reveladoras que caríssimas enquetes e vastos tratados analíticos.
Penso nisto lembrando as piadas sobre latino-americanos que me contaram no México. Narradas nos intervalos dos coquetéis e jantares daquele colóquio seriíssimo sobre "identidade" e "integração" na América Latina, funcionavam como recreio, interstício e discurso cômico e crítico.
Por exemplo, Gorbachev, Reagan e um presidente latino-americano estavam tão cansados dos problemas que enfrentavam, que resolveram chamar Deus para socorrê-los diretamente. Deus chegou na Rússia e Gorbachev lhe disse:
- Olha, Senhor, essa crise econômica, o Afeganistão, os dissidentes, a guerra nas estrelas dos americanos, o pessoal da linha dura que está atrapalhando a Perestroika, tudo isto está me causando problemas insolúveis. Como é que vou resolver? Quando isto vai acabar?
- Não se preocupe - disse-lhe Deus -, até o fim do seu mandato tudo estará resolvido.
E Deus foi então visitar Reagan. E ali ouviu outras lamúrias:
- Olha, Senhor, o tremendo déficit interno, esses problemas na América Central, o dólar despencando, o Gorbachev cada vez mais popular... como é que vou resolver?
Quando isto vai acabar?
- Não se preocupe - disse-lhe Deus -, até o fim do seu mandato tudo estará resolvido.
Chega Deus então a um país latino-americano e ouve de seu presidente:
- Olha, Senhor, essa miséria e subemprego, essa crescente dívida externa, a corrupção, essa constante ameaça de golpe de estado... como é que vou resolver? Quando isto tudo vai acabar?
- Não se preocupe - disse-lhe Deus -, até o fim do meu mandato tudo estará resolvido.

Uma pessoa morreu e chegou ao Inferno. Já ia entrar, quando o demônio lhe perguntou na entrada: - Pra qual inferno o senhor vai? - O condenado ficou surpreso.
Achava que o inferno era um só.
- Como assim? Há outro?
- Sim - responde Satanás. - Pode escolher. Há o inferno alemão e o latino-americano.
- Como é que funcionam?
- No alemão, começam a espetar o condenado às cinco da manhã. Às seis toma um banho de chumbo derretido. Às sete come enxofre com fogo. Às oito seu corpo é levado à grelha. Às nove tortura generalizada... - E assim foi narrando as emoções fortes do inferno alemão até a meia-noite.
- E o inferno latino-americano, como é?
- Bom, começam a espetar às cinco da manhã. Às seis um banho de chumbo derretido. Às sete come enxofre com fogo. Às oito seu corpo é levado à grelha. Às nove tortura generalizada...
- Mas é igual ao alemão! Qual a diferença?
- É que no inferno latino-americano o demônio que vai te espetar esquece de acordar, ou às vezes marca ponto e desaparece. Esquecem de ligar o fogo e o banho de chumbo é suspenso. O fogo e o enxofre estão sempre em falta... e assim por diante.

Um psicanalista telefona emocionado para outro:
- Colega, venha aqui correndo, acabo de descobrir a neurose do século, um caso imperdível, venha conhecer.
Do outro lado da linha o outro analista se escusa, diz que não tem tempo, mas o primeiro continua insistindo e tanto insiste que o segundo lhe diz:
- Então me adiante alguma coisa para saber se vale a pena mesmo.
- É um caso de complexo de inferioridade!
- Ora - diz o segundo analista -, que coisa banal, me chamar por causa disto?!
- Mas acontece - diz o outro completamente transtornado -, acontece - que ele é argentino!...

Estou eu no táxi na cidade do México e o chofer me indaga:
- No seu país tem corrupção?
Falei orgulhoso, é claro! Então, disse o chofer, vou lhe contar uma piada que vai entender.
- Fizeram um concurso para saber qual o país mais corrupto do planeta. Sabe que lugar o México tirou?
Eu, meio diplomático e pensando no absurdo das piadas, disse:
- O último.
- Não.
- O primeiro - ousei de novo, temendo acertar.
- Não. Tirou o segundo.
- Por quê? - faço então a indagação fatal, que dará ao outro o prazer da gozação.
- Porque pagamos para ficar em segundo lugar.

Poetinhas, contenham-se!

  Não caminhava sozinho, estava rodeado de uma legião de capetas, rindo, zombando. Vestiam branco e jogavam pro alto seus cantos vindo...