quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Min tengo que acharin

 


C. J. apresentou aos amigos uma nova língua

que melhor funciona quando falada.

O problema é que C. J. fala aos berros

juntinho do nosso rosto,

cuspindo pra caralho.

É uma coisa meio FLOFLO

AFFUFUNDA, e por aí vai...

Até parece que as consoantes

mastigam as vogais.

 

Eis a única frase que o poeta,

rosto cheio de cuspe,

entendeu:

 

MACONHEN MIN TENGO QUE ACHARIN!

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 22 de agosto de 2023

O garoto é gente boa

 

Cabeça nas nuvens, 

Palermo diz por aí 

que no ritmo 

tudo é vida.

Alardeia ser do tempo em que Hamlet

filosofou "penso, logo sou",

e que Descartes, bebaço, 

repetia de bar em bar

"to be or not to be".

Pouca importa se Einstein profetizou 

que Palermo é um planeta fora de órbita,

ou que Sagan escreveu que Palermo 

tem as características 

de um buraco negro

e que um dia vai engolir 

toda a poesia.

Digam o que quiserem, 

o garoto é gente boa,

no máximo vai trazer alguns ciclones 

pra esses lugares 

onde tudo 

é monótono 

e previsível. 


(,B. B. Palermo)

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

AS FORMAS BÁRBARAS DE PALERMO CHUTAR PEDRAS

 

AS FORMAS BÁRBARAS DE PALERMO CHUTAR PEDRAS - A prosa poética de Américo Piovesan no livro Chutando as pedras da calçada
* Marco André Cadoná
O lugar da poesia encontra-se na poesia do lugar. Nos corredores do cotidiano, possibilidades de um movimento inspirador, de uma palavra desencaixada, de um olhar inquieto, de um suspiro que desalenta, de uma bebida que encoraja o vazio da expressão. Talvez sejam esses os caminhos que Palermo persegue, manifestando suas angústias diante do esperado, cobrando inesperados, provocando motivos para a ironia. Mas apenas talvez. A curiosidade pela caixa de uma loja de conveniência, o bêbado cujo trago é curto e o desejo de vida é longo, as lembranças dos quartinhos de “motéis de quinta”, os espíritos dos poetas quietos que são assombrados pelas lembranças agitadas, traçam os caminhos de quem quer ser beijado apenas quando chamar.
Palermo é o personagem que, através de Américo Piovesan, o seu criador, gentiliza a criação poética, convidando para rituais de profanização de nossa existência. Não há desprezo pelo que significamos ou deixamos de significar em nossas nem sempre alegres experiências de vida. Essas são convidadas ao desencaixe, às perdas dos encaixes, aos distanciamentos daquilo que nos amarra aos sentidos que conseguem ser comuns diante do próprio comum. A criação de Palermo, o Américo Piovesan, nasceu em meios cujos sinais convidativos a uma vida quieta eram fartos, mas ainda cedo encontrou nas palavras, escutadas e escritas, espaços que não se permitiam àquela condição existencial. As esquinas da vida, nas quais fincam-se os nomes que empedramos (os Nietzsches, os Leminskis, os Dostoéviskis, os Drummonds, os Rauls, os Belchiores) e aqueles que ainda não foram empedrados (as recepcionistas de hotéis, as Rosinhas, as Lucys, as Dollys, os donos de bares, o bêbado do bar), mostraram ao Américo o verdadeiro significado da experiência de encontrar uma “mosca na sopa”. Palermo não. Palermo foi prenhado pela própria mosca que, iludindo toda a vigilância e depois de ter se ensopado da sopa, transou com aqueles que não se interessavam pelos romances astrais.
O que esperar das palavras afiadas de Palermo, esse errante que frequenta lugares enxovalhados pela promiscuidade circundante dos sentimentos que mais sacralizamos? Os dados ainda estão em movimento e não me é dado apontar respostas precisas. Desconfio, no entanto, que os convites oferecidos por Palermo, com datas impactantes de chegada, sugerem pistas para que possamos catar - nas palavras largadas ao vento - percepções fugidias do que significa a loucura: alcançar o que não se costuma alcançar, ver o que não nos é dado frequentemente ver; ou ver o que nos é dado ver, mas de uma forma ainda não tocada, não sentida. Pode parecer inadequado o que estou para dizer, mas não é impossível que, nos porões das intenções de Palermo, exista um querer pedagógico: despertar, através de seus devaneios, aquilo que dorme ou está num estado de germinação em nós.
Mas há o que não esperar dessa que, talvez, seja a mais inocente das ocupações humanas de Palermo? Os dados ainda não se acomodaram. Mas não se busque, nos espaços de imagens que ele nos convida a habitar, uma preocupação com um sentido dos lugares perigosos que nos são entregues para que possamos testemunhar aquilo que nos é dado ser. Talvez aí more o perigo da construção poética de Palermo: não há um sentido a ser dado, mas provocações que nos colocam em nossos lugares, abrindo coisas, com todos os riscos que nelas podem existir. É também por isso que Palermo se acusa “bárbaro”, pois não consegue mais ter culpa, corrompido que foi por Bárbara, aquela que aparece para lembrar que somos “bípedes e mamíferos, não sabemos nada: nem de ações de bolsa, nem de ética e valores”; não sabemos “nada de futuro” e estamos condenados, Bárbara e nós, ao momento. Há perigo se apostarmos que os dados se ajustarão de acordo com nossas intuições. Mas o perigo maior é não apostarmos.
Eu preciso terminar com um aviso ao leitor. Eu me encontro numa condição de quem apenas se abre à experiência poética que Palermo nos provoca. Não reclamo autoridade de quem pode terminar essa experiência com as condições embebidas pelos espíritos dos juízos. Minha curiosidade, inacabada, com as palavras sentidas por Palermo me colocam num lugar que não permite conclusão. Que essa fique para os incautos. Como em algum lugar Paulo Leminski colocou: “tudo dito, nada feito, fito e deito".
* Doutor em Sociologia Política e professor na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC/RS).

Editora CRV, Curitiba, 2023. https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/38005-chutando-as-pedras-da-calcada

sábado, 12 de agosto de 2023

Livro "CHUTANDO..." disponível no site da editora CRV

 

Chutando as pedras da calçada

Você se leva muito a sério nos conflitos amorosos e nos enroscos do dia a dia?

Neste livro, o personagem Palermo mostra umas saídas: não seja dramático o tempo todo, ria de si mesmo de vez em quando e procure encontrar novos caminhos dentro de si.
São 35 narrativas, em prosa poética, nas quais Palermo interage com vários personagens. A necessidade de amor, a solidão, o pouco dinheiro, os porres e ressacas, o sentimento de culpa e o mundo que vai de mal a pior são suas companhias inseparáveis.
O poeta dá asas à imaginação e se inspira não apenas nos amores ganhos e perdidos. Armadilhas surgem de todo lado, mas alguém sempre estende a mão, "sem medo de ser infeliz", ou acreditando que "Deus está do nosso lado ou não está olhando".
A beleza dos detalhes cotidianos enfeitiça Palermo, e ele tem a sensibilidade de quem ouve mais do que fala, esforçando-se para se colocar no lugar do outro.
Enfim, nosso personagem te convida para um passeio por suas narrativas, ora divertidas, ora dramáticas. Não tenha medo, venha de boas!


https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/38005-chutando-as-pedras-da-calcada

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Luz própria

 


Irmãos, está aberta a temporada 

de fiascos,

atiramos pra tudo quanto é lado,

sem ligarmos pra possibilidade

de cruzar nosso caminho

uma bala nem um pouco perdida,

trazendo a escuridão.


O que está em jogo é a liberdade do poeta,

que se perde nuns territórios 

povoados 

por multidões com bíblias 

debaixo do braço.

Mesmo num mundo de trevas,

o poeta acorda iluminado 

como se fosse o dono da rua,

como se fosse

a própria 

lua.


Irmãos, algo grave aconteceu:

os caras da CEEE apareceram 

com o regulamento debaixo do braço 

e roubaram a sua luz.

Porém, o interruptor da lucidez

continua ligado, 

mesmo necessitando

de meia dúzia de vodkas 

pra despertar.


Caríssimos, vejam quanto luxo:

o poeta vai dormir à luz de velas, 

morrendo de rir porque acredita

que tudo se harmoniza

quanticamente.

O que importa é que os fdps da CEEE

não sabem, nem nunca saberão,

que o poeta 

tem 

luz 

própria!


(B. B. Palermo)

sábado, 29 de julho de 2023

Por que não te matas?

 


Cara, te falei que os cães do Texas

têm algo de diferente, né?

Ontem, quem me impressionou foi uma garota. 

Disse que seu nome era Su.

Chegou no bar acompanhada de outras garotas.

Trocamos olhares, eu meio alto,

creio que ela também, e aí partiu pro jogo de sedução,

e quase me arrastou pra noitada.

- E tu não foi, Cadelão?

Cara, ela perguntou meu signo e, batata, fechou com o dela: geminianos.

Quis enrolar, dizendo que sou cara estranho, imprevisível, inconfiável.

Aí, quis saber o dia que nasci,

e garantiu que sou assim por causa das conjunções tais e tais  

e que isso estava escrito nas estrelas.

Aí que tá,  Beiço, senti que a manha dela não era de simples astróloga. 

Foi sedução de uma sereia 

que nos pega de calça curta, como no dia em que você medita na praia e acontece o milagre. 

- Tá... e aí?

- Colou seu corpo no meu

e uma onda de calor me percorreu,  

dos pés à nuca.

Falei "nossa, tu é quente demais!"

e ela "querido,  sou Índia, sou cabocla, sou filha de Iansã".

Foi me abraçando e beijando e o Júnior, lá embaixo, louco pra batalhar. 

Foi então que algo estranho aconteceu...

senti um desamparo, 

uma força inexplicável quis me afastar dali.

Lembrei do pobre cartão de crédito 

e no milzão que ia queimar. 

- O que, tu deu pra trás??

- É,  cara, tremi de medo, recuei e saltei fora.


- CADELÃO,  POR QUE NÃO TE MATAS??


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Vodko da realidade

 


Ao notar meu amigo

naquela tremedeira, 

apanhando o copo com as 2 mãos 

pra não derramar,

senti que ele estava 

ficando vodko da realidade.

Meu amigo poeta 

não parecia desesperado 

com tais bebedeiras 

e tremedeiras.

Fitava-me e ria 

de minha cara 

de Cadelão que espera

pelo milagre.

Gargalhava, 

enquanto repetia:


A LONGEVIDADE É UM BEIJO!


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Acho que ela sabe que eu existo

 

Cara, uma das ansiedades
no amor
é esperar que ela
diga sim,
seja do jeito como for.
Hoje ela morreu de rir
de umas cambalhotas
que eu dei na areia
gelada
da praia.
Não foi aquele
siiiiimmmmm!,
talvez um tímido
sinal
de que ela sabe
que eu

existo.

(B. B. Palermo)

Oficina de desenho para crianças

 


Palermo ficou
de recuperação
nas aulas de desenho
de educação infantil 😂😂

sábado, 17 de junho de 2023

Babacas

 


A boçalidade 

humana

não tem limites. 

O noticiário alardeia uma carta 

em que o compositor 

Mozart

se queixa de sua sogra. 

O Leilão da carta vale milhões. 

É ridículo constatar 

que a maioria 

dos babacas

que passam o dia vendo 

noticiários na TV

jamais ouviu 

as composições 

do Mozart.


(B.B. Palermo)

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Vai com calma, meu brother

 

Vai com calma, meu brother,


um dia rola beijo e promessas de

"eu te amo!" e "te quero pra vida toda!",

no outro dia a tempestade faz estragos

e tua psiquiatra te olha com o jeitinho

de quem conhece os capetas 

que fazem orgias 

nas profundezas do teu ser.

Ela diz que você se embriaga

porque está deprimido,

ou se deprime cada vez que enche a cara.

Vai por mim, não levamos uma vida normal,

nos querem com o rabo entre as pernas,

curvados e cambaleantes pelas ruas

carregando toneladas de sentimento 

de culpa.

Filhos da puta!

Você, eu, o maluco 

do apartamento ao lado,

a diarista, o caixa do supermercado,

todos, todos, estamos fodidos,

não temos pra onde correr.

Médicos,

psiquiatras,

padres,

pastores,

vizinhas desocupadas

e amores 

e paqueras 

e ficantes 

decadentes,

essas criaturas 

que brotam às centenas

das sombras,


elas sempre têm 

razão.


(B. B. Palermo)

sábado, 3 de junho de 2023

Eu passarinho



Baby tem a mais louca 

profissão,

passa as tardes 

ouvindo histéricos,

psicóticos e neuróticos, 

quase todos 

doces e confusos

como eu.

É normal, baby fica 

estressada.

Camarada, opinei:


- Fica fria, meu amor,

é só mais uma sexta,

TUDO PASSA!


Baby riu e, com seu jeito doce 

de anjinho levado, murmurou:


- Até uva passa...


Ladrãozinho,

dos versos de Quintana

desta vez,

eu gritei:


- Uva passa...

EU PASSARINHO!


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 26 de maio de 2023

De outro planeta

 

A gente não é bobo, não.
A gente circula
num outro
planeta.
Pra vocês,
monstrinhos,
nós somos do capeta.
Eis uma luz
pra te inspirar
e botar pra foder
a tua
loucura!
(B. B. Palermo)


quinta-feira, 25 de maio de 2023

Loucuras e loucuras

 


Quando os caras atravessam 

as fronteiras do sensato 

e embarcam no ridículo, 

navegam numa certa  loucura.

Mas nesse tipo de paraíso 

vislumbro a morada 

dos medíocres. 

Acho que a loucura sensata

é a que abre as portas 

para sonhos e utopias.

Sensatos,

medíocres 

ou ridículos,

o aconselhável é o esforço 

para não sermos 

sujeitos 

comuns. 


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Cresça rápido, Palermão!

 


Rapaz, percebo que no Texas

barba, cabelo, unhas e pentelhos

crescem bem rápido!

Só as pimentas e salsinhas,

couve, alface, rúcula e as ervas

andam com o pé no freio,

como se meus dedos

as oprimissem.

Quando minhas conversas à noitinha

na esquina do bar

são INÚTEIS,

apaga-se a lâmpada 

no poste da calçada,

como se meus raciocínios 

produzissem 

curtos-circuitos.

Eu sei que ela manda 

o seguinte recado:


- CRESÇA RÁPIDO, PALERMÃO!


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Chamam-me

 


O padre

o pai

a mãe

chamam-me

para que os ajude a encontrar

seus filhotes perdidos.

Andarilho rebelde,

jamais contemplarei

como um profeta

estrelas ou nuvens 

à beira dos lagos.

Sou prático, 

um estressado com as 4 cadeiras

em torno da mesa da sala 

com jaqueta, camisas e meias repousando,

umas senhoras vermelhas de plástico, 

disfarçadas de cabides.

Pensamentos distraem-se com o joão-de-barro

catando coisas 

na grama.

Bem que eu poderia construir meu ninho

no alto das torres

como fazem as caturritas.

No domingo, o padre Alfredo 

chamou o rebanho 

pra caridade,

Vamos levar arroz, feijão, papel higiênico, 

leite e café aos necessitados!

Fugi da igreja e fui vender meus poemas,

reivindicava a alegria

de algumas cervejas.

Como sempre

não existo

portanto

não fui notado

pela alta voltagem

da sensibilidade

comunitária.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Licor de pitanga



- Pô, Cadelão, nem bem sarou o dedo

estraçalhado pelo anzol 

e já tá subindo numa pitangueira?

- Beiço, tu já provou licor de pitanga?

- Hum... Já bebi de tudo,

inclusive gasolina.

- Véio, imagina o sabor dessas pitangas amadurecidas pela maresia. 

Degusta uma aí, sente o sabor...

- Tu vai adoçar?

- Claro, mas não com açúcar. 

Vai ser mel, do Zé do Mel. Conhece?

- Ouvi falar. 

- Cara, as abelhas do Zé só beijam flores de eucaliptos e maracujás. 

- Legal. Mas vê se não usa canha marca diabo.

Aliás, tu acha que consegue deixar curtindo por pelo menos uns 30 dias?

- Bah, cara, vai ser o meu maior desafio 

pra 2023.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Quando eu era louquinho

 


Você-é-tudo-e-nada

ao-mesmo-tempo.

Num dia, revolucionário,

faz picadinho da tábua de valores,

mas logo se vê juntando os cacos de vidro

de mais um prato que quebrou.

Durante semanas brotam

cacos-espalhados-pelo-chão.


Hoje foi viagem total.

Um livro meu tem a possibilidade 

de ser adaptado para o teatro,

e nessa le-va-da fui até o quarto borrifar perfume,

queria chegar logo ao bar pra beber umas

e brindar com os amigos 

os-momentos-quem-sabe-possíveis-de-se-eternizarem.

Tanto delírio me levou a derrubar e espatifar

o frasco no chão.


Comentário de uma amiga psicanalista:

Diz muito o fato de você deixar as coisas caírem

e virarem fragmentos-de-histórias.

Em poucos anos de terapia

você compreenderá. 


Quando eu era louquinho

cortava a realidade feito meteoro.

Hoje as coisas que toco

quebram com mais e mais facilidade.

O perfume não era importado.

Era apenas imitação.

Mas no final das contas

ficou um pouco do perfume

em-cada-poema-e-nas-minhas-mãos.


(B. B. Palermo)

domingo, 16 de abril de 2023

Rebelião dos bichos

 


O Zé lia seus poemas para mim

enquanto a bicharada se empoleirava 

nas mesas próximas do bar,

declamando suas qualidades culinárias. 

Gritavam todos ao mesmo tempo,

ninguém dava ouvidos a ninguém 

- como desenvolviam suas panquecas, 

seus camarões ao molho e etcétera e tals.

Zé pegava carona

numas sinfonias de Beethoven e Bach,

senti que desejava alcançar os olhos 

de Deus.

No meio do bombardeio, 

eu tentava entender onde o poeta iniciava, 

desenvolvia e fechava suas narrativas.

Ele carregava uma pasta 

com uns 1.100 poemas.

Não suportou emprestá-los 

para que eu os degustasse com calma, em casa,

longe da rebelião dos bichos.


Será que um dia a galera vai ter alguma sensibilidade 

e vai conseguir sentir o sabor 

de uma obra de arte?

Imagino como foi com o pobre do Van Gogh, 

pintando seus quadros 

em meio a uns bárbaros 

totalmente insensíveis 

ao desabrochar 

da criação. 


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Singela

 


Pelas ruas 

ando

desolado 

à procura de um destino

a que possa me agarrar 

como um náufrago 

no oceano.

No alto

da janela 

de um prédio 

ouço singela voz.

Pareciam as canções 

que me embalaram

na infância 

fadas

princesas

ou afagos de mamãe. 


Singela, assim a batizei

e fiz as perguntas que há séculos 

me perseguem:

O que tens para mim

para ti

para o nosso lar

o que trazes das esquinas 

das feiras

das promessas feitas 

todo ano?


Sua voz trouxe 

sossego 

a alma náufraga 

se aquietou. 

Agora a eternidade 

me pertence 

embora haja espaços 

vazios 

que voz nenhuma 

preenche. 


(Zé & B. B. Palermo)

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Capitu

 

Ela partiu não sei pra quais jornadas
nas estrelas
e eu fiquei destruído,
então joguei o Buggy azul
contra uma guarita na beira do mar.
Tudo certo, não havia veranistas
e salva-vidas e senhoras marisqueiras
com seus olhares inquisitivos,
minha dignidade sobreviveu.
Miro o futuro,
dispenso pensar se alguém teve seu abraço,
sexo e olhar misterioso - estou tranquilo,
um apaixonado
pela Capitu do Século XXI.
Ela voltou ofertando-me de bandeja
versos mortais e até imorais.
Isso não tem importância
diante das ideias e ações duns monstros
agindo por aí.
Todos botam a boca no mundo e falam
e sabem a verdade.
Apenas eu tenho dúvidas
de quem pirou quem:
o indivíduo ou a sociedade.
Milagre, ela retornou ao lugar
que nos anima e inspira, aqui no bar do hotel,
e eu vi, alguns bebuns já cruzam
o Cabo da Boa Esperança,
mas eu, juro, nunca perdi o amor por essa dama
de verde.
ESPERANÇA!
Eu a contemplo sem culpas.
Estou à vontade e bebo outra cerveja,
e assim (Aleluia!) estou dispensado de voltar para casa no início da noite,
estou livre de ver na TV
as tragédias do dia
de hoje.
(B. B. Palermo)
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sábado, 25 de março de 2023

A genuína overdose

 


pingos me vinham

das calhas e

dos céus

e formavam córregos

e rios

correndo feito loucos 

até os oceanos


mas só havia pedreiras

pântanos 

e peraus 

dentro de mim


bêbado ou sóbrio

certo dia captei 

alguma beleza

amanhecendo 

e anoitecendo 

triste triste


hoje engatinho atrás 

da próxima dose 

e de alguns pingos 

que sejam o elixir 

da genuina 


overdose 


(B. B. Palermo & Zé)


terça-feira, 21 de março de 2023

Vem tormenta por aí

 


Ridículo ou engraçado, não sei.

O casal de velhinhos me viu na praia

meio curvado 

(movimentos suspeitos?)

anotando algo num papel. 

Espantaram-se, quando comentei:


ESTOU CAPTANDO IDEIAS NO AR.

VEM TORMENTA POR AÍ!


Pobres criaturas, 

logo partirão. 

Não terão o privilégio 

de cuspir 

pra bem longe

minha literatura. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 14 de março de 2023

Não é preciso tacar fogo na casa

 



Eu poderia estar contemplando a paisagem

pela janela de um avião 

a caminho da ilha de Fernando de Noronha, 

mas aqui estou me digladiando com a senhoria do cafofo. 

Tento vários disfarces pra entrar e sair 

com os latões de ceva.

Ela sabe tudo, 

é uma caninana cheia de truques. 

Me distraio mirando sua filha, 

uma baixinha com pernas bem torneadas. 

Ah, que pena, pouco tem ido à praia, poxa, o sol precisa retocar o seu bronzeado!

Tento manter relações amistosas com a senhoria.

Elogio as plantas "milagrosas" que ela cultiva junto ao prédio, 

próximas das janelas do cafofo.

À tardinha ela embriaga as pobrezinhas com uma mangueira,

e aí está um bom motivo pra correr pro boteco. 

Falando em plantas, o que me vem 

é o chá de Boldo,

o garotinho dá uns golpes abaixo da linha de cintura 

quase que diários 

na minha ressaca.

Tentei ser um bom homem,

nada de brigas com a dona,

instrui as minhocas que cavoucam na cabeça 

a focarem nas pernas tentadoras de sua filha.

Hoje o clima está ameno,

a senhoria prometeu me ensinar a apanhar mariscos na praia 

e preparar deliciosos pastéis, 

que ela jura serem tudo de bom.

Rapaziada, se me permitem um conselho,

nunca batam de frente com essas poderosas. 

Negociem, negociem...

Avancem 2 passos e recuem pelo menos 1.

Acredito que não é preciso 

tacar fogo na casa 

pra se livrar do cupim.


(B. B. Palermo)

quinta-feira, 9 de março de 2023

Não me chames em cima da hora



Meu bem, até parece que tu 

não delirou na adolescência, 

nem se dilacerou com algumas 

paixões. 

Até parece que tu não leu 

O Pequeno Príncipe, 

não copiou em letras de forma 

nos cadernos de escola 

as frases ditas pela raposa ao garoto, 

o personagem do Exupéry. 

Se queres me cativar, 

não telefone em cima da hora,

não estarei preparado, 

serei mais um dos tantos 

cadelões 

errando pelo mundo. 

Sem os dias agendados

à espera de tua doce mensagem,

estarei embriagado 

contando histórias engraçadas 

porque absurdas

pra outros bebados 

naquele bar de esquina,

voltado para o sol 

e o mar.

Baby, o amor quer 

ser fisgado 

por rituais,

até acontecer o milagre:

um sentir saudade 

do outro. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 7 de março de 2023

Lar

 


Foram 9 horas num ônibus,

e no caminho remoí o prazer

e o cansaço dos reencontros 

com amigos,

e também  as novidades,

fofocas e perplexidades.


Flanando por uma avenida 

do Texas

em direção ao lar

e ao mar,

respiro fundo 

e agarro a vida,

as alegrias e tristezas 

que terei 

pela frente.


Passei diante do cantinho 

onde se instalava o Arthur,

um amigo morador de rua,

e experimentei estranha dor -

não havia mais um lar.


Perdas são tsunamis,

e duvido que alguém esteja 

preparado.


Certo dia seu Arthur 

prometeu  

contar sua história

e por que ainda insiste 

que seu lar

sejam as ruas.


(B. B. Palermo)

quarta-feira, 1 de março de 2023

O intelectual orgânico

 


- Beiço, como minha literatura 

não rende likes,

pensei compartilhar vídeos 

no Tiktok

botando a mão na massa.

Sei lá, vou passar pra galera 

a imagem de que um intelectual 

de primeiríssima 

também deve sujar 

as mãos

nas batalhas 

do dia a dia. 


- Cadelão,  pelo visto 

tu não tem a mínima ideia 

de que existe uma linha 

que separa 

o ser ridículo 

do ser 

sublime.


(B. B. Palermo)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Prometeu



Concordo, garota, pareço 

com os loucos que brecam 

seus velhos  carros,

enquanto os cães desfilam.

Não fazemos ideia 

de que percorremos as mesmas 

rodovias,

e assim rola minha ligação contigo,

pessoinha,

que PROMETEU devolver o fogo.

Já passei por muitas, Lau,

mulheres perfeitas jogando 

na minha cara:

FRACASSADO!

Ninguém quer ouvir a minha versão. 

Mãos tremendo 

no início da manhã. 

É o álcool, são as drogas?

Uma ansiedade, 

como se embarcasse pra Marte,

numa viagem sem volta...

Lembra quando disse curtir 

Renato Godá?

Meu bem, os sonhos envelhecem,

certezas vão embora,

mas eu faço qualquer coisa,

salto num paraquedas 

e mergulho 

até o centro da terra

pra ficar 

com você!


(B. B. Palermo)

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Cafajeste

 


Garotas maduras 

miram minha face 

e abatem alguém 

que elas imaginam 

ter muitas mulheres.

Elas têm tanto medo 

de entrar numa roubada,

(de novo?)

que visualizam meu corpo 

(fantasma ou assombração?)

como se fosse um Mel Gibson, 

Brad Pitt ou James Bond.

Um sujeito que, 

além de gostosão, 

é um verdadeiro 

Cafajeste. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

7ceva ou 12ceva

 


Novo lar.

Pensei estar livre

dos fantasmas kafkianos.

Aconteceu de madrugada, 

ao acender a luz do banheiro. 

Ela veio em minha direção, atordoada, 

suas perguntas eram as minhas,

uma bobajada, talvez -

Deus, amor, bem, mal, sexo, sexo, sexo.

A barata e eu, repletos de dilemas.

Quem sou?

Por que devo existir?

Devo matar primeiro papai,

Deus,

o patrão

ou a barata?

Sugara na véspera 7ceva ou 12ceva?

Interrogações 

interrogações 

interrogações:

quantas chineladas devo dar na bichinha?

De quantas chinelagens necessito 

para estar à altura

dos meus irmãos?


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Tracy Chapman

 

Tracy Chapman 


se estiver embriagado 

estarei sensível 

e tremendamente 

apaixonado 

por você. 

Não ligue

eu não sei inglês direito, 

longe disso. 

Bebaço, 

sou verdadeiro, 

e me amarro em seu cabelo

e lábios 

e versos

e voz.

Pena, Tracy,

você nunca saberá. 

Embora dependente do tradutor, 

sou sensível o suficiente 

pra ser tocado

e me amarrar 

em tua alma. 


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O poeta e seus clichês



Então ele quis me impressionar 

com sua veia poética, o Zé. 

"Hoje eu vi Rosinha 

onde ela anda, será?

Vem, vem, Rosinha, 

logo você fode o meu lar".

Não suportei o troço. 

- Pô, Zé, isso é um baita clichê!

Aí ele ensaiou outro verso, 

aquelas rimas fáceis 

que vocês conhecem.

- Assim não, Zé!

Rapaz, tu desmonta a poesia,

o M. Quintana vai se revirar na tumba

e pedir pra ser expulso da Casa de Cultura. 


Deixei a poesia de lado 

e falei do cultivo das PANCs.

Ora, ora, sou especialista 

em Ora-pro-nobis. 

Zé aproveitou o embalo, e falou:

- Bah, cara, tu mete na cachaça, 

faz como se fosse um licor,

e salva a humanidade 

de seu problemas 

gastrintestinais!


Apostando na potência 

de minha crítica literária, 

o Zé me alcançou 

um manuscrito seu,

de ontem de noite.

Caralho, ao chegar no final do texto 

eu senti Baudelaire. 


BICHO, BAU-DE-LAI-RE, BICHO!


(B. B. Palermo)

Mariscos



A poucos metros do mar

sinto rebeliões

invisíveis. 

Bolas, cadeiras, guarda-sóis, 

crianças e suas ferramentas 

de plástico, 

buracos enormes na areia

que parecem obras de arte,

mães com seus baldes

aguardam a chegada 

e o recuo das ondas 

pra arrancarem da areia

graúdos mariscos, 

é dia de pastéis 

e de ingerir menos refris

e mais água com gás 

e cerveja se houver

queima de estoque. 

O mar,

em sua força

e natureza angelical 

e durável,

vai roncar pela

madrugada 

enquanto o nosso 

sagrado 

ou perturbado 

sono 

acontece. 


(B. B. Palermo)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Poeta do avesso

 


Alguns senhores, 

papos sérios - 

do alto de suas caipirinhas 

e uísques vagabundos -

não chegavam 

a um consenso 

sobre onde comprar 

a melhor carne do Texas. 

Aí o Zé olhou 

pra garçonete,

linda, 

discreta,

curiosa 

e gostosa,

e disparou:

- Menina, tu não quer devorar 

esse velho coração?


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Chegamos lá

 


Gatinhas de gesso,

com seus lindos olhos ausentes, 

nos observam dos pátios das mansões. 

É como se não nos vissem,

por isso não há corpo,

sexo ou resistência do ar.

Rancorosos, frequentamos academias,

invadimos baladas e sugamos 

aqueles drinks açucarados e depois

nos refugiamos sob as saias 

das mamães. 

Discurso próprio já era,

esperta, a palavra nos foge,

ficamos travados na hora 

de soltar o verbo,

mas não quer dizer que não há 

outras saídas:

compremos uma esteira 

e a instalemos na garagem, 

um lava a jato para nos ocuparmos 

nos fins de semana, 

dando novo visual 

aos carros e calçadas. 

Compremos uns 5 mil livros 

pra ocuparem nossas paredes e mentes ou, do contrário, 

doemos boa parte dos livros que temos

aos que fazem por merecer. 

Talvez seja indispensável uma barraca, 

mesmo sendo usada umas 2 X por ano.


Talvez a essência está em zelarmos 

as medalhas conquistadas na juventude, 

até sacarmos que nossa carcaça 

definitivamente se encontra 

bêbada 

e lúcida. 

Ufa! 

Chegamos lá!


(B. B. Palermo)

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No Instagram, me deparo com uma entrevista de um psiquiatra falando a respeito de uma droga ministrada a pacientes terminais, desenganad...