Estava num desses bares e
vi, pela calçada, passos inseguros, ofegantes...
‒ Caramba! É o Kafka!
Vinha num estado lastimável,
acho que bem pior que o meu.
A bichinha olhou-me nos
olhos e, ágil, mudou de rota, libertando-me do embaraço da troca de olhares.
Num lampejo, um pensamento
estranho ‒ que surgiu não sei de onde ‒ me perguntou:
‒ A POESIA NÃO MORREU?
Nisso, um casal e um menino
saíam do bar e quase pisotearam a criatura repulsiva que ousara atravessar o seu
caminho.
Não consigo entender, e isso
desperta uma puta inveja:
como pode o Kafka continuar
mais vivo do que nunca, mesmo sabendo que já faz 100 anos que ele partiu?
(B. B. Palermo)
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