Tentar despertar sonhos
noturnos para libertar o imaginário se parece com a libertação de um passarinho
da gaiola. O bicho tem medo de se libertar porque é nosso prisioneiro, e não o
queremos ver partir porque nos tornamos seu refém.
Pode ser obra do imaginário,
ou qualquer coisa absurda, mas sou ingênuo a ponto de acreditar que há no meu
inconsciente um Outro Eu, que me manipula, como se eu fosse um fantoche. Mas
confio Nele, a ponto de acreditar que Ele pode dar as respostas para as perguntas
que não consigo responder.
Às vezes imploro a esse “Eu
mais profundo” para que me ajude a me libertar, a fazer uma escolha num
universo cheio de possibilidades, que me tire a sensação de me sentir preso
numa gaiola.
Dia desses fiz um pedido aos
meus sonhos. Vocês podem rir mas, ultimamente, meus pedidos se resumem a obter
uma visão mágica de números que me façam acertar no jogo do bicho.
Como a pressão para tomar uma
decisão era intensa, pedi ao meu Daimon para que me trouxesse uma luz, me
ajudasse a escolher, entre: mudar de vez daqui e ir morar no norte do país,
para materializar um grande amor que conheci pela internet e também para ter
uma profissão mais digna, ou permanecer próximo de meu guri e de meus atuais
amigos.
Relaxei, meditei, pedi com
tamanha intensidade, que naquela madrugada recebi uma resposta através de um
sonho.
Estávamos, eu e meu filho, caminhando por entre as árvores de um bosque,
quando nisso uma enorme sucuri atacou o menino. Desesperado, ele gritou para
mim:
- Papai, me ajude!
Agi igualzinho ao Ulisses, da
Odisséia. Peleei com toda a valentia,
porque me sentia entre a vida e a morte, e tinha uma grande missão a cumprir.
Derrotei a cobra e libertei o
menino.
Acordei assustado, e durante
todo o dia permaneci atordoado com aquela mensagem do sonho.
Mesmo atordoado, não vacilei
naquele dia em jogar na “cobra”. Só jogo no primeiro dia porque, com o passar do
tempo, a rotina me conduz ao esquecimento, e eu deixo tudo como está.
Acreditem, o número da cobra
saiu dois dias depois. Deu na cabeça e no milhar!
Não tenho sorte no jogo. No
amor, pelo que eu me conheço, com o passar do tempo e com a rotina, tudo
permanece como naquela música, do Benito de Paula: “Tudo está no seu lugar,
graças a Deus, graças a Deus...”
Hoje, em vez de pedir respostas
ao meu Daimon, eu rezo para que ele me
ajude a segurar meu amor distante, como a Penélope da Odisséia. Que ela continue a tecer e desfazer o manto dos seus
sentimentos, afugentando os pretendentes que querem roubá-la de mim.
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