O cara falou de
seus contrabandos de armas e munições do Paraguai, anos atrás. As pessoas que
estavam em volta babaram, principalmente nas suas descrições do poder de fogo e
destrutivo dos calibres – eram fuzis, metralhadoras e por aí vai. Para cada
viagem que fazia, as encomendas já estavam pagas. Era muita adrenalina: o risco
de ser pego nas alfândegas, as propinas dadas aos policiais e tals.
Lá pelas tantas,
não me contive:
- Você já matou
alguém?
Ele pensou e pensou
e disse, olhar fixo nos meus olhos:
- Meia dúzia!
Foi então que eu
saquei: Tô rodeado de gente muito foda!
- E você, o que faz
da vida?
Disse pros caras que
tinha uma fazenda arrendada em Tupã, de pouco mais de 6 mil hectares. Cansei de
criar gado, então o meu contador, um Pitbull nas finanças, fez diversas
aplicações e investimentos, me garantido dinheiro pra uma dúzia de reencarnações,
se acaso tiver o privilégio de ser um dos escolhidos pelo grandão, de lá de
cima... Hoje em dia, faço algumas viagens por ano, América latina, Estados Unidos
e Europa. A viagem mais incrível, e que me rendeu diversas idas e voltas, foi
até Palermo, na ilha da Sicília. Não fui até lá assim no mais: conheci, pelo
Facebook, uma senhora, divorciada.
- Tá... e como vocês se
entenderam na língua?
- Rapaziada, eu domino
o dialeto italiano, mas, claro, é muito diferente dos sotaques deles. Aí, usava
o tradutor. Conversávamos através de chamadas de vídeo, no Messenger, isso a
qualquer hora do dia: antes de dormir, ao levantar de manhã, nos passeios, ela nos
restaurantes e eu nos botecos. Foi incrível, rapidinho nos entendemos na
linguagem do amor. Era o instinto, algo “animal”, vocês sabem, que nos
proporcionava várias “trepadas” virtuais.
Não deu outra, logo peguei
um avião e me fui. Rapazes, os beijos de língua da siciliana eram ferozes,
afiados! Pra fazer amor, pelo menos, eu me libertei do tradutor do Google. A
italiana era um tesão, puro fogo! E preparava aqueles pratos deliciosos da
culinária local, tipo Canolli, Torrone, Arancini e o que eu delirava todos os
dias: Pasta a La Norma. Sentia todo o amor por ela dedicado ao cozinhar, era
como se me servisse a alma, por isso meu apetite era insano – e só não engordei,
com certeza, porque queimávamos calorias de montão fazendo amor! Foi então que
passei a ter muita sonolência, bem estranho, e não era só de noite, era nas
sesteadas à tarde, que duravam horas.
- E aí? – perguntou um
dos malucos que me ouvia.
- Vocês não vão
acreditar: acho que durou um mês assim, dormindo pra caralho - por qualquer
coisa, eu ia pra cama e apagava. Depois desse período, voltei ao normal. Gente,
agora eu ouvia e falava a língua deles como se tivesse morado a vida toda na
Itália! Tenho certeza que foi meu subconsciente que fez todo o trabalho pra
mim!
- Maravilha! Diz aí... tu
vai morar com a ragazza em Palermo, ou vai trazer ela para o Brasil?
- Fazíamos planos...
Até que entrou em cena a Sophia, filha dela. Gurizada, o dia em que nos vimos,
no aeroporto - quando a ninfa chegou de viagem de Nova York, onde mora parte do
ano com o pai -, esse dia marcou e mudou a minha vida. A maneira como me olhou
fez cada milímetro do meu corpo soltar faíscas. Logo me veio a imagem da atriz,
a Sophia Loren, quando ainda era novinha. Lembram dos filmes dela no cinema? Foi
inesquecível!
- Tá... e aí? –
perguntou outro sujeito, que se aproximara no meio da conversa.
- Vocês não vão
acreditar... Outra hora, outra hora eu conto em detalhes o que rolou.
Senti que era hora de
dar uma pausa na minha história. Até eu comecei a acreditar naquilo.
(B. B. Palermo)