Pode ser que a qualquer momento surja algo surpreendente,
talvez a recompensa aos nossos brados
- como aquela torcida de um clube mineiro, gritando no estádio,
quando tudo parece perdido:
- EU ACREDITO!
Algo que abra o caminho como o trem de madrugada
cortando a neblina e arrastando o que vier pela frente.
Já estamos meio cansados das histórias que se repetem,
bem ou mal contadas, de tentativas e recuos
e muitos fiascos, é certo.
O X-Tudo aguarda sobre a mesa numa embalagem de isopor
e sei que ele vai esfriar.
É a última dose e logo estarei em casa, sentado no sofá, vendo TV.
O aquecedor roça meus pés como um cãozinho fiel,
trens vão e vêm e centenas de aviões subindo e descendo e,
para meu espanto (deleite?), um deles despenca dos céus
e a tragédia entope os noticiários e a TV -
mesmo sendo um mordomo pouco criativo -
me oferta de tudo:
análises dos peritos, relatos dos familiares das vítimas e etc. etc.
Lembro o que disse uma de minhas musas, Fernanda Torres:
- A vida é dialética!
Vida louca louca...
Um Xis-tudo requentado, misto de teatro,
bombas H descendo dos céus e multidões aguardando
a volta de Jesus.
A TV mandando ver, o aquecedor é meu servo preferido neste inverno
e até penso que vodca é água benta...
Aí, só me resta imaginar como seria legal
de novo embaralhar todas as cenas
e ser o último a sair pra então apagar a luz.
(B. B. Palermo)
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