Quando fui acertar a conta no bar,
pendurada nos últimos dias,
o bolicheiro não encontrou, no
caderno, o meu nome.
Ao repassar a longa lista de devedores,
encontrou um nome
que não servia de chapéu pra ninguém.
Era, simplesmente:
PATIFE!
Questionou o seu garçom adolescente,
e ele me apontou.
Todos no bar tiraram onda comigo.
Fiquei chocado.
Sou o psicólogo, o psiquiatra e
orientador vocacional
desse bando de maluquinhos
desnorteados que bebem
sem saber por qual
motivo, e eles me veem assim?
PQP!!
Eis que o Ninja ‒ um
andarilho que junta sucata ou, diga-se,
que não se importa
em recolher a merd* de lixo
que todo o santo
dia nós depositamos nas ruas ‒
foi ao banheiro e,
ao retornar, olhou fundo nos meus olhos,
e indagou:
‒ Palermo, hoje tu
vai falar de filosofia ou de poesia?
Desenvolvi uns
argumentos dignos de sua vida cotidiana
e me pareceu que
ele embarcou na minha viagem (pelo menos
ficou uns 2 minutos
me escutando...).
Pra conduzi-lo a um
espaço aonde o ar é mais leve,
arrematei:
‒ Garoto, cada um de nós ziguezagueia
às vezes chutando e
às vezes tropeçando
nas perdas do caminho.
Numa rotina
solitária, vamos bater de frente
e aprender com a
resistência do ar:
os beijos e
cusparadas e tapas
que levarmos da
realidade.
No mais, caro
Ninja, são cálculos, métodos, conceitos e fórmulas
criadas pra nos
encurralar e encaixotar e jogar numa vala comum
num cemitério
qualquer.
Ali por perto, ouvindo
a minha falação,
o imprestável do garçom
(que pede ajuda pra calculadora
até pra somar 7 + 7)
comentou, num riso indisfarçado:
‒ Esse PATIFE tá
enrolando de novo!
(B. B. Palermo)