sábado, 12 de outubro de 2024

Eterno retorno


Eis o mundo real em sua marcha lenta,

pacífica, rimada e bem comportada.

Ele ri e cochicha ao observar

o palerma voltar ao lar de madrugada

flanando pelas ruas como um bailarino bêbado

amparado por umas pernas de pau.

 

 

Confuso, ouço muitas vozes,

às vezes familiares,

às vezes bizarras:

 

“A SALVAÇÃO ESTÀ

EM CUIDAR DO TEU JARDIM.

Não liga pro rosnado dos animais

que riem de ti!

Repara, Cadelão, ferve por todo o lugar

o eterno retorno  – regras planas,

comportamentos carimbados,

todos cópias de outras cópias!

Filhos imitam pais, pais repetem os avós...

E vão sendo costuradas

ridículas árvores

genealógicas”.

 

Saquei a coisa.

Não há salvação se imitarmos uns fanáticos

pichando versículos e provérbios

nos muros e paredes e calçadas.

Não há salvação, mas sim (talvez) um singelo

caminho:

ouvir com sinceridade pequenos budas

que me acariciam como chuva de verão,

lembrando do bom e velho dever de casa:

 

“Fique alerta, Cadelão!

Não perca as rédeas

do teu EU interior!”.

 

(B. B. Palermo) 

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