As fotos dessas garotas em seus perfis no WhatsApp e Facebook - de
sorrisos encantadores e batons vermelhos e poses com pouca roupa - combinam com
o calor de 40 graus e a sede por espalhar a sensualidade.
A meteorologia não traz esperança, e o clima derrete minha paciência nessa
virada de ano.
A TV mostra e mostra a pirotecnia que será a queima de fogos nas
principais capitais do país. São esperadas 3 milhões de pessoas em Copacabana.
Grandes shows num palco gigantesco em São Paulo.
Todos correm e gritam e sorriem e renovam os sonhos.
Não conseguirei sentar diante da TV, "com a boca escancarada cheia
de dentes esperando..." o dia primeiro de janeiro de 2020 chegar.
Aqui estou surfando na turbulência de um grande tédio.
Todos os anos, a televisão e o resto da mídia e as pessoas se comportam
do mesmo jeito: previsíveis.
Numa mesinha de um bar eu refletia sobre essas coisas, quando notei um
sujeito descer do carro, falando no celular.
De imediato mapeei seu perfil: eis um cara prático, deve ser engenheiro
ou dono de loja de peças para máquinas pesadas.
Aqui está um dos nossos grandes e feios defeitos: partir para conclusões
apressadas.
Ele pode ter sido ator famoso de nossa Broadway, ou de Hollywood.
O rei da soja no Centro-oeste brasileiro.
O cara que bancou a mais gostosa da Playboy...
Eu aqui julgando, limitado pelas pretensões de minha míope visão.
Pela manta surrada, de tantos invernos.
Pelo capuz do meu resfriado.
Pela jaqueta e uísque e aparelho de som do Paraguai.
O dia 31/12/2019 é de um calor broxante.
E na minha cabeça o inverno entrou de férias
e levou consigo meu punhado de paciência para com as coisas do mundo.
Somos dois, com essas conclusões deprimentes de mais uma virada de ano, mas ainda assim feliz 2020 pra você!
ResponderExcluirCara, obrigado, igualmente pra você! Mesmo sabendo que são meras convenções e de que é um grande apelo comercial, é difícil escapar de um certo tédio... Ainda bem que no dia seguinte isso passa. Abração!
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