Sim, estou preocupado com as queixas das garotas a respeito
desses caras insensíveis que só querem ficar, presos ao seu orgasmo e prazer
animal, fugindo de compromissos mais sérios. Também me sinto de coração
partido, Baby, apesar de admitir que o meu coração, como o desses caras, é
de galináceo. Mas não escrevo textos românticos para agradar, e até
enganar, numa linguagem açucarada. Minha ilha não tem apenas paisagens deslumbrantes.
Se a primeira imagem é de praia paradisíaca, no subsolo alastra-se o esgoto, que
destroça corações e mentes.
Sim, se escrevesse bem poderia ser lido por multidões, publicando
auto-ajuda. Mas não seria sincero, estaria em contradição com o que passa no íntimo.
Seria hipócrita se espalhasse aos quatro ventos (como o faz
a multidão, nas redes sociais, por exemplo) o que é certo e errado, e endeusasse o
"certo", quando no meu eu mais profundo agitam-se desejos e fantasias
impublicáveis de tramas e traições, de banquetes e surubas.
Sou contraditório. Mas quem não é? Na primeira parte do dia,
nas manhãs tranquilas, desejo abraçar todo mundo. Mas, compreendam-me, é impossível
passar o dia todo em serena voltagem. E isso, vejam bem, que me afastei das páginas policiais e políticas dos jornais, sites, rádio e TV.
Hora de buscar um pouco de glicose.
Chocolate.
Hora de buscar um pouco de glicose.
Chocolate.
Compreendam-me, não consigo suportar muitas horas do dia
cantando em silêncio ou a plenos pulmões as mais românticas canções. Agitam-se pensamentos
obscuros, energizados pela ira e a inveja.
Não, Baby. Nossa mente racional é apenas uma fatia do bolo.
Depois de uma bebida, pílulas e outras drogas, teu verbo arromba as grades, como
se fossem gaiolas de alumínio. E então, naturalmente, transformo-me num
cafetão irado e você numa bela ninfeta super star do happy hour.
(Diário de B. B. Palermo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário