Vejam, até o mamão, de que gosto muito, vem com selo!
Igual qualquer outro produto, carimbado, mamão com chip, com dono, mamão vigiado.
Inocentemente nos cercamos de marcas, câmeras...
"Eu etiqueta", denunciou num poema o Drummond.
Por onde andei nos últimos dias... basta rastrear as câmeras discretamente instaladas nos caminhos onde passo, ou rastrear as ligações do meu celular.
Nesse, meus contatos dão a mostra de minhas intenções (boas e más, as que serão analisadas por Jesus e festejadas pelo demônio, é o que diz o pastor da igreja mais próxima), tudo o que tramei e o que imaginei, se ainda consigo imaginar.
Como somos inocentes em nossa romaria a caminho do matadouro...
E eu saio a vagar por aí, e também me vigio. Sem querer me ponho a pensar sobre como deve ser o paraíso. Porém, o que é o paraíso só o posso saber pela minha imaginação. Assim, ele é a extensão do que eu gostaria que minha vida fosse aqui, nesse espaço/tempo finito. Muitos amigos, muitas histórias, alegria, fartura, solidariedade, muita informação, conhecimento, cultura e arte.
Cabeça no céu, naquilo que ainda não foi, acabo fugindo desse mundo aqui, agora. Não contribuo em nada para dar um norte a essa sociedade, de que participo.
Mamão com selo. E código de barras. E destino selado. E maturação forçada. E precoce. E fora de época...
Ele não sabe, e nós também, que rapidamente esquecemos, que o que vale é o aqui e agora. E que se não fizermos nada, vamos passar em branco, não vamos fazer história.
Ao mamão, pouco importa. Não, para mim. Penso nisso e me deprimo.
Sou carimbado, vigiado, e me conformo em ficar de braços cruzados.
Ah, sempre esperto para apontar um culpado, e dizer, com Sartre, que o inferno são os outros.
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