quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Dança


As bailarinas do box do banheiro
dançam quando passo por lá.
Vivo a dança de amores 
- um toma lá dá cá.
E sempre danço.
(Teco, o poeta sonhador)

sábado, 28 de julho de 2018

Sinto tua falta

Quem vive fazendo arte, vive do excesso e da falta.
Muita chuva e pouco sol acabam em melancolia e nenhuma poesia.
Neste espelho, escutando teu silêncio, perdi o verbo, a paciência e o humor.
Alegres, garrafas e adegas e amigos aguardam para brincar com suas verdades.
Roupas no varal que não secam, folhas em branco que aguardam meus versos.
Quis fotografar e compartilhar com anônimos o eclipse lunar, mas o personagem principal, o sol, não apareceu.
“Pense grande. “Tudo está em tuas mãos. “Você é o centro do mundo”, dizem os gurus. Distribuem uma luz em múltiplas parcelas. Ingênuos, esquecem que a lâmpada precisa acender no interior de cada um.
Quero ser do tamanho do amor que me falta.
Por favor, alguém lembre o sol de te avisar que estou implorando pra você voltar.

(B. B. Palermo)

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Várias vidas



Perspectivas (otimistas) de mulheres e homens



“As mulheres são ingênuas, acreditam que o seu homem vai correr atrás delas a vida toda (...). As mulheres cultivam a fantasia de que o verdadeiro amor é capaz de transformar os homens. Quando isso não acontece, e isso nunca acontece, elas perdem o orgulho e viram esses farrapos que a gente vê por aí” (Fernanda Torres. Fim).

“Abano o rabo, lambo a mão, e ela me acusa, dedo em riste. Está sempre pronta pra dar o bote, o conselho, a ameaça mil vezes repetida. Românticas e verdadeiras, até parece, depois de te fisgarem, correm atrás de uns pilantras. Ninguém sabe o que uma mulher quer. Tenho um amigo que sempre repete: ‘Me diz quem tu tá pegando e te direi o que sobrou de ti’. O ingênuo se juntou a uma psiquiatra. Reclama que não consegue respirar, mas não salta fora. Me garante que o poder feminino é ancestral, já está escrito nas narrativas mitológicas. De sua experiência própria, chegou à seguinte conclusão: o objetivo de uma mulher é destruir um homem (B. B. Palermo. Palermices).

quarta-feira, 11 de julho de 2018

A moral da deusa



A deusa de gesso daquele jardim, vestida de um jeitinho indecente, sexualmente impossível, diverte-se do meu (desa)broxar. Não tenho raiva. Tenho pena. Enquanto sou livre para escolher e tentar de novo, ela passará a vida imóvel, exposta à chuva, ao frio e ao sol.  
                                                     
(B. B. Palermo)

terça-feira, 26 de junho de 2018

On the road - Pé na estrada - Jack Kerouac


Pessoas mesmo são os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns...
***
No bar eu disse: " Porra, cara, sei muito bem que você não me procurou só porque tá a fim de virar escritor e, afinal de contas, o que é que eu posso te dizer sobre isso a não ser que você tem que mergulhar nessa história com a mesma energia com que um viciado se droga?" E ele disse: "Sim, é claro, entendo exatamente o que você quer dizer e também já tinha pensado nesses problemas, mas o caso é que eu realmente tô a fim de concretizar todos meus anseios, só que, como qualquer outra realização íntima, eles parecem depender, de alguma forma, da dicotomia de Schopenhauer que, por sua vez..." e assim por diante, dessa maneira tão ininteligível para mim quanto para ele.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Sonhos são...


Sonhos são enchentes ou incêndios, compromissos em que chego atrasado, são meus desejos não correspondidos por aqueles pequenos NÃOS cotidianos. Imagens simples, talvez gravadas no inconsciente, desde a infância, como não me deixarem pegar a isca e colocar no anzol, me afastarem dos caniços e outras ferramentas que me dariam imensa satisfação, ainda mais quando grandes peixes e águas turvas e agitadas desfilam diante dos meus olhos e riem da minha impotência.
O final, o despertar, é de espanto, quando não de uma certa tristeza.
Durante o dia eu sei que devo anotar o que sonho e me esforçar para encontrar neles uma lógica, um roteiro, um início e meio e fim.
Ao sonhar corro atrás do que me falta, e a grande quantidade de cenas me envolvem como um indefeso fantoche, jogado pra cá e pra lá em meio ao fluxo do mundo.
Isso tudo tem um lado divertido. Corro até o Google e consulto sites de interpretação dos sonhos. Das cenas que me lembro, ontem sonhei com fogo, água e peixes. É reconfortante rifar algumas explicações que são dadas aos sonhos. Por exemplo, peixe: “Se o peixe estiver vivo, você terá boas notícias, no tocante a melhorias financeiras e à mudança de residência”. Fogo: “Ver: sorte no jogo, tanto maior quanto intenso for o fogo”. (Como o incêndio do meu sonho foi mais ou menos, hoje vou jogar um valor mais ou menos no Bicho, na cabeça e na centena e no milhar). Água: “Limpeza, purificação, corpo e espírito sendo descarregados. Água corrente: todo o mal está sendo levado para longe”.
Bem que tudo isso poderia funcionar, literalmente, em nossa vida, sim, mesmo para um palerma que passa o dia sentado dando milho aos pombos.
E tem um outro lado, agora um pouco mais trágico. Ao tentar ordenar essas imagens todas é importante rir de si mesmo, sentir-se parente de Dom Quixote, um sujeito meio mentecapto, senil e a dois passos do hospício.

(B. B. Palermo)

terça-feira, 12 de junho de 2018

Boate azul


Uma coisa legal das casas noturnas é que, se você tem grana, você pode escolher música boa para ouvir. Pagando, as garotas até se esforçam para entender e curtir aquele som que não é lugar comum. Hoje, um dos lugares comuns é o sertanejo universitário.
Uma música que marcou minhas primeiras incursões em casas noturnas foi “Boate azul”. Caramba, os caras que a compuseram captaram muito bem o sentimento desses solitários amantes se arrastando de madrugada em busca de afeto.
Nas primeiras dores de corno eu literalmente desejava cortar os pulsos. Com o tempo aprendi que a bebida, especialmente a cerveja, me alegra e então os pulsos permanecem preservados. Aprendemos com a idade a ter cautela e paciência e até uma certa resignação, e então a operação de “cortar os pulsos” – aquele impulso de querer partir dessa – não passa de uma metáfora. Mas que isso dói, ah se dói.

(B. B. Palermo)

Pílulas diárias de fofoca

  – Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...