Barão de Munchausen é um personagem de aventuras em que o herói realiza façanhas pra lá de impossíveis do ponto de vista da normalidade e da compreensão lógico-racional. Numa das aventuras o barão, montado em seu cavalo, depara-se afundando num pântano de areia movediça. Está perdido, pois não pára de afundar. Nisso o barão é iluminado pela seguinte idéia: puxar-se pelos próprios cabelos e, assim, sair do buraco em que afundavam, ele e o cavalo.
Em filosofia esse recurso é visto como um problema lógico insolúvel, uma situação em que não há saída. Por exemplo, ao apresentarmos a defesa de uma idéia e, para isso, recorremos a uma premissa absurda – porque não tem sustentação lógico-racional.
Todo o dia, desde crianças, engolimos frustrações, porque vivemos o jogo de estímulos e apelos constantes para desejarmos ter alguma coisa, (e a sua relação com um ideal de felicidade – identificar-se com os objetos de consumo), e a negação disso tudo, tendo em vista nossa condição social e existencial. Nesse jogo entre oferecer e negar, vamos empilhando frustrações.
Diante dos nãos que a vida e a sociedade nos dão, é preciso buscar saídas. E a maioria, em vez de buscar uma luz em si mesma, volta-se para o exterior. Uma religião, grupo de boêmios, drogados ou, até, nos medicamentos (faixas pretas).
Com certeza, a literatura serve como grande auxílio para fortalecer nosso eu. Os grandes textos, romances, poemas etc., com seus personagens (heróis, vilões), bem como os valores que estão em jogo, vão fortalecer os alicerces de nosso eu interior. Assim estaremos melhor preparados para enfrentar tsunamis e tempestades.
Podemos alisar os cabelos, ficarmos horas diante do espelho, ou sonhar com saídas absurdas para nossos problemas. Mas eles, os problemas, vão e voltam. Por isso necessitamos fortalecer nossas defesas. Que tal um bom livro na cabeceira da cama, em vez de caixas de remédio em cima da cômoda?