sexta-feira, 14 de agosto de 2009

NOITE



A noite me diminui


(Manoel de Barros)


Quando a noite chega

e falta a luz

reviro gavetas

atrás de velas

lanternas e pilhas.


Sou anão

e não consigo viver

heróis e vilões

que ganham a noite.


A chama da vela

espanta os mistérios

- deixo pro sonho delirar

na hora de dormir.


Sei, não estou

crescido o suficiente

para brincar

a travessura da noite.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009




Não somos o cavalo do mocinho

nem príncipes e tantos outros

personagens de aventura.


Agora damos de cara

com tantas histórias

de contos de fadas

princesas encantadas

lobos e três porquinhos

vovós e chapeuzinhos

maçãs envenenadas

e anõezinhos...


Não vale mais a pena

lutar, dia após dia,

com o dragão que prendeu

a princesa na torre do castelo...


- Não é mesmo? -


Vou brincar com palavras

seja de noite, seja de dia,

e enganar minha fantasia!


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

DIÁLOGO - Mario Quintana


- Que fazia Deus antes da criação?

- Dormia.

- E depois?

- Continuou a dormir.


- Mas Ele não tem de cuidar do mundo?


- Ele está é sonhando o mundo: está sonhando até nós dois aqui conversando...

- Cruzes! Cala-te!

- Fala mais baixo...

domingo, 9 de agosto de 2009



Pra mostrar a todos

minha coragem

vou fazer uma tatuagem

em vez da sina

de ter um buraco de vacina

vou desnudar no braço

uma nova imagem.


Meu pai diz não

e me dá um brinquedo

Mamãe só rosna

e me bota medo

mudei de idéia

ao devorar um pote de geléia

e comer as unhas dos dedos!


sábado, 8 de agosto de 2009

MEU PAI

Meu pai tem que usar óculos para colocar a isca no anzol. Mas gosta cada vez mais de pescar.


Meu pai não lê as bulas de remédio, mas sabe de cor a maneira mais saudável de se alimentar.


Meu pai tem olhos perfeitos para enxergar longe, mas às vezes tropeça e se confunde com o que está debaixo do seu nariz.


Meu pai já teve mais paciência com seus amigos, mas continua a abrir as portas para eles.


Meu pai vive chamando a atenção sobre o certo e o errado, mas agora, acho que de tanto ler os jornais, silencia e aceita as coisas erradas dos governantes, que ele ajudou a escolher.


Fico orgulhoso do esforço de meu pai, embora muitas vezes ele se preocupa demais com o futuro, e esquece das coisas do presente.


Meu pai é meio distraído, ou finge não perceber tanta coisa que se passa comigo. Finge, sim! Porém, ator de tantas promessas e trapalhadas, meu pai é o melhor pai do mundo!


Ah, ia me esquecendo: mesmo distraído pra tantas coisas, meu pai nunca deixou de sonhar!


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

POETANDO - Flávia Menegaz



PAIXÃO

Não me lembro bem do dia em que me apaixonei pelo Aurélio.

Não sei se procurava pelo Antônimo, pelo Sinônimo, ou seria a Ortografia...
Ou será que, simplesmente, eu passava distraída?

Só sei que ele é mesmo estupendo! Ou melhor, esfuziante!
Às vezes é esdrúxulo, prolixo e até intrincado...
mas, quem é perfeito?

E mesmo sabendo que no arcóseo
há uma quantidade significante de feldspato,
eu não me importo.
Gostoso mesmo é esburgar as palavras!

sábado, 1 de agosto de 2009

MANDALIQUES - Tatiana Belinky



Limerick, em inglês, é o nome de um poema bem-humorado, feito de cinco versos. Os dois primeiros versos rimam com o último, enquanto o terceiro e quarto versos, mais curtos, rimam entre si. Um dos grandes expoentes nessa arte foi o inglês Edward Lear (1812-1888), mas quem fez com que o limerick se tornasse limerique mesmo, em português, foi Tatiana Belinky.


Uma das personalidades literárias mais conhecidas no Brasil, Tatiana Belinky nasceu em 1919, na Rússia, e chegou ao nosso país com dez anos de idade. Além de traduzir clássicos como Tolstoi e Tchekhov, criou e adaptou para a televisão inúmeras obras de literatura, dentre as quais se destaca a série O Sítio do Pica-pau Amarelo. É autora de mais de cem livros.


Sou um infeliz baderneiro.

Só quero fugir bem ligeiro:

Me mandam pra Marte

Ou pra qualquer parte

- Não sei para onde ir primeiro!



Comigo até a dona Marta

Brigou:- Eu de ti já estou farta!

Me deixa em paz

E suma, rapaz:

- Vai para o raio que o parta!


Eu acho o Janjão meio insano!

Com suas orelhas de abano

Em cima da hora

Mandou-me embora

Urrando: - Vai carregar piano!


As coisas comigo são chatas:

Até três simpáticas gatas

Mostraram-se bravas.

Mandaram-me às favas:

- Babaca! Vai plantar batatas!


Não sei se eu fico ou se chispo,

Não sei se me visto ou me dispo,

Quando o delegado,

Um tanto entediado,

Me diz: - Vai se queixar pro bispo!


Só espero um dia que chegue

Que eu possa montar no meu jegue

E todos aqueles

Mandões, todos eles,

Mandar: - Pro diabo que os carregue!


quinta-feira, 30 de julho de 2009

FÉRIAS



As crianças

tamborilam

pernas e dedos

para criar mais e mais

brincadeiras nas férias...

O tempo passa rápido

e os jogos indecisos

não espantam

o calendário e a ordem

que prende as horas.

Logo tem que voltar pra escola

com o tema de casa em dia

e o dia continua a ter

vinte e quatro horas.


terça-feira, 28 de julho de 2009

CANTIGAMENTE - Léo Cunha




PERGUNTA DE CRIANÇA

Intriga de adulto
não intriga criança.

- O que é que ele faz?
- Onde é que ele mora?
- Quem é seu pai?

Criança só quer saber o que conta:
- Que tamanho ele tem?

TECO - desenho de Guilherme Barroso



Poeta

inspirado

naqueles

que apanham

o instante

na hora exata

do tropeço

e do saco de batatas

esparramado no chão.

Teco não é poeta

de memória

pra fazer chorar.

Teco é contador de histórias

que o povo quer ouvir e contar!


sábado, 25 de julho de 2009

JARDINS



JARDINS – baseado numa crônica de Rubem Alves


Para Bachelard, "o universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o paraíso". Será que Deus, diante da escuridão e da confusão que era o universo, não sonhou com o paraíso (o seu jardim), repleto de cheiros de flores e ervas? Dizem os textos sagrados que as coisas que rodeavam Deus deixavam-no triste. "Foi então que ele sonhou com um jardim e compreendeu que era aquilo que o deixaria feliz, se existisse. E se pôs a trabalhar para plantar um paraíso. Terminado o trabalho, o Criador descansou, e se entregou ao puro prazer. Viu que tudo era muito bom (...) e resolveu que lugar melhor para se morar que um jardim não existe. E lá ficou, tomando prazer especial em passar em meio às plantas, à hora da brisa quente da tarde" (Rubem Alves).


Sonho com um jardim, e esse é um sonho apenas meu, resultado das lembranças plantadas dentro de mim, parentes das minhas saudades. Tudo isso para ressuscitar "o encanto dos jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas". Todos sonhamos com um jardim. "Em cada corpo, um Paraíso que espera..."


Nos sonhos fundamentais da humanidade não havia todo o artificialismo que hoje impera. Os metais, a eletrônica, não podem roubar de nosso imaginário as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas. E também nosso mundo interior não pode se tornar metálico, sideral, vazio...
Disse o místico medieval Angelus Silésius:

Se, no teu centro um Paraíso não puderes encontrar, não existe chance alguma de, um dia, nele entrar.


O poema de Cecília Meireles revela nosso lugar e nosso destino:

No mistério do Sem-Fim, equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro: no canteiro, uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro, entre o planeta e o Sem-Fim, a asa de uma borboleta.


Somos a borboleta. E nosso destino, um jardim.

(Alves, Rubem.
O Retorno e Terno - Crônicas).


Pílulas diárias de fofoca

  – Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...