Você esbanjou coragem e audácia,
correu atrás de atividades esportivas
e alimentação saudável, está
envelhecendo
e percebe que é hora de se cuidar.
Isso vale, dizem, para o amor, os
negócios,
planos e desejos.
O poeta Zé levantou voo e
transcendeu.
Não sabemos até que ponto desejava
partir.
Deixou entre nós um punhado de cinzas:
delicadas, dóceis, embaladas e
disponíveis para amigos e familiares,
e punhados de poemas com palavras cheias
de reticências
e frases pela metade, que continuam
gritando:
- Recolham e publiquem minhas alegrias e lamentos
rabiscados em guardanapos nesses bares da vida.
Eles não podem virar cinzas!
O lugar pra onde se mudou deve ser
menos sofrido
e, daqui, aguardo suas novidades.
Meio esquisito, cruzo pelo Sabiá, o João-de-barro
e o cachorrinho, na rua, e eles me
perguntam:
- Por que você anda tão triste?
Nenhuma filosofia ou manual do luto -
com ou sem prazo de validade -
vai acalmar as repetidas ondas cósmicas
que arrebentam
nas areias do A. Texas, indagando:
- Por quê? Por quê?
A saudade me acompanha.
Passo diante da casa do poeta e
constato: ela também virou pó.
Retiraram janelas, portas, telhado,
paredes... e uma enorme retroescavadeira
e caminhões limparam tudo, deixando
apenas um terreno
à espera de um novo lar.
Tudo passa, tudo se renova e se
transforma, até o esquecimento?
Deixarão de pensar em nós, logo
depois que partirmos?
Meu consolo é acreditar que agora o
Zé vai ditar seus poemas
para algum pequeno príncipe
embriagado, de um planeta qualquer.
“Se a única coisa
que levamos é aquilo que vivemos,
vou me esforçar
para viver aquilo que quero levar”
(Gabriel Garcia Márques).
(Pensamentos & poemas espirituosos)

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