quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A saudade está sempre por perto

 


Você esbanjou coragem e audácia,

correu atrás de atividades esportivas

e alimentação saudável, está envelhecendo

e percebe que é hora de se cuidar.

Isso vale, dizem, para o amor, os negócios,

planos e desejos.

O poeta Zé levantou voo e transcendeu.

Não sabemos até que ponto desejava partir.

Deixou entre nós um punhado de cinzas:

delicadas, dóceis, embaladas e disponíveis para amigos e familiares,

e punhados de poemas com palavras cheias de reticências

e frases pela metade, que continuam gritando:

- Recolham e publiquem minhas alegrias e lamentos

rabiscados em guardanapos nesses bares da vida.

Eles não podem virar cinzas!

 

O lugar pra onde se mudou deve ser menos sofrido

e, daqui, aguardo suas novidades.

Meio esquisito, cruzo pelo Sabiá, o João-de-barro

e o cachorrinho, na rua, e eles me perguntam:

 

- Por que você anda tão triste?

 

Nenhuma filosofia ou manual do luto - com ou sem prazo de validade -  

vai acalmar as repetidas ondas cósmicas que arrebentam

nas areias do A. Texas, indagando:

 

- Por quê? Por quê?

 

A saudade me acompanha.

Passo diante da casa do poeta e constato: ela também virou pó.

Retiraram janelas, portas, telhado, paredes...  e uma enorme retroescavadeira

e caminhões limparam tudo, deixando apenas um terreno

à espera de um novo lar.

 

Tudo passa, tudo se renova e se transforma, até o esquecimento?

Deixarão de pensar em nós, logo depois que partirmos?

Meu consolo é acreditar que agora o Zé vai ditar seus poemas

para algum pequeno príncipe embriagado, de um planeta qualquer.

“Se a única coisa que levamos é aquilo que vivemos,

vou me esforçar para viver aquilo que quero levar”

(Gabriel Garcia Márques).

 

(Pensamentos & poemas espirituosos)


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