Sem ninguém para compartilhar um papo decente, meu outro eu (cada vez mais sacana e implicante, o Cara!) chamou o velho Bukowski pra tomar umas no bar.
Buk não suporta falar de literatura.
Sempre manteve distância de escritores e críticos literários.
- Palermo, eu sempre quis ser outsider na literatura. Vá por mim, não te preocupe com um possível fracasso. Trabalhe doido, solto e macio... Não ligue para as multidões, elas são dependentes umas das outras. Tua única dependência é ter mais papel, mais cerveja, mais sorte, uma trepada de vez em quando e tempo bom.
Algumas semanas depois, não foi a imaginação nem a poesia, mas sim a vida real que, espertinha ou solidária, botou a Serena no meu caminho.
Rápido, reuni talento não sei de onde e, embora meio fora de forma, consegui penetrar - feito água lenta e persistente – pelas frestinhas do seu mundo, pra lá de misterioso.
Em duas semanas a paixão nos atropelou.
Fora de forma, meu tesão doido desobedeceu o processo da conquista.
A ansiedade para surpreendê-la nos momentos íntimos expulsou minhas prodigiosas ereções.
Mas o que é de um homem sem o pau duro?
Eis uma questão filosófica para desmembrar. Só que eu não queria filosofar, eu queria era sexo!
Pelos olhos e boca da Serena, a filosofia veio mansa e tomou conta do sofá aberto, almofadas espalhadas. E veio com o filósofo grego Sócrates, dizendo num certo diálogo platônico que o conhecimento não é uma criação humana, mas ele já existe, basta sermos conduzidos por um bom mestre, que assopre nossas lembranças e nos faça rememorar ou relembrar aquilo que já sabíamos e que herdamos não sei de onde.
No embalo, Serena tirou da cartola todos os livros do Kardec, e fez uma baita palestra sobre as novidades do espiritismo.
Agarro a palavra de volta, Serena me escuta (ufa!), e digo que Platão e Sócrates viajaram pra caramba nas ideias, a ponto de inspirar algumas religiões, tipo o cristianismo – colocando nosso corpo e tesão em segundo plano, como se fossem a porta de entrada para o pecado.
Não paro de falar, enquanto mordo de leve os seus lábios, contornando sua boca como quem faz uma rotatória no centro da cidade, a língua patrolando tudo o que vem pela frente e os dedos da mão direita percorrem com força os contornos de sua calcinha preta sob o short...
Mãos de polvo sobem e descem pelas suas costas, ajeitam e agarram sua cabeleira nuns beijos selvagens, minha língua driblando a dela e indo mais e mais fundo, e é o bastante para o meu pau se libertar de sua hibernação.
Eis então que o sacana do Platão me sacode e esbofeteia, dizendo que as paixões são apena sombras, passam bem longe da verdade – esta mora no reino intelectual.
Outra vez minhas ereções e nossos sonhados orgasmos ficaram pra depois. Quem espera sempre alcança. Amém.
(B. B. Palermo)
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