segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Quem espera sempre alcança


Sem ninguém para compartilhar um papo decente, meu outro eu (cada vez mais sacana e implicante, o Cara!) chamou o velho Bukowski pra tomar umas no bar.
Buk não suporta falar de literatura.
Sempre manteve distância de escritores e críticos literários.
Disse-me, numa voz rouca e pausada:
- Palermo, eu sempre quis ser outsider na literatura. Vá por mim, não te preocupe com um possível fracasso. Trabalhe doido, solto e macio... Não ligue para as multidões, elas são dependentes umas das outras. Tua única dependência é ter mais papel, mais cerveja, mais sorte, uma trepada de vez em quando e tempo bom.
Algumas semanas depois, não foi a imaginação nem a poesia, mas sim a vida real que, espertinha ou solidária, botou a Serena no meu caminho.
Rápido, reuni talento não sei de onde e, embora meio fora de forma, consegui penetrar - feito água lenta e persistente – pelas frestinhas do seu mundo, pra lá de misterioso.
Em duas semanas a paixão nos atropelou.
Fora de forma, meu tesão doido desobedeceu o processo da conquista.
A ansiedade para surpreendê-la nos momentos íntimos expulsou minhas prodigiosas ereções.
Mas o que é de um homem sem o pau duro?
Eis uma questão filosófica para desmembrar. Só que eu não queria filosofar, eu queria era sexo!
Pelos olhos e boca da Serena, a filosofia veio mansa e tomou conta do sofá aberto, almofadas espalhadas. E veio com o filósofo grego Sócrates, dizendo num certo diálogo platônico que o conhecimento não é uma criação humana, mas ele já existe, basta sermos conduzidos por um bom mestre, que assopre nossas lembranças e nos faça rememorar ou relembrar aquilo que já sabíamos e que herdamos não sei de onde.
No embalo, Serena tirou da cartola todos os livros do Kardec, e fez uma baita palestra sobre as novidades do espiritismo.
Agarro a palavra de volta, Serena me escuta (ufa!), e digo que Platão e Sócrates viajaram pra caramba nas ideias, a ponto de inspirar algumas religiões, tipo o cristianismo – colocando nosso corpo e tesão em segundo plano, como se fossem a porta de entrada para o pecado.
Não paro de falar, enquanto mordo de leve os seus lábios, contornando sua boca como quem faz uma rotatória no centro da cidade, a língua patrolando tudo o que vem pela frente e os dedos da mão direita percorrem com força os contornos de sua calcinha preta sob o short...
Mãos de polvo sobem e descem pelas suas costas, ajeitam e agarram sua cabeleira nuns beijos selvagens, minha língua driblando a dela e indo mais e mais fundo, e é o bastante para o meu pau se libertar de sua hibernação.
Eis então que o sacana do Platão me sacode e esbofeteia, dizendo que as paixões são apena sombras, passam bem longe da verdade – esta mora no reino intelectual.
Outra vez minhas ereções e nossos sonhados orgasmos ficaram pra depois. Quem espera sempre alcança. Amém.
(B. B. Palermo)

Quem espera sempre alcança

Sem ninguém para compartilhar um papo decente, meu outro eu (cada vez mais sacana e implicante, o Cara!) chamou o velho Bukowski pra tomar u...