Caminhava pela calçada
e bati de frente com um velho solitário, jeito de transtornado. Falava alto e –
mesmo que estivesse a poucos metros de distância – não deu por mim.
O final do dia,
além de abafado, anda estranho – pensei.
Quando era criança,
cenas como essa impressionavam:
– Nossa! Um louco!
Cuidado, gurizada!
Mas quem liga pra
isso hoje em dia?
Algumas vezes, ao
retornar pra casa do bar – meio que levitando – também falo sozinho. Porém,
tomo o cuidado de o fazer um pouco tarde da noite, quando a comunidade assiste
TV ou está num sono profundo.
Se é noite de luar
ou o céu está estrelado, converso animadamente com as estrelas e a via láctea –
representantes de Deus aos nossos olhos, dizem.
Aos 18 anos, quando
servi o exército – numa cidade que ficava a uns 700 quilômetros de onde morava
–, trocava cartas com uma garota adolescente. Depois de despachados pelo
correio, os suspiros amorosos demoravam mais de uma semana pra tocarem seu
coração. Recebia a resposta da garota –
contida, racional, se comparada aos meus delírios poéticos – mais de 2 semanas
depois.
Podia ter escapado
de servir o exército, mas disse ao comandante, na entrevista derradeira, que
queria ficar. O que fiz aos dezoito anos eu faço até hoje: gosto de sofrer,
gosto de sentir saudade – morando longe das pessoas mais próximas. Quanto a
isso, psicanalistas e psiquiatras têm o conceito na ponta da língua para
"classificar" meu tipo de neurose. Fodam-se!
Ou esses experts
diriam que foi uma atitude louvável de minha parte: a busca pelo novo; não me
acomodar ou me prender à aldeia em que nasci e cresci.
Se eu não sabia o
que queria, parece que já sabia o que NÃO queria. Insistiram para que fizesse
carreira no exército – mas, realmente, não nasci pra isso.
E tu nasceu pra
que, então, seu bucéfalo? – perguntariam vocês...
Pelo menos durante
década e meia, escrevia muitas cartas. Não sei como as garotas suportavam
páginas e páginas daquelas "viagens" – será que elas guardaram as
cartas ou as rasgaram ou queimaram ou as depositaram numa lixeira?
Acho que esse é o
ponto: talvez o exercício da escrita salve, liberte ou evite que o ridículo reboleie
pelas ruas falando sozinho.
Ao recordar minha juventude
– mais do que fominha ou patético – até acho engraçado. Tinha aspirações
literárias. Sonhava me imortalizar como poeta hehehe. Não fazia ideia de que
todo esse sonho cairia por terra, bastava me apaixonar por alguma garota. Foram
várias paixões. O malukinho amou e a arte evaporou.
Juvenil, não tinha
qualquer maturidade e noção de que poderia "reencarnar" almas
criativas de outros tempos, que me presenteariam incríveis histórias – e o
caminho para isso eram as leituras de muitos (e bons) livros.
Quando a inspiração
surgia, o espírito (líquido) se desviava dos caminhos criativos ou insights. Com
certeza, não tive um mínimo de "café" para compreender e decifrar
essas histórias e desenvolvê-las no papel.
E hoje?
(B. B. Palermo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário