sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Devaneios do El Cabezón



Graças a Deus, tudo vai brotar e
florir e sorrir.
As plantas vão crescer como bailarinas pré-adolescentes no palco,
em dia de estreia.
Meu pé de cannabis está radiante,
dança e requebra nesse vento leve,
depois da chuva escassa e
tardia e bem-vinda
do início de verão.             
Se não for pra chegar de voadora
nos vitrais dessas igrejas,
eu me demito da arte e do meu emprego fixo
de serviços gerais na prefeitura.
Não me queiram devagar,
dopado pelos tarja preta da vida
que aguardam nas farmácias de esquina.
Não me esperem prestando homenagens à
falange de mortos
expostos nas vitrines funerárias.
Da vida bastam as garotas,
as mais loucas e deliciosas e cretinas.
Já fui expulso do catecismo e
da primeira comunhão,
então não me aguardem com a arma engatilhada
mijando nas pernas das calças,
atiro antes de perguntar.
Tudo bem, sei que é por isso que botei fora em
carreiras os
meus romances.
Não me queiram comum.
É preciso meter o pé na porta e
orquestrar sinfonias
que libertem os medos anais e
mandem pro espaço essa
vidinha vulgar.

(B. B. Palermo)
                                              

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