O casal de garotos bebe em
silêncio na mesa ao lado. Sete da noite, 40 graus e eu acabei de retornar da
padaria, onde almocei uns pasteizinhos e café com leite, expresso.
Sentado naquela mesinha
solitária da padaria eu observava senhoras e crianças e garotas de shortinho na
fila do pão. Óbvio, como a sexta, que me perguntava Quem somos nós na fila do
pão?
Eu pensava outras coisas. Na
Lucy, seus vinte e poucos, aquariana que, segundo os astros, combina com meu
signo. Eu sonhava que ela seria a agente literária perfeita do Cadelão,
prestativa, como ela se autodefine.
Eu pensava outras coisas. Como
seria maravilhoso se eu fosse a reencarnação do Hemingway, se pudesse retomar e
tocar adiante sua obra, e também pudesse ser um escritor reconhecido no planeta
inteiro, e ter inspirações em português e inglês e italiano e espanhol, e ter
um romance roteirizado e transformado em filme.
Eu pensava outras coisas. Em Lucy e seu
papel de mãe, em Hemingway e a inveja que
ele me despertou quando li "O sol também se levanta" e "Adeus às
armas". Porra, quando vou conseguir bolar aqueles diálogos espertos entre os
personagens? Quando vou conseguir descrever cenários e paisagens com a riqueza
de detalhes e a concisão que o FDP conseguiu?
Eu pensava outras coisas. De
que devo ler menos os grandes e mais uns escritorezinhos de merda, uns
pretensiosos que encontro por aí, com certeza isso vai levantar meu astral.
Eu pensava outras coisas. De
que enchi o saco de tanta punheta e sexo casual e que Lucy devia me
compreender, Ela é a garota de minha vida, porque nós dois somos loucos e
aventureiros, no fundo ela adora esse coroa bebum e escroto e sensível e
espirituoso.
(B. B. Palermo)
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