Experimento
hoje um sentimento de solidão e tédio, como quem espera ônibus urbano em dia de
feriado. É o mesmo sentimento que experimentei quando passeava com a namo no
Monza, tinindo, e lavado, e lustrado. Ela mergulhada no chimarrão com sabor de
ervas exóticas, cuia poeticamente enfeitada, e eu gemendo, cheio de tremores
dada a necessidade de umas doses. Ela
falando de móveis e imóveis que estruturariam "nosso" futuro, e eu
roendo as unhas de tanta vontade de saltar fora, pra poder começar tudo de novo
com outra.
Necessito
emigrar de uma relação para outra, nada de ficar mais de um ano, no máximo um
ano e meio. Isso para escapar de suas críticas e lamúrias e os respingos na
minha cara, como saliva de bêbado. Sei que ouvirei e ouvirei, como um sonho que
se repete: "Tu me enrolou, me prendeu... por todo esse tempo. Deixei de
casar com o Ricardão. Ele me amava tanto! Tu faz ideia de quantos caras vinham
atrás? E agora, quem é que eu vou arranjar?".
Enquanto
a garota tinha olhos pro futuro, pro companheiro que saltaria feito um tigre
pra cima do chamado "amor eterno", eu pensava nos livros que
publicaria, nos livros que gostaria de ler, nos contos que desejava escrever...
E, claro, nas gatas que me cercariam e bajulariam quando fosse o escritor cuja fama
me chamasse.
Ela
falava dos mates, do chá de fraldas da amiga, da Black Friday, e eu me distraia
com belos rabos que acariciavam meus olhos nas esquinas por aí.
Quando
o relacionamento, enquadrado nos padrões usuais, começava a desmoronar, eu
sentia uma alegria doente, e notava minha cara-metade com semblante de bunda.
Enquanto sentava no vaso sanitário, minhas ideias claras e distintas me beliscavam
e diziam que ela merecia um traste melhor do que eu.
Quanto
mais ela se afogava no chimarrão e nos sucos detox e chás emagrecedores, eu
mais investia em vodca e cerveja e uísque. Reconheço, com frequencia minha alma
despertava azeda, tudo porque enchia o cu com cerveja ruim.
Toda
vez que ela trazia "nossos" planos na dianteira, como se fosse frase
de para-choque de caminhão, eu tinha a impressão de que ela falava alto, muito
alto, a ponto de todos os meus amigos e conhecidos estremecerem. Os caras eram
testemunhas da fria em que havia me metido. Sabia que com qualquer outro,
desfilando nos sábados e domingos à tardinha com o mate e em carros bem
melhores do que o meu, sua felicidade fluiria naturalmente. Qualquer sujeitinho
com seus papos e músicas bestas a deixaria mais feliz e centrada,
encaminhando-a praquilo que sempre sonhou.
Às
vezes sou humilde, admito que não sou melhor do que esses galãs, ao contrário,
sou um grande bosta, deslocado do que rola no tablado encerrado e lustroso em
que a galera desfila.
Estou
de saco cheio de ouvir de vocês: "Cadelão, tens à mão, deitada ao teu
lado, uma incrível boazuda, tu fode toda
a noite... tu goza e ela goza, e assim empalidecem suas lamentações e
noias... Veja bem, todo esse banquete, por que então a necessidade de correr
atrás de outros rabos?".
E
vocês dirão mais: "Acho que essa necessidade de futricar daqui e dali é o
que vai foder com tua vida. Tu fica salivando ao cruzar por essas piriguetes,
suas vozes e olhares e cheiros e fragrâncias, e assim não desfruta por inteiro o
que está aí bem do teu lado".
Apesar
de tudo, eu juro, sou um bom garoto. Sério, não riem, talvez sejam breves
recaídas de um bêbado que se deixa afetar por um puto lirismo esperançoso, que
se resume em correr atrás de amores impossíveis, como se quisesse ressuscitar o
rock nacional dos anos 90.
Juro,
não passo de um romântico ingênuo perdido no palco. Um pescador amador que se
embrenhou por lagoas e pântanos, mas que esqueceu do repelente de mosquitos, e
por isso o sangue que circula nas veias de suas pernas sofre incrível sucção
dos borrachudos, que são as piriguetes, a cada dia mais ousadas e agressivas.
(B.
B. Palermo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário