Houve um tempo em que
atropelava, como se fosse ambulância no trânsito.
Driblava ordens, espantava de
letra caras feias.
As barreiras eram leves, nada
de pedras no caminho, como no poema de Drummond.
Naquele tempo competições eram
brinquedos, a vida não deprimia se não passasse de ano.
Lembro. Sim.
O dia era mais claro, o frio
mais frio, o quente mais quente. Sabores deixavam uma saudade de lamber os
dedos.
O milagre, como tudo que se
comia e bebia, era mais natural.
Houve um tempo em que a terra
era fixa, o sol era um amigo obediente que não perdia a hora, e pouco se falava
de câncer e tal...
Um tempo em que pedia com
inocência, sem pagar dízimo e culpas, e, se não recebia, a vida continuava, sem
magoar a esta pessoa nem a Deus.
Hoje sinto-me gordo de
informações e verdadezinhas.
Ando com a paciência intoxicada pelo olhar e opinião
dos outros.
Se não forçar o olho, não
passarei de mais uma catraca, mente e corpo controlados.
Ilustrações do site http://rebloggy.com/post/amor-desenho-arte-carinho-liberdade-tracando-catraca-amor-livre/88045577805
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
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