Você
quer falar sobre pássaros. É que você ficou admirado com o voo do pavão.
Você
quer falar sobre carros. Você quer falar de negócios imobiliários. Mas a
conversa se distrai e desliza para a notícia do site, de que nossa correta
cidade viveu mais um suicídio.
Não é notícia
qualquer, como o acidente do carro ou da motocicleta, ou do bandido preso. Mesmo
banalizada, não é a notícia de todo setembro, da Chama Crioula acesa, do
aumento da cesta básica, da ameaça de geada para o nosso lindo e frágil trigo.
Você
quer falar de pássaros. Não do voo, mas sim da troca de plumagem e das lições
que podemos tirar de um recomeço.
Você quer
falar do olhar daquele menino ou da pré-adolescente. Quando você olha com mais
cuidado, além da cor, há alegria, tristeza ou algo indiferente. Não esqueça que
ágeis bailarinas fazem suas performances nas retinas.
Você
quer falar do ciclista que aproveita o início do crepúsculo depois do dia de
trabalho. Da maratona do casal que a cada primavera decide entrar em forma.
Você
pode falar dos pacotes que planeja para o final do ano e o verão.
Mais do
que tudo, fale, fale, para ter mais leveza do que o voo do pavão.
Fale,
fale muito, até pra soltar os nós que te prendem a garganta.
Se, além
de falar, aquilo de que falas fizer eco em teus ouvidos, a ponto de te dar
alguns sustos e a bússola apontar um recomeço, perceberás então que és mais do
que papagaio, superarás a inteligência para viver sentimentos.
Você
pode falar de como foi importante a atenção daquela garota. Se para ela não
custou nada, para você abriram-se clareiras emocionais. Mesmo que tua palavra
te pareceu ridícula, não se dissipou com o vento norte, que anuncia ventanias e
trovões.
Fale,
fale em diferentes lugares, para além dos teatros da vida onde usamos coleira e
estamos amarrados porque dizem que “é assim que deve ser”.
Talvez o
pavão seja lindo não porque possa voar, mas por ter uma bela plumagem. Talvez
ele nos fale com as cores que exibe e não com o seu voo. Precisamos ficar
atentos quando o pavão silencia e decide voar, pois ele pode despencar em
direção ao abismo.
Você
precisa falar. Mas não esqueça de que, em certos dias de ventos fortes, as
pessoas também precisam de teus ouvidos.
(Tiradas
do Teco, o poeta sonhador)
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