quinta-feira, 7 de julho de 2016

Esqueça a tocha, pense no poeta


Depois de algumas taças de vinho barato, versos embalam minha cabeça e acordam deus Baco. 
Igual a vocês, também não me safo. 
Gostaria de ser exibido e bajulado como a Tocha Olímpica. 
Ser motivo de tantos elogios, manchetes e cliques, e circular a cada quatro anos pelas esquinas enfeitadas do planeta. 
Ela jamais voltará ao país, ao menos enquanto estivermos vivos. 
O cometa Halley retorna, mais ou menos,  a cada setenta e cinco anos. 
A Tocha, talvez, demore muito mais. 
Então, curta, vibre, se ela passou perto de você.
Mas é tanto tempo de TV, espaço no jornal, tanta repetição das histórias desse Olimpo, que o poeta prefere se retirar...  
Um ímã existencial atrai meu olhar para mendigos, refugiados, favelas e suas mazelas, órfãos nos abrigos e animais abandonados. 
O poeta não perdeu sua memória, por isso engole as lágrimas durante o show. 
Boa parte da humanidade perambula, cega, muda e surda. A vida esperneia pra se fazer notar. 
Muitos isso poderiam ser aquilo. 
Transforme água em vinho e salve o poeta. 
Faça um milagre. 
Ou peça pra ele se refugiar. 
Nada de flaches e manchetes, fotos e vídeos. 
Deixe-o viver sua arte mais sublime: vomitar.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

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