Um novato foi mandado
podar umas árvores. Como não tinha prática nesse serviço e era muito tapado,
apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Passava por ali o vigário
da freguesia (o padre da paróquia) e o advertiu:
- Olha, amigo, desse
modo vens abaixo!
O moço era, além de
estúpido, teimoso. Sem dar maior atenção ao padre, continuou o trabalho.
O padre prosseguiu o
seu caminho. Vai por um pouco... Zás! Parte-se o galho e vem ao chão
tanto a escada como o podador, que ficou com um dos braços em petição de
miséria.
Quando se recuperou,
ficou admirado com a adivinhação do padre, e pensou consigo mesmo que, se o
padre tinha adivinhado seu tombo, poderia também adivinhar o dia de sua morte.
Foi ao encontro do padre e falou-lhe:
- O senhor disse que
eu ia cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem que eu queria agora que o
senhor adivinhasse o dia da minha morte.
O padre achou aquilo
engraçado e resolveu zombar um pouco dele.
- Olha, bem sei
quando você vai morrer. Será na hora em que, indo de viagem, montado na sua
mula, você a vê soltar três puns seguidos.
O rapaz agradeceu
muito e foi-se.
Todas as vezes que
viajava, tranquilo na ruana, ia muito atento pra ver
quando a mula soltava os tais puns.
Certa feita, ao
chegar a uma volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três
puns...
O novato, que os
havia contado com o coração aos pulos e acreditando na previsão do padre,
julgou chegada a sua hora extrema, atirou-se da sela pro chão e soltou um
grito:
- Morri!
Não se moveu mais,
seguro de que estava morto.
Vai depois, passaram
por ali uns trabalhadores que deram com ele estendido no meio do caminho.
Crendo-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no
dentro dela e o conduziram para sua casa, rezando todo o terço.
Lá muito adiante,
obra de uma légua, havia duas encruzilhadas.
Os homens ficaram
indecisos: qual delas seria o caminho mais curto para chegar ao cemitério?
Começaram a teimar
entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e disse-lhes:
- Olhem, amigos, no
tempo que eu era vivo, o caminho mais curto era à esquerda.
Assombrados, os
homens atiraram a rede ao chão com o defunto e tudo e fugiram em disparada.
Com a queda o rapaz
morreu de verdade.
E a adivinhação do
padre foi acertada: o bicho morreu mesmo!
(do livro Contos populares brasileiros, edições Melhoramentos)
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